Edição de Sábado: O Brasil em forma de passarela

 CANAL MEIO

Por David Butter*

Daqui a uma semana, o Carnaval começa de maneira oficial. As escolas de samba que ensaiaram, os blocos que já saíram, as festas que já ocorreram: o que se passou nas últimas semanas tende a ser uma sombra do que vai ser deslanchado nas ruas em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Recife e Olinda a partir do sábado, dia 18 de fevereiro.

Será o primeiro Carnaval “cheio” desde 2020, o último antes da declaração da Covid-19 como pandemia pela Organização Mundial de Saúde. Em 2021, não houve Carnaval. Em 2022, o Carnaval oficial foi deslocado para abril, puxado pelas escolas de samba nos sambódromos do Rio de Janeiro e de São Paulo. Com exceção das festas privadas, de alguns que se aventuraram de clandestinos em fevereiro no Rio de Janeiro e de outros que saíram em grande parte desassistidos pelo poder público em abril, a nota do Carnaval de 2022 foi dada pelas ruas vazias — com destaque para os cancelamentos em Salvador, Recife e Olinda. O Carnaval de 2023 vem inteiro pois será um carnaval com rua e avenida, blocos e grupos, trios e escolas de samba, bailes e cortejos, tudo ao mesmo tempo agora nas metrópoles brasileiras.

O que podemos esperar?

De óbvio, muita gente. A Prefeitura de São Paulo trabalha com a estratosférica marca de 15 milhões de foliões nas ruas. A empresa pública responsável pelo turismo na cidade do Rio de Janeiro, a RioTur, espera, só nos blocos de rua, cinco milhões de foliões, amparados pela babel sanitária de 34 mil banheiros químicos. A Secretaria de Municipal de Cultura e Turismo de Salvador aguarda 800 mil turistas, secos pelos trios e blocos que não saem durante um carnaval há três anos. Em Belo Horizonte, a Belotur projeta 5 milhões nas ruas. De acordo com a Prefeitura do Recife, a folia deve fazer circular 4 milhões de pessoas pelas ruas da capital pernambucana e pelas ladeiras e cantos da vizinha Olinda.

A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima que o Carnaval de 2023 deve movimentar R$ 8,18 bilhões em receitas, ainda 3,3% aquém do volume pré-pandêmico de 2020 (a preços de janeiro de 2023). É o suficiente para sustentar um salto num período-chave para o turismo: em 2021, sem carnaval, foram apenas R$ 4,82 bilhões de volume; em 2022, com um carnaval meia-bomba, R$ 6,45 bilhões. Ainda de acordo com a CNC, o que detém uma recuperação ainda maior no Carnaval de 2023 é a combinação de preços e juros altos, além do comprometimento maior da renda do brasileiro.

Com o retorno em massa dos foliões à rua, devemos esperar também o regresso dos trabalhadores que buscam sustento na informalidade, às margens da festa. Um indício veio em janeiro deste ano da Prefeitura do Rio, ao abrir inscrições para credenciar e treinar 10 mil vendedores ambulantes para atuarem no Carnaval. Segundo reportagem do jornal Extra, foram mais de 38 mil inscritos, que tiveram de ser sorteados.

Para além das cifras, o Carnaval de 2023 será um de muitos “pós”. Será pós-pandêmico, ou melhor ainda, pós-surtos pandêmicos. Em alguns sentidos, tende a apresentar algo do Carnaval de 1919, quando o Rio de Janeiro – à época sede do maior carnaval do Brasil, de longe – viu centenas de milhares de foliões tomarem as ruas menos de quatro meses depois de um devastador surto da Gripe Espanhola. Como será (e como já vem sendo o pré em 2023), 1919 foi um carnaval de testemunhas de uma tragédia sanitária e econômica. Naquele outro carnaval, mais que centenário, grupos carnavalescos cariocas realizaram desfiles pela primeira vez em anos, por conta do esvaziamento das folias anteriores pela chuva, pela crise e pela Grande Guerra (sobretudo em 1918, quando grandes sociedades e ranchos optaram de forma quase unânime pela suspensão do carnaval de rua, em respeito ao conflito). Multidões afluíram às ruas, com foco maior no Centro da cidade — no auge, chegou a estimar à época o jornal A Noite, o equivalente a 40% da população teria se juntado à festa. O número, decerto exagerado, ecoa dois dados de realidade: (1) quem registrou a festa saiu empolgado com o que viu; e (2) as ruas e avenidas por onde passaram grandes sociedades, ranchos e outras agremiações de fato lotaram, como pode ser atestado por imagens.

Aqueles que, em 1919, conseguiram lugar para assistir das calçadas, das sacadas ou mesmo do alto de postes presenciaram, dentre outras reminiscências artísticas da pandemia, a passagem de duas colossais xícaras de chá como alegorias nos desfiles de duas sociedades carnavalescas diferentes — era o “Chá da Meia-Noite”, a bebida lendária que, diziam alguns, abreviava a vida dos pacientes mais graves durante a Gripe. Outra sociedade desfilou estátuas e ilustrações de figuras carecas, para lembrar tanto da queda de cabelo percebida por alguns sobreviventes quanto da caça por tônicos e tratamentos milagrosos para a calvície. A Grande Guerra, encerrada em novembro de 1918, também foi lembrada, em canções, alegorias e fantasias que tinham, no mais das vezes, o abdicante Kaiser Guilherme II, da Alemanha, como alvo de zombaria.

Fora do script público dos grupos carnavalescos, corre em 1919 outra história, de efeito mais duradouro: a transformação dos papeis de gênero, representada nos extremos da “melindrosa” e do “almofadinha”. De um lado, a mulher jovem que arriscava o cabelo e o vestido mais curto, ousava fumar em público e, às vezes, recorria a itens masculinos; do outro, o homem também jovem que se aventurava para além dos tons escuros no guarda-roupa, dispensava barbas e bigodes espessos e dançava com graça. A essas ousadias, ainda restritas a poucas e poucos, correspondiam outras, como o flerte semipúblico e o entoar conjunto, por homens e mulheres, de canções tidas como obscenas. Um senso de descarga de energias represadas pela Grande Guerra e drenadas pela Gripe Espanhola foi capturado nas linhas da cronista Cecília Bandeira de Mello, de pseudônimo Chrysanthème, que mediu a temperatura do Pré-Carnaval em Petrópolis, do então repórter Austregésilo de Athayde, que circulou entre os bailes cariocas e especulou ter visto um fantasma, e de Mário Filho e Nelson Rodrigues, irmãos que, meninos, memorizaram cenas e sons daquele Carnaval para relatar décadas mais tarde. Para Nelson, entre outras imagens, ficou eternizado o umbigo de uma foliã vestida de odalisca.

Ao comparar 2023 com 1919, é curioso perceber como certos debates em torno do Carnaval são persistentes. Um deles: deve o Estado subvencionar os festejos e os grupos carnavalescos? No pós-pandêmico 1919, o jornal A Noite se meteu na polêmica, que mobilizava porta-vozes desgostosos com a incivilidade dos carnavais cariocas:

“Ao governo cabe também uma grande dose de parabéns pelo êxito carnavalesco, pelo auxílio que prestou às sociedades para a confecção dos préstitos. A muita gente causa escândalo esse auxílio. É curioso, porém, que não seja essa gente que se escandalize com as gratificações, negociatas e subvenções escandalosas que todos os dias todos os governos fazem. Se o Carnaval é a festa essencialmente popular, e se o dinheiro do Tesouro é dinheiro do povo, que mal pode haver em que uma migalha desse dinheiro, em geral tão mal gasto, seja queimado para divertimento da população?”

De 2023, como de 1919, é razoável esperar a inovação na forma de novos sons, novas modas e novos grupos. Data de 1919, por exemplo, o primeiro carnaval da história do Cordão da Bola Preta, hoje o maior bloco do Rio de Janeiro.

É natural também esperar o reviver de velhas tradições. A professora e podcaster Gabriella Moreira sairá de baiana em pelo menos 19 escolas de samba do Carnaval do Rio de Janeiro. “Pelo menos”, pois ainda existe a possibilidade de se desfilar em mais duas alas de baianas. O rol de Gabriella neste ano vai da célebre Avenida Marquês de Sapucaí à Avenida Ernani Cardoso, novo destino das escolas do terceiro grupo para baixo. “Ser baiana é algo que a gente vai aprendendo e entendendo a importância desse papel ao longo do tempo”, diz Gabriella, que, logo na estreia, em 2010, foi campeã pela Unidos da Tijuca. Hoje, ela se articula num grupo de WhatsApp com outras baianas, para não deixar nenhuma escola sem a ala. “É a gente usando as tecnologias de agora para melhorar a festa. Não é segredo para ninguém como é escasso o número de baianas nas escolas. Também por isso que desfilo em várias: faltam pessoas dispostas a serem da ala, seja por questões religiosas, de saúde e também pelo tratamento de algumas escolas com as baianas, com fantasias pesadas e sem o mínimo de noção que é uma ala, em geral, de senhoras”, explica.

É um carnaval de reencontro para Aldione Senna, passista Estandarte de Ouro pela Unidos de Vila Isabel em 1998 e 2000, instrutora de passistas espalhadas pelo mundo e hoje madrinha da ala de passistas da Estácio de Sá, aos 67 anos de idade. Durante a pandemia, depois de cinco anos afastada da Sapucaí, Aldione se reaproximou do Carnaval por meio da fundação da Associação dos Passistas do Brasil, anseio antigo do segmento. “Eu nem sei mensurar o que é esse carnaval para mim. Eu espero que seja de superação para todos. O fora-de-época, de 2022, já foi de superação. Mas neste precisamos mostrar que nós somos a folia, nós somos o Carnaval. Eu passei por dois Covids. Num deles, quase morri. Se passei por esses dois, ainda ficarei muito tempo aqui”, celebra.

Não faltará ocasião para muitos se reencontrarem na folia. Em São Paulo, devem sair 511 blocos. No Rio de Janeiro, contam-se 415 blocos que, com o repeteco nas saídas, devem fazer 456 desfiles. Nas duas cidades, houve uma ligeira redução de 2020 para 2023 nos pedidos de inscrição realizados antes do Carnaval: em São Paulo, de 865 blocos interessados em desfilar em 2020 para 663 em 2023; no Rio, de 754 para 613, no mesmo período — níveis mais próximos a 2019. Dois anos de inatividade ou subatividade levaram alguns grupos carnavalescos estabelecidos ao limite, enquanto outros, mais novos, ascenderam para ocupar o vácuo. No cada vez mais agitado Carnaval de Belo Horizonte, os desfiles passarão de 500 em 2023, número semelhante ao de 2020, puxados por 473 grupos carnavalescos — vinte a mais do que três anos atrás. Em Salvador, os sete circuitos oficiais voltarão a ser percorridos pelos trios elétricos, com destaque para a parte da festa que acolhe a “pipoca”, com 80 trios sem cordas. No Recife, o mote oficial da Prefeitura é #VolteiRecife, título do clássico frevo dos anos 1950, em que o compositor Luiz Bandeira exalta o retorno de um folião afastado à festa na capital pernambucana — desta vez, o retorno será coletivo, da multidão: a folia recifense terá 44 polos, com cerca de 2.800 apresentações. Em Olinda, além das orquestras, troças e blocos puxando o frevo, haverá ainda outro ritmo em destaque na programação oficial: o brega, na sua variante pernambucana.

O Carnaval de 2023 será também pós-eleitoral. Será realizado depois não apenas das eleições de 2022, mas da tentativa de golpe da extrema direita em 8 de janeiro e dos primeiros sinais, claros, de mudança de guarda nas políticas para a Cultura (com o Carnaval no horizonte). A atual ministra da Cultura, Margareth Menezes, é também estrela da música e do Carnaval da Bahia. Há algumas semanas, na recepção aos servidores que, com a extinção da pasta da Cultura pelo governo Bolsonaro, estavam alocados no Ministério do Turismo, a ministra fez de um samba-enredo o mote do seu discurso. Aos funcionários reunidos no Bloco B da Esplanada dos Ministérios, Margareth Menezes parafraseou, citou e cantou trechos de “Aquarela Brasileira”, do compositor Silas de Oliveira. O samba, que o Império Serrano desfilou em 1964 e, de novo, em 2004, canta a beleza e a diversidade do Brasil: “Vejam esta maravilha de cenário / É um episódio relicário / Que o artista, num sonho genial / Escolheu para este carnaval / E o asfalto, como passarela / Será a tela... do Brasil em forma de aquarela”. No Carnaval de 2023, a ministra será homenageada no Carnaval de Salvador, do Recife e do Rio de Janeiro, onde se espera que desfile pela Mangueira, no Domingo de Carnaval, no enredo “As Áfricas que a Bahia canta”. Na gravação oficial do samba mangueirense, realizada no ano passado, a hoje ministra já fizera uma participação.

As escolas de samba estão também no horizonte do casal presidencial. Ainda durante a pré-campanha, em julho de 2022, Luiz Inácio Lula da Silva destacou a uma plateia do mundo do samba e da folia reunida no Rio de Janeiro, a importância de trazer o Carnaval “para o orçamento do Estado”. Já em fevereiro deste ano, a esposa do presidente, a primeira-dama Janja Lula da Silva, aceitou o convite da Imperatriz Leopoldinense para ser madrinha da Velha Guarda da escola.

O contraste com as correntes de opinião e de ação política que sustentavam o governo anterior não poderia ser mais gritante. No vocabulário de luta dos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, a “classe artística” figura como uma inimiga a ser desnudada, desassistida e combatida; a “Lei Rouanet”, como uma bolsa-vagabundo; e o “Carnaval”, como a antítese de um Brasil próspero, íntegro e trabalhador, quando não um repositório de doenças físicas e espirituais. Durante o auge da pandemia, redes de apoiadores do ex-presidente fizeram circular um meme que associava a Covid-19 à punição divina por blasfêmias cometidas durante os carnavais anteriores. Não nos espantemos se a ideia sofrer uma reciclagem às margens do Carnaval de 2023, pois, no Brasil, o ódio ao Carnaval passa pela vigilância e pela volúpia de quem odeia.

Para o doutor em História Comparada pela UFRJ Gabriel Trigueiro, a chave para a demonização do Carnaval no Brasil no contexto das guerras culturais é a raça. “Mesmo com a ascensão de supremacistas brancos no cenário político atual, ainda há um custo social grande em ser um racista aberto. Daí, bater no Carnaval é um dog whistle [no literal, um apito-de-cachorro; no figurado, uma mensagem de ódio cifrada] bem efetivo, pelo peso da contribuição e da ancestralidade africana em tudo que envolve a festa”, afirma Trigueiro. “As nossas elites até se apropriam do Carnaval do jeito que dá, com áreas VIPs e camarotes, mas retiram a fórceps qualquer elemento de ancestralidade e raça do negócio. Vira um símbolo nacional sanitizado e branco.”

Com suas contradições longe de serem sanadas, o Carnaval deste ano será de cidades em transição. Testará as administrações municipais que assumiram em 2021 e não presidiram até agora um evento capaz de mobilizar uma capital inteira — em contraste com o Réveillon (mais localizado) e com a Copa do Mundo (que, como fonte de ajuntamento, flopou). Colocará também à prova as áreas centrais das grandes cidades, por onde passa muito do carnaval de rua. Essas regiões foram algumas das mais atingidas durante a pandemia, pelo mix de retração da atividade econômica, fechamento de escritórios e difusão do trabalho remoto. Em Salvador, uma das chaves para a ação do poder público este ano é espalhar e rejuvenescer o carnaval pelo Centro. Em São Paulo, o Centro, que teve o processo de esvaziamento e abandono acirrado nos últimos três anos, terá neste Carnaval 121 desfiles de grupos carnavalescos. No Rio de Janeiro, é pelo Centro, já combalido desde antes da pandemia, que passarão megablocos como o Cordão da Bola Preta, o Bloco da Anitta e o Monobloco.

No caso carioca, há um fator adicional que, apesar da degradação, fornece motivos de otimismo para além do Carnaval: depois do avanço da vacinação, do passar-longe do pior da pandemia e da retomada das atividades presenciais, o Centro e a Região Portuária voltaram a ser cenas de algumas das melhores rodas de samba da cidade. Uma delas é o “Samba da Volta”, que começou com um grupo de amigos na Rua do Ouvidor em meados de 2021, ficou grande demais para o endereço e hoje está na Rua da Constituição. “Foi ganhando outra proporção, e a gente passou a chamar de ‘Samba da Volta’, a volta de a gente poder se ver, de poder se encontrar na rua e fortalecer as amizades”, diz o músico Eryck Quirino, um dos pioneiros da roda. Quirino, que também é ritmista da Grande Rio, adiciona: “O pior de tudo já passou. Eu vejo o Carnaval de 2023 como o carnaval do recomeço, de uma reconstrução que não é triste, e sim no âmbito da felicidade. Que tudo passe de forma tranquila, segura, e vamos nós para o Carnaval da Felicidade.”

Guardemos a data: dia 18 de fevereiro de 2023. Será o sábado que, salvo em caso de dilúvio, as massas começarão a tomar as ruas das grandes capitais do Carnaval. Será também o dia do aniversário da morte de Nelson Cavaquinho. O genial compositor do samba carioca, mangueirense, autor de canções capazes de conjugar como ninguém o sublime e o sombrio, morreu em 1986, aos 74 anos. Foi testemunha da passagem da Gripe Espanhola pelo Rio de Janeiro entre outubro e novembro de 1918, tendo guardado consigo na memória a visão dos caminhões e das carroças abarrotadas de corpos passando pela capital do Brasil. Foi o autor de sambas como Vou partir, ao lado de Jair do Cavaquinho:

"Vou partir, não sei se voltarei
Tu não me queiras mal
Hoje é carnaval
Partirei para bem longe
Não precisas te preocupar
Só voltarei pra casa
Depois que o carnaval acabar, acabar"

Para quem gosta de Carnaval, a impressão é que quem voltará para casa por estes dias será o próprio Brasil.

*David Butter é jornalista e produtor. É autor de “De sonho e desgraça: o carnaval carioca de 1919” (Mórula Editorial)

O PRIMEIRO CARNAVAL CARIOCA

Por Pedro Doria

O carnaval carioca nasceu em março — um março bem distante, no ano de 1641. A festa abriu com o governador da cidade marchando a cavalo, seguido de 116 cavaleiros vestindo camisas cheias de enfeites e, então, dois carros alegóricos ornados como nunca havia se visto antes por ali e, em cima deles, bandas de música. Para aquele governador, a decisão de dar a festa foi quase uma de vida ou morte. Dela dependeu sua fortuna, seu destino político, e talvez até o futuro daquela jovem cidade.

Salvador Corrêa de Sá e Benevides era o quarto Sá a governar o Rio de Janeiro desde a fundação. Primeiro fora Estácio, então o primo Salvador, o velho, depois o filho deste, Martim, e, por fim, Salvador, o moço. Neto do primeiro de seu nome. Muito havia mudado por ali desde a vitória sobre os franceses que levou à fundação da cidade. Principalmente, a partir de 1580, Portugal deixou de mandar na terra brasileira. A metrópole virou mera província do Império Espanhol, e assim as elites se reorganizaram. Salvador não era de Sá e Benevides, como aparece nos livros de história. Era de Sá y Benavides, com o nome da mãe espanhola aparecendo no final à moda madrilena. Ele próprio, além de filho da nobreza espanhola era, também, casado com uma filha do governador de um bom naco da Argentina. Havia sido nomeado pelo rei espanhol comandante do Rio da Prata. A herança, as relações políticas, toda a vida do governador carioca estava entrelaçada com o comando do império, em Madri. E o rei, Felipe III, o tinha na mais alta conta. Nada tinha como dar errado.

Até o dia da missa.

Era fevereiro, naquele 1641, e Salvador estava na Igreja da Matriz, no alto do Morro do Castelo, quando um mensageiro esbaforido chegou com uma carta. Após sessenta anos de cativeiro, dizia o texto, Portugal havia sido libertada. O sexto duque de Bragança agora era dom João IV. Uma nova dinastia começava e o rei português cobrava, do governador carioca, sua lealdade.

Uma viagem entre Rio e Lisboa poderia durar até três ou quatro meses, no século 17. A notícia de que Portugal voltara a ser independente, portanto, poderia estar errada. Tentaram uma revolução, mandaram cartas, quem poderia afirmar que enquanto chegavam ao Rio não teria havido já uma contrarrevolução? E, no entanto, se não reconhecesse o rei imediatamente, dados seus muitos laços com a nobreza espanhola, como encarariam Salvador? Ele tinha um problema político nas mãos. Precisava tomar uma decisão sem todas as informações.

O governador Salvador Corrêa de Sá y Benavides seguiu três passos. Primeiro trancou-se a portas fechadas com o prior do Mosteiro de São Bento, e dele ouviu palavras de cautela. Aí, no Colégio dos Jesuítas — hoje Colégio Santo Inácio —, ouviu o que pensava o reitor. Nos sessenta anos anteriores, os jesuítas de Portugal e do Brasil haviam cultivado dedicadamente a memória do rei dom Sebastião, desaparecido jovem na Costa do Marrocos. Eles em grande parte fizeram do último rei português uma figura messiânica. E, assim, mantiveram vivo também algum espírito de sentimento português. Os jesuítas não tinham dúvida de que caminho seguir — e Salvador, assim como o pai, como o avô e como Estácio tinha uma dedicação ímpar aos irmãos da Sociedade de Jesus. Eram, sempre, seus principais conselheiros. Tendo ouvido os dois, o governador requereu então uma sala no Colégio e ouviu em separado, sempre em conversas um a um, cada um dos vereadores e dos outros homens de poder da cidade. Queria ouvir suas opiniões sem o risco de que houvesse contágio.

Aí saiu e ordenou que se mandassem cartas a Lisboa de “viva o Rei” e encomendou a festa que tinha de ser a maior festa jamais vista no Rio de Janeiro. Se era para fazer uma aposta, jogaria com tudo. Não faltaria vinho ou cachaça, todas as casas deveriam ter tochas ou velas em todas as janelas para que a noite se iluminasse, e jogos precisariam acontecer. Ele próprio, Salvador, doou os bois para as corridas. Jogos de argola para cavaleiros montados foram organizados. Mas o principal, o mais importante, foi mesmo a encamisada. O desfile de todos com camisas enfeitadas e aqueles formidáveis carros alegóricos cheios de música.

Dom João IV adorou as notícias que recebeu.

Um de seus primeiros atos foi dar à cidade um título de nobreza — Muy leal y Heróica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. A partir dali, os cidadãos cariocas teriam os mesmos direitos que os cidadãos do Porto, incluindo aquele de portar espadas enquanto caminhavam pelas ruas. Afinal, nenhuma outra província do Império celebrou com tanto afinco a independência portuguesa.

Título de nobreza, o Rio não tem mais. Carnaval, desde aquele março em 1641, a gente ainda celebra todo ano.

MISTERIOSAMENTE, O AFOXÉ SOBREVIVE

Por Luciana Lima

O Bar do João fica de frente para o Dique do Tororó, único manancial natural de Salvador, onde pousam os orixás do artista plástico Tatti. As estátuas de sete metros representam Oxalá, Iemanjá, Oxum, Ogum, Oxóssi, Xangô, Nanã e Iansã. Outras quatro, menores, circundam a calçada, representando Oxumaré, Ossain, Logun-Edé e Ewá. Ao lado do bar, sobe-se a escadaria da Ladeira de Nanã. É um dos acessos ao Engenho Velho de Brotas, bairro com quase 26 mil habitantes, onde 84,71% das pessoas se declararam pardas ou negras no censo realizado em 2010. Naquele 8 de outubro de 2018, a proteção dos orixás não salvou a vida de Romualdo Rosário da Costa, 63 anos, o Mestre Moa do Katendê.

Quem é do afoxé sabe que o endereço é sagrado. Nanã é a orixá dos mangues e do pântano. É dela a chave dos portais da encarnação, desencarnação e reencarnação, a “dona da morte” ou a “dona da vida”, considerando os planos da existência da fé espírita. O afoxé Badauê nasceu ali, inventado pelo Mestre Moa e seu grupo de amigos. Compositor, percussionista, artesão, um dos maiores na capoeira de Angola, seu nome está marcado no grafite colorido no muro que ladeia os degraus de concreto: “Moa vive”. Foram 12 facadas de intolerância política que levaram a sua vida, logo após a votação do primeiro turno em 2018, do qual saíram Jair Bolsonaro e Fernando Haddad para a disputa da segunda fase. Moa foi morto por defender Haddad. O autor do crime era bolsonarista. Mas um pouco de Moa havia morrido antes. Era o “mistério” de seu afoxé que surgiu em 1979 e desfilou, pela última vez, em 1992. A explosão do Badauê havia sido foi tão brilhante que deixou marcas na música brasileira. Sua música foi parar no álbum Cinema Transcendental, lançado por Caetano Veloso em 1979. A letra era simples: “Misteriosamente, o Badauê surgiu. Sua expressão cultural o povo aplaudiu”, repetia. Na época, Caetano pediu ajuda ao amigo Antônio Risério, antropólogo e autor do livro Carnaval Ijexá, para localizar o anônimo autor da música que embalou o carnaval, pegar nome, endereço e CPF, dar os devidos créditos e mandar depositar os direitos autorais.

O carnaval da Bahia devia muito a Mestre Moa. O “moço lindo do Badaduê”, cantado por Caetano na canção Beleza Pura, também devia sua fama a ele. A canção faz referência ao dançarino Negrizu, que se apresentava no bloco e se orgulhava: “O vento me fazia compor o movimento", diz. Ele ainda se define como “filho do Badauê”. “É o que sou hoje”, diz, em entrevista à TVE da Bahia. O bloco também inspirou Clara Nunes na canção Ijexá, de Edil Macedo e Paulo César Pinheiro. Moraes Moreira cantou o bloco em Eu sou o Carnaval. “Toda cidade vai navegar no mar azul Badauê”, diz o refrão.

O Badauê foi um cometa, que bebeu e lançou luz às raízes da cultura negra da Bahia. Bebeu do Ilê Ayiê, ao mesmo tempo que abrilhantou seus festivais. Bebeu do Filhos do Congo, ao mesmo tempo que dividiu os olhares com um dos afoxés mais tradicionais da Bahia. Bebeu dos Filhos de Gandhy e muito do seu surgimento se deu na onda do “tapete branco” que flutuava, em 1972, pelas ruas de Salvador com o prestígio de ter a música Filhos de Gandhi, composta por Gilberto Gil.

Cadê a fantasia?

Hoje, a despeito da dificuldade de autofinanciamento de alguns afoxés, o carnaval da Bahia ainda deve muito a eles. A indústria do carnaval que desfila do Farol da Barra até Ondina atrai tudo: artistas, grandes empresas, verbas públicas, marcas de cerveja, bancos públicos e privados, mídia
e redes sociais. Um universo que não se vê presente na mesma proporção, salvo raras exceções, nas manifestações mais originais de resistência negra na cidade. “Existem cerca de 30 afoxés hoje em Salvador. Nesse carnaval, devem sair em torno de uns 10 ou 11”, disse Ednaldo Santana Santos, o Nadinho do Congo, que lidera a 3ª geração do afoxé mais antigo da Bahia, o Filhos do Congo.

Quando recebeu a ligação do Meio, o doutor Nadinho do Congo, advogado, professor, negro de pele retinta, ainda estava às voltas com a tarefa de conseguir dinheiro para pagar o carnaval deste ano. “Afoxé não é só Filhos de Gandhy, não”, avisou, deixando transparecer a rivalidade com o primo rico, grande e famoso, que figura no livro dos recordes como maior bloco do mundo. Neste ano, o Filhos do Congo foi habilitado para receber R$ 200 mil no edital Carnaval Ouro Negro, programa da Secretaria de Cultura do estado que ajuda no financiamento dos blocos carnavalescos. Das 62 agremiações habilitadas para receber recursos do fundo, estão somente 11 afoxés. Os demais são blocos afros, grupos de samba e de reggae. “Muitos afoxés não conseguiram entregar suas certidões negativas de dívidas de impostos”, contou. “O dinheiro ainda não saiu. Aqui em Salvador a gente tem uma cultura de atraso nesse processo que me deixa irritado”, reclamou, a menos de 10 dias para o desfile. “A gente precisa de uma certa forma ter os valores antes para agilizar a compra de pano, material. A cultura é forte, mas a comunidade é pobre e não tem como comprar as fantasias. Temos que doar.”

A formação atual dos Filhos do Congo surgiu em 1979, resgatando a expressão mais antiga do Congos d’África, afoxé criado no início da década de 1920. A primeira geração era liderada pelo Velho Rodrigo nas imediações do Dique do Tororó, que comandava um terreiro próximo ao dique dedicado a Omolu. No final da década de 1940 passou a se chamar Filhos do Congo e, liderado pelos descendentes do Velho Rodrigo, desfilou por alguns anos, até ter sua trajetória interrompida por falta de recursos. Mesmo o Gandhy, considerado mais rico, enfrentou dificuldades financeiras que levou o afoxé a fechar suas portas entre 1974 e 1976.

Apesar dos percalços, alguns afoxés estão sendo criados na cena cultural baiana e com incentivo dos mais antigos. São exemplos disso o Dança Bahia, o Laroyê Arriba (formado só de mulheres) e o Kambalaguanse, grupos que receberam, por meio da Lei Aldir Blanc e por uma ação do Filhos do Congo, equipamentos como câmeras e tripés para registro documental de seus desfiles.

Atabaques, xequerês e agogôs

Mas qual a diferença entre o afoxé e um bloco afro? A principal é a ligação com o candomblé. Todo afoxé está ligado a uma Casa de Axé, que
determina toda orientação. Muitos se referem ao afoxé como “candomblé de rua” e outros recorrem à etimologia para explicar seu significado. “Afo” se traduz em “assoprar palavras” e “axé” é energia. É o espalhar da energia dos terreiros. “É o sopro que anuncia a alvorada”, poetiza Nadinho. A batida é necessariamente o Ijexá, ritmo que aportou na Bahia, trazido pelos negros do sudoeste da Nigéria escravizados, no final do século XVII até a metade do século XIX. “O afoxé é uma forma de manter os atabaques, os xequerês e os agogôs vivos. São os instrumentos do candomblé e que a gente leva para o asfalto.”

Conservador dos costumes do candomblé, ele ainda busca se justificar sobre a introdução de outros instrumentos musicais na festa. “Levamos uma banda harmônica, mas trabalhando com o Ijexá. Até na África muita coisa já mudou”. Mas a ousadia tem limite: o Filhos do Congo não leva às ruas os pontos do terreiro e não aceita que cerimônias de abertura sejam feitas no asfalto. “Eu não posso fazer um padê (cerimônia para Exu) na rua, nem levar o canto de entidade. Se bobear vai ter gente caindo (incorporada). Eu faço dentro de casa, descarrego e peço aos guias para tomar conta do nosso povo que vai brincar na rua”, contou sobre a íntima ligação do afoxé com a religião. “Um afoxé não é uma mercadoria de trio.”

A MÃE DO CARNAVAL PAULISTANO É UMA MULHER NEGRA

Por Giullia Chechia

Antes de se tornar dona de uma pensão nos Campos Elísios, trabalhou como empregada doméstica para os Penteado, tradicional família da elite paulista. Filha da última geração do sistema escravocrata, ainda em meados dos anos 1920, acompanhou os patrões em uma viagem a Londres e, na terra da Rainha, deu de cara com seu destino. Após conhecer o movimento operário latente na Europa, Dona Augusta Geralda voltou ao Brasil e fundou o sindicato das empregadas domésticas. A casa situada no bairro da Liberdade, em São Paulo, virou ponto de encontro de mulheres pretas trabalhadoras, espaço de mobilização política e cultural — entre os saraus que viravam a noite e o choro da viola, sua história se entrelaçou à do samba paulistano. Dos encontros, nascia o embrião da Escola de Samba Paulistano da Glória.

Em meio ao batuque, criou seu filho, Geraldinho. Mãe incansável, inconformada e festeira de nascença. Todos os anos, organizava caravanas para as festas do Bom Jesus de Pirapora, na Grande São Paulo. Certa vez, mais que aproveitar a festa, a mulher precisava acertar as contas com o Divino. Fez promessa que, se curado de uma doença, vestiria seu menino de anjo e o levaria à procissão. E assim o fez — ou tentou. Ao chegar no cortejo, em 1931, o garoto de quatro anos foi impedido de desfilar por ser preto. Catando o filho, então, se dirigiu a um barracão, onde ele poderia viver a fantasia. Geraldinho levou a sério, e viveu da fantasia. Cresceu Geraldo Filme, sambista e baluarte do ritmo na capital. Fez do episódio em que não pôde ser anjo, música.

Em 1946, Geraldo viu o sindicato tomar forma de cordão carnavalesco. Anos depois, quando os desfiles de cordões foram extintos, a agremiação resistiu e incorporou, de vez por todas, o título de Escola de Samba, em 1972. Na casa, Dona Geralda acolheu muitos dos grandes compositores paulistanos, como Seu Nenê, Adoniran, Vanzolini... Não à toa, a escola foi apelidada de “oficina do samba”, onde o ritmo, envolto por enredos ligados à negritude paulistana, fincou raiz. A Paulistano da Glória encerrou suas atividades em 1985.

A poucos metros, na mesma Liberdade, a raiz se aprofundava com o trabalho de outra mulher preta. Essa jamais foi mãe. Era madrinha. Batizando mais de quarenta crianças ao longo da vida, não tinha jeito, Deolinda Madre virou Madrinha Eunice. Também filha de escravos alforriados, nasceu em 1909 em Piracicaba, no interior paulista, mas ainda menina mudou-se para a capital e se firmou no bairro que moraria até a morte. Aos vinte e poucos anos, numa festa na mesma Bom Jesus do Pirapora, conheceu Francisco Papa, o Chico Pinga, com quem se casou.

Numa viagem ao Rio de Janeiro, em 1936, o casal descobriu o carnaval da Praça Onze. Foi paixão à primeira vista. A mulher voltou determinada a trazer aquela festa para a terra da garoa. Assim, em 1937, fundou a Lavapés Pirata Negro, a mais antiga escola de samba paulista ainda em funcionamento. Em seu primeiro desfile, passou amarela e preta. No ano seguinte, no entanto, a mulher oficializou as cores da escola — as mesmas até hoje: vermelho e branco. Religiosa que só, adepta da Quimbanda, a escolha foi homenagem ao patrono da escola, Exu Veludo. Estampada na bandeira da Lavapés está uma baiana, referência às grandes matriarcas do samba.

Com o passar das décadas, muita coisa mudou. A mulher decidiu se separar de Chico Pinga quando este a pediu para escolher entre ele e a Lavapés. No coração, a batucada ecoou mais alto. Vários sambistas passaram e apreenderam a tradição nas quadras daquela escola, entre eles, Seo Carlão do Peruche, fundador da Unidos do Peruche. Até mesmo o apelido de Madrinha mudou. Com os cabelos brancos, virou a “vovó do samba”. O que não mudou foi sua entrega ao carnaval. Presidiu a escola até o último de seus dias, quando, aos 87 anos, viu a batucada silenciar.

O nascedouro do Carnaval paulistano entrelaça uma história de resistência proletária; outra, das religiões de matriz africana; ambas de mulheres negras. Nem as tentativas de branqueamento dessa origem, para se apagar um passado escravagista e emplacar uma ideia de cidade moderna, com imigrantes europeus, enfraqueceram essa aurora tão potente.

‘TÚMULO DO SAMBA’ CHEIO DE VIDA NA VOZ DE BETH CARVALHO

Por Leonardo Pimentel

Beth

Se o carioca Vinícius de Moraes classificou São Paulo como “túmulo do samba” (mas depois se desculpou), coube a outra personalidade do Rio de Janeiro, Beth Carvalho, reparar de fato a injustiça. Em dezembro de 1991 ela se apresentou no Sesc Pompeia em um show dedicado integralmente ao samba da terra da garoa. Para entrar no repertório, apenas duas condições: ter ao menos um autor paulista e ser uma canção de alta qualidade. O resultado foi o CD Beth Carvalho Canta o Samba de São Paulo (Spotify e YouTube), lançado pela Velas em 1993.

Além de obras dos ótimos, mas costumeiros Adoniran Barbosa e Paulo Vanzolini, estão joias como Dia Seguinte, de Carlinhos Vergueiro e J. Petrolino, e Velho Ateu, de Eduardo Gudin e Roberto Riberti, e até sambas raramente associados a São Paulo. São os casos de Feitio de Oração, de Noel Rosa e do paulistano Vadico — a letra sofreu uma ligeira alteração em homenagem à cidade —, e Regra Três, do também paulistano Toquinho e, imaginem só, Vinícius. São 24 faixas para provar, que, como diz a canção de Mário Sérgio, Carica e Luizinho, o samba é Mania da Gente nas duas pontas da Via Dutra.

Nem só de Carnaval vive o país (infelizmente). Aqui estão os assuntos que mobilizaram os leitores nos mais clicados da semana:

1. YouTube: Ponto de Partida — Afinal, o que Lula quer?

2. Poder360: Um repórter registra ao vivo o segundo tremor na Turquia.

3. YouTube: Ponto de Partida — O Exército no genocídio ianomâmi.

4. Metrópoles: Das carpas ao Caixa 2, o que se passava no Alvorada com os Bolsonaro.

5. O Globo: A genialidade de Burt Bacharach em nove canções.

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