Boulos está certo, Lula errou: esquerda precisa de projeto para o país


Boulos (atrás de Haddad e Lula) diz que não é hora de lançar nomes
 após PT falar de candidatura presidencial
Imagem: Eduardo Knapp - 9.nov.2019/Folhapress

Mais jovem liderança de esquerda do país, Guilherme Boulos, do PSOL, está tendo o juízo que falta aos mais velhos no momento de discutir 2022.

Lula se precipitou esta semana ao lançar do nada o nome de Fernando Haddad para se candidatar novamente a presidente pelo PT, sem ouvir os outros partidos, nem mesmo o dele.

Boulos tem toda razão ao responder a Lula no Twitter:

"Defendo que a esquerda busque unidade para enfrentar Bolsonaro. Para isso, antes de lançar nomes, devemos discutir projeto".

Foi exatamente isso que faltou em 2018: unidade e projeto.

Se a esquerda repetir o mesmo erro, vai alcançar o mesmo resultado, e Bolsonaro vai dar um passeio.

Enquanto Ciro e Lula continuam se estranhando, com velhas birras, Boulos e Flávio Dino, governador do Maranhão, mostram lucidez e maturidade. Eles não querem impor suas possíveis candidaturas.

"O nome do candidato à Presidência deve ser o ponto de chegada, e não o ponto de partida", defendeu Boulos, em declaração a Mônica Bergamo. E explicou sua posição:

"Todos os partidos têm o direito de lançar candidato. Mas, com Jair Bolsonaro governando o Brasil, é preciso buscar unidade. E unidade precisa começar pela confluência de projeto, e não jogando vários nomes na sala. Se isso for feito, a pulverização fica estabelecida".

A proposta de Boulos é igual à de Flávio Dino: construir uma mesa em que a esquerda possa debater e chegar a pontos comuns, com a participação efetiva da sociedade civil. E só depois discutir nomes.

Não adianta nada Lula e Haddad voltarem a viajar pelo país, sem ter novas berinjelas para oferecer à freguesia, sem explicar por que e para que o PT quer voltar ao poder.

Isolado, o PT terá grandes chances de perder de novo, como aconteceu nas últimas eleições, quando lançou uma chapa puro-sangue em São Paulo, que teve 8,7% dos votos, e não foi nem para o segundo turno.

Diante do fracasso de uma frente ampla da esquerda com centro-direita inventada por Rodrigo Maia em torno da candidatura de Baleia Rossi, do MDB, na eleição para a presidência da Câmara, só resta à esquerda se unir na construção de um projeto para o país, com começo, meio e fim, que se contraponha ao desastre ferroviário da extrema-direita bolsonarista.

A chamada direita democrática ficou de novo sem candidato, como em 2018, com a implosão do DEM, PSDB e MDB, a ponto de voltar a falar em Luciano Huck.

Nem dá para situar esses três partidos na oposição a Bolsonaro porque já estão costeando o alambrado do governo, como diria o velho Leonel Brizola, que faria 99 anos esta semana.

Até Fernando Haddad parecia pego de surpresa, tão perdido ele na estava na entrevista ao vivo para a CNN, em que não conseguia ouvir direito as entrevistadoras e não respondia às perguntas, repetindo o mesmo discurso enrolado da eleição passada.

Lula colocou o carro na frente dos bois e deixou Haddad na chuva, sem programa e sem equipe, para encarar uma nova campanha presidencial.

É melhor chamar os outros partidos de esquerda, zerar o jogo, e começar tudo de novo, aceitando o fato de que o candidato não precisa ser, necessariamente, do PT.

Guilherme Boulos e Flávio Dino são nomes novos que precisam ser ouvidos.

A história caminha pra frente, com os olhos no futuro, o passado não elege ninguém.

Vida que segue..

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Ricardo Kotscho*
Colunista do UOL

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