Do Direito à Economia, Haddad manteve boas relações com liberais

Nome anunciado para a Fazenda, petista já defendeu tributação progressiva sobre bancos

Por Sérgio Roxo — São Paulo
O GLOBO

Fernando Haddad tem mestrado em Economia 
Yuri Murakami

Formado em Direito, Fernando Haddad, indicado para comandar a economia no terceiro governo Lula, se debruçou sobre os estudos da área ao ingressar no mestrado da USP no fim da década de 1980. O ex-prefeito de São Paulo costuma dizer, porém, que não segue dogmas, seja das escolas ortodoxa ou heterodoxa.


Em 2018, quando disputou a Presidência da República, Haddad liderou a formulação de uma proposta, considerada controversa, de promover uma reforma bancária para baixar os juros.

O programa de governo falava em “adoção de uma tributação progressiva sobre os bancos, com alíquotas reduzidas para os que oferecerem crédito a custo menor e com prazos mais longos”.

À frente da prefeitura de São Paulo, Haddad conseguiu melhorar a situação fiscal do município graças a uma renegociação da dívida da União. O petista ocupou, antes, dois cargos públicos que têm relação com a área econômica.

Entre 2001 e 2003, na gestão Marta Suplicy na capital paulista, foi subsecretário de Finança, pasta que era comandada por João Sayad. Em seguida, foi assessor especial do Ministério do Planejamento, que tinha Guido Mantega como titular.

Haddad teve a incumbência de estruturar a lei de Parcerias Público-Privadas (PPPs). Antes de ocupar cargos públicos, Haddad foi analista de investimento do antigo Unibanco.

Segundo a economista Leda Paulani, professora da USP e amiga de Haddad, o ex-prefeito ingressou no mestrado da área porque queria “entender que diabo era essa economia neoclássica, essa ortodoxia”.

— Por isso que ele resolveu fazer o mestrado em Economia — explica.

Ele chamou a atenção na USP por ter vindo de uma graduação de humanas. Estudando por conta própria, Haddad conseguiu passar na prova da Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia (Anpec).

— Acho que ele foi o único caso de alguém que veio do Direito e conseguiu passar no exame da Anpec — afirma Leda.


Haddad fazia parte de uma turma dominada por liberais, como Samuel Pessoa e Alexandre Schwartsman. Ele mantém boa relação com ambos.

O ex-prefeito também costuma conversar com Persio Arida, outro economista liberal e que fez parte da equipe que formulou o Plano Real. No segundo turno de 2018, ele cogitou a hipótese de levar Arida para a campanha, mas houve resistência do PT.

Para a dissertação do mestrado de Economia, teve como orientador Paul Singer, economista ligado ao PT, e, posteriormente, Eleutério Prado, um marxista.

Sua tese “O debate sobre o caráter socioeconômico do sistema soviético”, defendida em 1990, concluía que a antiga União Soviética praticava uma “versão anti-imperialista de acumulação primitiva de capital”.

— Ele discute as teses que eram mais comuns sobre o modelo soviético. Dá a interpretação dele baseado em alguns autores. Não é exatamente sobre ser um bom modelo econômico bom ou ruim. É uma discussão do modelo soviético à luz do conceito de modo de produção do (Karl) Marx.

No doutorado, o ex-prefeito novamente mudou de área e optou pela filosofia.

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