“Bancos lucram à custa da saúde de bancários e ainda escondem doenças”

Juvandia Moreira

por Conceição Lemes

Nos seis primeiros meses de 2014, Itaú-Unibanco, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal – os cinco maiores atuando no País – tiveram lucro líquido de R$ 28,5 bilhões.  Alta de 16,5% em relação ao mesmo período de 2013.

Tamanha lucratividade é à custa das escorchantes tarifas cobradas dos clientes, diminuição de funcionários, metas abusivas para vendas de produtos e da saúde dos mais de 500 mil bancários no País.

Em 2013, segundo estatísticas do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), 18.671 bancários foram afastados do emprego devido a adoecimentos.

Desses afastamentos, 4.589 foram por distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (Dort), mais conhecidos no Brasil como lesões por esforços repetitivos (LER). E 5.042, por transtornos mentais e comportamentais, como ansiedade, depressão, estresse pós-traumático e síndrome do pânico.

bancário tabela 

De acordo com a Previdência Social, 73% dos transtornos mentais e 67% dos Dort/LER  foram afastamentos previdenciários, ou seja, sem relação com a atividade bancária.

Apenas 27% dos transtornos mentais e 33% dos Dort/LER foram considerados acidentes do trabalho.

“Os bancos estão entre as empresas com maior risco de doença ocupacional no Brasil”, denuncia Juvandia Moreira, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região. “Os dados do INSS são apenas a ponta do iceberg da realidade. É grande a subnotificação das doenças do trabalho no setor bancário.”

Em bom português:  o número de bancários acometidos por doenças ligadas à atividade profissional é bem maior do que os dados oficiais.

De um lado, o trabalhador teme perder emprego ou ser prejudicado na carreira. Isso faz com que, frequentemente, só vá ao médico quando já não tem mais condição de trabalhar.

De outro, somente 30% dos afastamentos por doenças típicas do setor bancário são comunicados pelos bancos à Previdência Social, embora a comunicação de acidente de trabalho (CAT) seja obrigatória por lei.E se os bancos não emitem as CATs,  os trabalhadores não têm os direitos garantidos por lei.

“Os bancos subnotificam as doenças para evitar o pagamento do Fator de Acidente Previdenciário (FAP) e a estabilidade do trabalhador”, observa Juvandia.

“O alto índice de afastamentos está relacionado à gestão dos bancos que apostam numa rotina de metas abusivas, extrema pressão para cumpri-las e assédio moral como meio de aumentar sua produtividade”, diagnostica.

Enquete feita este ano pelo setor de saúde do Sindicato fornece mais dados sobre a situação.

Um questionário foi entregue nas agências bancárias e seus departamentos. Também foi disponibilizado na internet. A base tem 142 mil bancários. 10.606 responderam-no. Destes, 17% admitiram usar medicamentos controlados. Leia-se: antidepressivos e ansiolíticos, popularmente conhecidos como tranquilizantes.

bancária - pizza medicação controlada 

A pesquisa também mostrou a preocupação com saúde, condições de trabalho – que repercutem diretamente na saúde e favorecem os adoecimentos – e segurança.

O gráfico abaixo mostra bem isso.

bancários - pizza tabela 2 

Esses números mostram a preocupação da categoria. Tanto que saúde é uma das prioridades da pauta da Campanha Nacional Unificada dos Bancários 2014.

“Tem de mudar a gestão”, afirma Juvandia. “O trabalhador não pode ser submetido a um ritmo alucinante de trabalho. “Também não pode ter medo de que vai ser demitido porque vai se tratar. Postergar o tratamento tende a agravar o problema.”

Isso implica, por exemplo:

*Mais funcionários. Dort/LER  tem a ver com a sobrecarga de trabalho.
*Metas dialogadas, para avaliar se elas são factíveis, em vez de virem de cima para baixo, como acontece.
*Manutenção do vale-alimentação e da Participação nos Lucros e Resultados (PLCR), em caso de afastamento.

Dependendo do afastamento, o trabalhador perde esses benefícios e ainda gasta mais com remédios e outros tratamentos, comprometendo mais a sua situação financeira.

“O bancário não adoece porque quer”, salienta Juvandia. “Ele adoece porque a empresa não zelou adequadamente pelas condições de trabalho. Assim, não tem sentido ele ser punido financeiramente por algo que ele não tem culpa.

Nesta terça-feira 19, a categoria bancária faz a primeira rodada de negociação da Campanha Nacional Unificada 2014. Participam representantes do Comando Nacional dos Bancários e da Federação dos bancos (Fenaban), no hotel Maksoud Plaza, em São Paulo, discutindo os temas saúde e condições de trabalho. A negociação continua nesta quarta-feira 20.

Do Viomundo

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