Investimento estrangeiro no Brasil soma US$ 9,6 bilhões em março, o maior desde 2012

Resultado no trimestre também mostra recuperação em relação ao ano passado, quando houve queda de 13,9%

Por Renan Monteiro — Brasília

Nota de dólar — Foto: Bloomberg

Os investimentos diretos no país (IDP) totalizaram US$ 9,6 bilhões líquidos em março deste ano, o maior patamar para o período desde março de 2012, quando a entrada de dólares nessa categoria foi de US$ 14,9 bilhões. Com isso, o acumulado em investimento estrangeiro no primeiro trimestre foi de US$ 23,3 bilhões, o maior desde 2017. Os dados são do Banco Central do Brasil, divulgados nesta quinta-feira.


Nesta conta é considerada a participação no capital, com a entrada de recursos para a aquisição ou aumento do capital social de empresas residentes, por exemplo. Entram também na contabilidade as chamadas operações intercompanhia, como a concessão de créditos pelas subsidiárias ou filiais no exterior a suas matrizes no Brasil.

O dado veio acima da expectativa de mercado, que estava com a projeção, na média, de US$ 6,9 bilhões para o terceiro mês do ano.

O balanço divulgado pelo BC mostra recuperação em relação ao primeiro ano do novo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De janeiro a dezembro de 2023, a entrada de dólares para investimentos foi de US$ 64,2 bilhões, queda de 13,9% em relação ao acumulado de 2022, que foi de US$ 74,6 bilhões.

A queda no saldo líquido do Investimento Direto no País, no ano passado, é explicada pela redução nos preços das commodities (cotadas em dólar) e também por outros fatores, como o risco fiscal — que impacta na atratividade do país.

— O capital externo não tem preferência por governo A ou B, ele tem preferência por previsibilidade. E quando há alternância de governos, o investidor quer entender qual será a linha econômica do governo — avalia José Cláudio Securato, doutor em economia e presidente da Saint Paul Escola de Negócios.


Desde a crise econômica e política de 2015, o Brasil perdeu o chamado grau de investimento — espécie de selo de bom pagador. Isso atrai recursos de fora, pois os países nessa classificação são percebidos como um porto seguro para o investidor.


Expectativa

Pelo último prognóstico do BC, divulgado em março, o Brasil deve atingir US$ 70 bilhões em investimento direto no fechamento do ano, equivalente a 3% do PIB.

Se confirmado, será um pequeno aumento em relação a 2023, convergindo para patamar equivalente à média histórica em termos percentuais do PIB. Rodolfo Margato, economista da XP sobre setor externo, fala em “surpresa positiva” com o número de março.

— Os dados mensais do IDP, conhecidos por sua alta volatilidade, devem ser analisados com cautela. A diferença entre nossa estimativa (US$ 7,5 bilhões) e o resultado efetivo deveu-se principalmente às transações intercompanhias maiores que o esperado. Esse componente é menos sensível ao ciclo econômico — cita Margato.

O IDP concentra parte do chamado “investimento produtivo”, que são capitais que a ala política do governo Lula defende para atração, em detrimento do "investimento especulativo" (de aplicação na Bolsa).

Os fluxos internacionais de capitais vão para setores como mineração e siderurgia; indústria automobilística e autopeças; energias renováveis; e petróleo e gás natural.

No acumulado em 12 meses até março, o resultado líquido (entradas menos as saídas) do IDP somou US$ 66,5 bilhões No terceiro mês do ano anterior, o acumulado era de US$ 75,2 bilhões.

Matheus Pizzani, economista da CM Capital, analisa que o ambiente doméstico de "maior estabilidade" macroeconômica, frente ao mesmo período de 2023, também é um fator de contribuição para o resultado do trimestre.

— Estabilidade é condição fundamental para despertar o interesse das empresas em investir no país e para as que já estão aqui instaladas aumentarem o volume de recursos destinados à ampliação de suas respectivas capacidades produtivas — menciona.

Entrada e saída de dólares

Além do IDP, o Banco Central mostrou nesta quinta-feira que as transações correntes do Brasil - que medem a entrada e saída geral de dólares - foram deficitárias em US$4,6 bilhões em março de 2024, ante superávit de US$698 milhões em março de 2023.

As transações correntes consideram três dados:
  • A balança comercial de produtos entre o Brasil e outros países, isto é, as exportações e importações;
  • A balança de serviços das contas externas considera, sobretudo, as compras de brasileiros no exterior, incluindo gastos com importações de serviços financeiros, fretes e aluguel de equipamentos e até gastos de turismo. Esse dado normalmente é deficitário, ou seja, os brasileiros importam mais de outros países do que os estrangeiros do Brasil;
  • A renda primária é o terceiro dado e trata das remessas de dinheiro e pagamentos (lucros, juros e dividendos) que as empresas multinacionais, com filial no Brasil, enviam para o exterior. Nesse cálculo, também estão as remessas que empresas brasileiras recebem do exterior.
No mês de março, houve desaceleração nas exportações de bens. O superávit da balança comercial (de bens) ficou em US$5,1 bilhões, ante superávit de US$9,3 bilhões em março de 2023. As exportações caíram 14% na comparação com o mesmo período do ano anterior.

O déficit na conta de serviços totalizou US$3,7 bilhões no terceiro mês do ano, ante US$3,1 bilhões em março de 2023.

Já o saldo negativo da renda primária somou US$6 bilhões em março de 2024, aumento de 6,8% comparativamente ao déficit de US$5,6 bilhões em março de 2023.

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