MARGARIDA, A MULATA DO BREJO
Dr. Paulo Lima* Ela devida ter sido muito bonita em sua juventude, pois, nos dias de hoje ainda reproduz em suas feições castigadas pelos longos e penosos anos de vida, e também pelo sol inclemente de nosso agreste, resquícios de uma formosura que ficou para trás. Não sei ao certo a sua idade, mas se já não ultrapassou oitenta e tantos anos está bem próximo de alcançar esta proeza. Analfabeta de pai e mãe, como se diz no popular, Margarida só alcançou a condição de cidadã quando, ao completar a idade de sessenta e cinco anos precisou tirar a certidão de nascimento e os documentos de identificação para tentar receber um benefício da previdência social. Diga-se de passagem que só conseguiu tal intento graças a boa vontade do então pároco da cidade de Vertentes, município onde foi batizada, que mandou pesquisar nos livros de registro de batismos, em razão da descoberta e o fornecimento, em papel, dos assentamentos do seu batistério. Somente por isto já merece estas mal traçadas linhas.