Novo líder da bancada evangélica diz que não vai radicalizar, apesar de elo com Malafaia e Bolsonaro

O deputado Federal Gilberto Nascimento, eleito presidente da bancada evangélica
Ronny Santos/Folhapress
Gilberto Nascimento assume comando da frente após derrotar nome próximo do governo Lula
Folha de São Paulo
São Paulo
Eleito presidente da bancada evangélica, o deputado Gilberto Nascimento (PSD-SP) diz que vai procurar o diálogo para que a frente parlamentar "não seja uma coisa que radicalize".
Decano do bloco, ele conversou com a Folha nesta terça (25), minutos após ser chancelado por seus pares, numa eleição inédita para o grupo —até aqui, a escolha era feita por acordo, sem precisar ir a voto.
Dessa vez não houve jeito, e Nascimento, tido como aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), rivalizou com o ex-bolsonarista Otoni de Paula (MDB-RJ), hoje próximo do governo Lula (PT). Teve 117 votos contra 61 para o adversário.
Nascimento, contudo, esquiva-se de responder se aceita o rótulo de bolsonarista. "O Brasil hoje virou este Fla-Flu. A frente tem deputados que vão do PSOL ao PL. Não dá para colocar isso [ser bolsonarista] de uma forma tão determinada, correto?"
Apesar do inegável elo com o bolsonarismo, o deputado é tomado como uma voz mais moderada no campo. Certamente bem mais do que Nikolas Ferreira (PL-MG) e Marco Feliciano (PL-SP), para citar dois colegas da bancada religiosa que fazem barulho na oposição a Lula.
A FPE (Frente Parlamentar Evangélica), continua Nascimento, "tem que ser a frente que dialoga com todo mundo, que não seja uma coisa que radicalize".
E com a gestão Lula? Nascimento também evita dar uma resposta definitiva. Diz que o bloco "não precisa dialogar com governo", mas na sequência afirma que terá "a porta sempre aberta, sempre pronto para dialogar", pois "não podemos, de qualquer forma, fechar porta para nenhum diálogo".

O pastor Silas Malafaia, que o respalda nas eleições gerais, é tido nos bastidores como arquiteto da candidatura de Nascimento, o que ambos negam. Malafaia celebrou a vitória do aliado, que "deu uma lavada no governista Otoni", em suas palavras.
O pastor disse ao jornal acreditar que "o Gilberto é um cara moderado" e que só nesta terça interveio na eleição da bancada —assim como Bolsonaro, ele pediu a parlamentares que apoiassem Nascimento.
"Falando para você diante de Deus, só entrei hoje. Entrei pelo abuso desse cara [Otoni] em dizer que seria o segundo a derrotar Bolsonaro [depois de Lula], em dizer que queria aproximar a frente do governo. Aí eu entrei nessa guerra, falei 'não, não vou deixar, não', e mexi os pauzinhos. Fui para o pau."
Otoni é pastor do Ministério Madureira da Assembleia de Deus e já foi soldado aplicado da tropa de choque bolsonarista. Em 2022, praguejou contra "Luladrão" no Congresso e disse que receberia "vagabundos" como militantes petistas "na bala".
Mas, no que é atribuído a um cálculo político, ele teria se aproximado demais do petista, o que feriu os brios conservadores dessa turma religiosa. Chegou a liderar uma bênção coletiva para o presidente, no dia em que o petista sancionou a lei que criou o Dia Nacional da Música Gospel.
Nascimento diz que Malafaia é um "simpatizante da nossa candidatura" e "uma pessoa por quem tenho muito respeito", sem comentar falas que correm solta em Brasília, de que ele seria uma linha auxiliar do pastor no Congresso, assim como Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), ex-deputado da bancada evangélica e membro da igreja de Malafaia.
O novo presidente prometeu colocar como sua vice na liderança Greyce Elias (Avante-MG), que era a terceira candidata nesta disputa, mas se retirou do páreo após apelo de Bolsonaro, segundo relatos. Nascimento também afirmou que tentará montar uma diretoria da frente com metade feminina, ou seja, dez deputadas, algo que nunca aconteceu antes.
Chamou Otoni, o oponente derrotado, de amigo e alguém que conhece "desde muito jovenzinho".
Nascimento diz que vai priorizar, em sua presidência, "questões da vida, antiaborto, anrtidrogas e a defesa da liberdade religiosa", temas que teriam ficado em segundo plano na oposição bolsonarista —os ataques ao governo têm mirado mais questões econômicas, como a crise do Pix e a alta no preço dos alimentos.
"Com os problemas outros que o Brasil vive, acabou mudando o foco, mas queremos trazer o foco para isso [a agenda moral]."

O então presidente eleito Jair Bolsonaro participa de culto na Igreja Batista Atitude ao lado da esposa, Michelle Bolsonaro, no Rio de Janeiro





Fernando Frazão/Agência BrasilMais
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