Rolo do Rolex põe militar Mauro Cid como gerente da 'lavanderia' Bolsonaro

Mauro Cid exercendo o direito ao silêncio na CPI do 8/1
Edilson Rodrigues/Agência Senado
Colunista do UOL

O tenente-coronel Mauro Cid se provou homem de múltiplas habilidades. Para a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, era seu caixa eletrônico. Para militares, o serviço de atendimento a oficiais golpistas. Para o Ministério da Saúde, um hacker de cartões de vacinação. Agora, descobrimos que também atuou como vendedor de joias surrupiadas. Rodrigo Hilbert que se cuide porque temos um novo multitarefa na praça.

A CPMI dos Atos Golpistas analisa trocas de mensagens de Cid negociando um relógio da marca Rolex que Jair ganhou do governo da Arábia Saudita por cerca de US$ 60 mil (quase 1,5 mil lobos-guarás, na cotação de hoje).

Após revelado o escândalo de que Bolsonaro havia surrupiado joias que deveriam ter sido destinadas ao patrimônio da União devido ao seu alto valor, e pressionado para que outras, confiscadas pela Receita Federal, fossem liberadas mediante carteirada, o ex-presidente devolveu os mimos. Mas, antes, Cidão tentou transformá-los em cascalho.

"Quanto você espera receber por ele? O mercado de Rolex usados está em baixa, especialmente para os relógios cravejados de platina e diamante, já que o valor é tão alto", afirmou Maria Farani, que assessorou o Gabinete Adjunto de Informações do gabinete pessoal de Bolsonaro. Cid disse a ela que não tinha o certificado do relógio porque "foi um presente recebido durante uma viagem oficial".

Taí uma disciplina para o Exército colocar no currículo ao lado de tática de guerra e atuação em forças de paz: "Técnicas de Mercado Livre e OLX". Aliás, como ele foi orientado por superiores que poderia depor fardado na CPMI, no dia 11 de julho, poderia também dar o curso vestido de verde-oliva.

Cid é peça central para desvendar várias maracutaias envolvendo os Bolsonaro. Além das já citadas, há também a participação em lives realizadas por Jair atacando a democracia e o sistema de votação.

Comparado com Mauro Cid, Fabrício Queiroz, antigo faz-tudo de Bolsonaro e que foi acusado de ser responsável por arrecadar grana desviada de salários de servidores de gabinetes da família, as famosas "rachadinhas", era um recruta. Muito mais graduado do que o antigo roleiro, Cid também representa um risco muito maior para a liberdade de Jair.

Ele tem ficado em silêncio, seja na CPMI, seja na PF, apesar de ser investigado em um rosário de inquéritos. Mas seu celular continua gritando por ele, acusando o ex-presidente da República, sua família e aliados. O rolo do Rolex é apenas mais um capítulo dessa delação involuntária.

Mas a história reforça como Bolsonaro sempre viu a política: a chance de um bom negócio pessoal. Para quem aplicou em renda fixa os R$ 17 milhões que, em tese, recebeu em doações para pagar suas multas e processos eleitorais, lucrando em cima de seus seguidores, autorizar a venda de patrimônio público como se fosse privado é apenas mais um dia de trabalho.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Em novo caso de nudez, corredora sai pelada em Porto Alegre

'Chocante é o apoio à tortura de quem furta chocolate', diz advogado que acompanha jovem chicoteado

Foragido que fez cirurgia e mudou de identidade é preso comprando casa na praia