Dr. Paulo Lima* Vertentes, a minha cidade, a cidade dos meus tempos de criança, era preconceituosa. Tão preconceituosa a ponto de se autoproclamar, por algum tempo, como a cidade dos doutores, vejam vocês! Tudo porque, durante um certo período, alguns dos seus filhos, um pouco mais de meia dúzia, conseguiram diplomas de médico, de advogado e engenheiro, o que na época era uma grande proeza! Era assim a minha cidade, naqueles idos de 1965. Creio que não havia mais que cinco ou seis mil moradores e algumas ruas que os moleques de então percorriam de uma só carreira. Apesar de não haver famílias ricas, as classes sociais eram perfeitamente delineadas entre, pobres, aquelas pessoas, que, aos sábados mal tinham uns trocados para ir à feira livre, e aquelas outras, ricas, que, aquinhoadas pela sorte de ter um pequeno comércio, um emprego público ou mesmo uma propriedade rural, podiam se dar ao luxo de encher um ou dois balaios com frutas, verduras e cereais, que, colocados na cabe