Filhos de Bolsonaro intensificam críticas a aliados após gestos do centrão por Tarcísio candidato
Aliados minimizam queixas públicas e dizem que o ex-presidente não corrobora os ataques

Jair Bolsonaro ao discursar em ato pró-intervenção militar em abril de 2020, em frente a quartel do Exército -
Folha de São Paulo
Brasília- Filhos de Jair Bolsonaro (PL) adotaram um tom mais radical e intensificaram críticas nos últimos dias a aliados, sem nomeá-los, após integrantes do centrão fazerem gestos públicos pela candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Para parlamentares e dirigentes de centro e direita, a reação é uma tentativa de manter no clã o espólio eleitoral do pai. Além disso, avaliam que é uma forma de eles manterem a relevância eleitoral deles próprios, uma vez que serão candidatos no ano que vem.
O vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) atribuem a movimentação em prol de Tarcísio ao "sistema" e criticam o que veem como oportunismo às vésperas do julgamento da trama golpista no STF (Supremo Tribunal Federal), que pode condenar Bolsonaro a mais de 40 anos de cadeia.
"O problema é a completa falta de humanidade diante do que está ocorrendo com quem os possibilitou alçar voos, numa imposta situação vexatória junto de outros milhares e milhões de brasileiros, enquanto fingem normalidade exatamente no momento em que o STF prepara o maior teatro já visto na história do Brasil", escreveu Carlos nas redes sociais.
Já Eduardo se queixou de pessoas que falam em substituir seu pai na corrida eleitoral e "essas mesmas pessoas ainda dizem que é para o bem de Bolsonaro".
"Se houver necessidade de substituir JB, isso não será feito pela força nem com base em chantagem. Acho que já deixei claro que não me submeto a chantagens. Qualquer decisão política será tomada por nós. Não adianta vir com o papo de "única salvação", porque não iremos nos submeter. Não há ganho estratégico em fazer esse anúncio agora, a poucos dias do seu injusto julgamento", disse ainda.
Eduardo está nos Estados Unidos, onde atua por sanções contra autoridades brasileiras junto ao governo de Donald Trump, mas quer ser cotado para sucessor do pai na Presidência —mesmo que não tenha previsão de voltar ao Brasil.
Ele se queixou de não ter sido considerado na última pesquisa do Instituto Paraná Pesquisa, divulgada no fim de semana com três cenários: as candidaturas de Tarcísio, da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e do próprio ex-presidente.
Segundo integrantes do PL, seu nome já não era testado antes, mas a crítica pública foi vista como uma indireta para o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, sobre quem tem se queixado há meses. PL e PP são costumeiros clientes do instituto.
A ausência na pesquisa também entrou no radar do vereador de Balneário Camboriú (SC) Jair Renan (PL), que chamou o irmão de "opção natural da direita". "Por que será que o sistema tenta escondê-lo?", questionou.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), por sua vez, tem adotado uma postura mais discreta. Publicamente, não critica movimentações de eventuais sucessores nem iniciativas de costuras políticas nesse sentido.
A interlocutores, ele disse que não vai criticar Tarcísio, que é considerado um importante quadro do grupo político. Dos filhos, o senador é o único que mora em Brasília e, por isso, tem tido maior acesso ao pai, tornando-se o seu principal porta-voz.
Aliados de Bolsonaro apontam a diferença da postura dele com a dos filhos Carlos e Eduardo, que aparece nas mensagens trocadas com o deputado federal e divulgadas em relatório da PF (Polícia Federal) na semana passada.
Entre entusiastas da movimentação pela pré-candidatura de Tarcísio, a expectativa é de que a oficialização aconteça após a provável condenação e possível prisão de Bolsonaro, ou seja, até novembro ou dezembro, a tempo de organizar as campanhas em âmbito nacional e regional.
Tarcísio nega publicamente a possibilidade de se lançar ao Planalto, mas adotou discurso visto por parlamentares e dirigentes partidários como de candidato. Ao passo que estreita laços com o mercado financeiro e o agronegócio, reforça a lealdade ao ex-presidente.
Na segunda-feira (25), o governador foi uma das estrelas da festa de 20 anos do Republicanos. No palco, o presidente do partido, deputado federal Marcos Pereira (SP), afirmou que o Brasil terá uma escolha decisiva entre o passado e o futuro na eleição de 2026.
No mesmo dia, Valdemar Costa Neto tratou de um cenário em que o governador de São Paulo é candidato à Presidência e disse que ele iria para o PL. Afirmou, inclusive, que já tratou do tema com Tarcísio – o que o governador não confirma.
"Tarcísio já declarou, tive um jantar com ele há um ano e meio atrás. Ele falou: 'se eu for candidato, vou para o PL'. No jantar com os governadores, falou na frente de cinco governadores: 'sou candidato a governador, mas, se eu for candidato a presidente, eu vou para o PL’", disse Valdemar, após seminário em São Paulo.
Nos bastidores, o senador e presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), e o presidente do União Brasil, Antonio Rueda, são vistos como os principais entusiastas de uma eventual candidatura do governador de São Paulo ao Planalto.
O jantar com governadores de oposição no dia em que a federação União Brasil-PP foi aprovada serviu como uma espécie de pré-lançamento de candidatura, na avaliação de integrantes do mundo político.
Ainda que o tema não tenha sido tratado diretamente –até porque outros candidatos da direita estavam lá, como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil)–, foi formada uma espécie de frente para 2026, com a estratégia de imprimir derrotas ao presidente Lula (PT) no Congresso, mesmo que esses partidos mantenham cargos no governo.
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