Lula produziu foto da frente ampla que faltou em 2018

Quem embarcou na arca do ex-presidente elegeu como prioridade livrar o país do dilúvio bolsonarista

Por Bernardo Mello Franco
O GLOBO

Lula e Alckmin recebem apoio de mais sete ex-candidatos à Presidência 
Ricardo Stuckert/Divulgação

Parecia a arca de Noé. A duas semanas da eleição, bichos de todas as espécies políticas se reuniram em torno de Lula. O encontro juntou oito ex-presidenciáveis, do líder dos sem-teto Guilherme Boulos ao banqueiro Henrique Meirelles.

“Existem momentos na História em que há algo muito forte em jogo”, justificou a ambientalista Marina Silva, que rompeu com o PT em 2009 e concorreu ao Planalto nas últimas três eleições. Ela definiu o voto no ex-presidente como um ato de “legítima defesa” da democracia. “É lamentável termos pessoas assassinadas porque pensam diferente, pessoas atirando nas outras dentro da igreja. Isso não pode prosperar”, afirmou.

“Precisamos evitar de qualquer maneira um segundo turno”, disse o professor Cristovam Buarque, candidato à Presidência em 2006. Ele argumentou que seria uma “tragédia” prolongar a disputa até o fim de outubro: “Serão quatro semanas imprevisíveis do ponto de vista de violência nas ruas, de fake news para todos os lados”.

João Goulart Filho lembrou o exemplo do pai, que superou as divergências com Carlos Lacerda e Juscelino Kubitschek para articular a Frente Ampla contra a ditadura. Os militares sufocaram o movimento, e os três morreram sem assistir à queda do regime.

“O que nós compomos aqui, na verdade, é uma frente antifascista”, definiu a advogada Luciana Genro, candidata pelo PSOL em 2014. “Estamos na iminência de um retrocesso ainda maior se Bolsonaro for reeleito”, alertou a ex-deputada.

A reunião da última segunda-feira produziu algo que o PT tentou e não conseguiu há quatro anos: a foto de uma frente democrática contra o autoritarismo. Alguns presentes teriam razões pessoais para não estar ali. Luciana foi expulsa do PT. Cristovam foi demitido do governo Lula pelo telefone. Marina sofreu com o bombardeio da propaganda petista em 2014, quando tinha chances reais de se eleger.

Os participantes do encontro não tentaram impor suas próprias convicções nem cobraram a adesão a cartilhas econômicas. Ninguém se comprometeu a apoiar todas as medidas de um eventual governo Lula. Quem embarcou na arca elegeu outra prioridade para 2022: livrar o país do dilúvio bolsonarista.

Bola fora

Lula pediu que as emissoras fizessem pools para reduzir o número de debates, mas faltou ao de ontem, promovido por SBT e CNN Brasil. Perdeu pouco, mas deveria ter ido. Por respeito ao eleitor e à democracia.

Tiro no pé

Não há vacina contra a burrice. Flávio Bolsonaro pediu à Justiça que retirasse do ar a reportagem do UOL sobre a evolução patrimonial da família. A ação fez disparar o interesse pelo assunto, que já vinha sendo explorado pelos adversários do capitão.

Além de jogar luz sobre a multiplicação dos imóveis, Flávio minou um dos pilares do discurso de Jair: a acusação de que o PT quer controlar a imprensa. Na campanha de 2022, a censura partiu dos Bolsonaro.

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