Como o Pix virou ferramenta de redução de custos e aumentou o dinheiro no caixa do comércio
Lojas físicas e online tentam turbinar as vendas com meio de pagamento instantâneo oferecendo descontos
Por Márcia De Chiara
Estadão
Do "Pix da confiança" na venda de produtos em farol de trânsito ao dízimo e contribuições dos fiéis nas igrejas pelo Pix com QR Code, o Pix desbancou o dinheiro.
Crédito: Márcia de Chiara/ Daniel Teixeira/Isabel Lima/Estadão
O comércio varejista foi um dos setores mais impactados pelo Pix, o meio de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central (BC) que completa em novembro cinco anos de funcionamento. Lojistas têm incentivado seu uso em troca de descontos, já que ele se tornou uma importante ferramenta de redução de custos e aumento de dinheiro em caixa para o comércio.
Não existem estatísticas do varejo que apontem quantas lojas físicas e online usam o Pix. O que se pode inferir pelos dados do BC e pela observação empírica é que esse meio de pagamento tem avançado no comércio.
O BC não separa as transações do Pix de pessoas físicas para empresas por segmento da economia, isto é, indústria, comércio e serviços. O que se sabe é que as transações por meio do Pix feitas de pessoas físicas para empresas são as que mais têm crescido. E é nesse recorte que o comércio varejista está inserido.

Economistas estimam que, nos próximos dois anos, transações de pessoas físicas para empresas deverão responder por mais de 50% do total de operações feitas por meio do Pix Foto: Adobe Stock
Em agosto de 2023, do total de transações feitas por meio de Pix, 33% eram de pessoas físicas para empresas. Em outubro deste ano, essa fatia atingiu 44% do total de transações. E foi a maior fatia entre as demais modalidades (Pix entre pessoas físicas, de empresas para pessoas físicas e Pix entre empresas).
Fábio Bentes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), observa que, em cerca de dois anos, houve crescimento de mais de 10 pontos porcentuais na fatia das transações de pessoas físicas para empresas no total de operações do Pix.
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Seguindo essa tendência, o economista acredita que, nos próximos dois anos, as transações de pessoas físicas para empresas deverão responder por mais de 50% do total de operações feitas por meio do Pix. E, nesse cenário, o comércio varejista terá papel importante.
“A maioria dos varejistas aceita Pix”, diz Bentes, ressaltando que se trata de uma avaliação mais empírica. O que se vê na prática são campanhas promocionais tanto das lojas físicas como online oferecendo descontos para quem paga com Pix.
Para Ivo Mósca, diretor de Inovação, Produtos, Serviços e Segurança da Febraban, que reúne os bancos, o que incentiva o varejo a fazer promoções para quem opta pelo Pix é o recebimento instantâneo por parte do estabelecimento comercial. “Isso gera (para o consumidor) um desconto de 5% a 10% no preço.”
Redução de despesas
Apesar de o Pix ser gratuito para as pessoas físicas que efetuam pagamentos por meio dele, para empresas existe uma despesa. Esse encargo no Pix, no entanto, é muito menor do que a taxa cobrada por outros meios de pagamento.
Segundo Renato Dias de Brito Gomes, diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução do BC, o Pix custa, em média, para lojista, 0,3% do valor da transação.
É um desembolso muito menor comparado ao do cartão de débito, cujo custo da operação para o lojista varia entre 1,1% e 1,2% do valor da transação e do cartão de crédito, que é mais de 2%.
Por conta de taxas menores cobradas das lojas e pela instantaneidade do recebimento do valor da venda, o Pix virou também uma forma de o comércio varejista reduzir despesas e aumentar a liquidez do fluxo de caixa.
Esse é um aspecto que ganha relevância para os empresários do varejo, especialmente no momento atual, com o custo dinheiro nas alturas. Hoje a taxa básica de juros de 15% ao ano está no maior nível dos últimos 20 anos e com perspectiva de manutenção.

Pedro Cruz, CEO da Lojas Mel; Pix representa 9% das vendas da empresa
Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Nas Lojas Mel, por exemplo, do ramo de utilidades domésticas e que deve encerrar este ano com 59 pontos de venda, o Pix representa 9% das vendas. Nos últimos dois anos, cresceu 200%.
“O Pix é uma ferramenta fantástica”, diz o CEO da Lojas Mel, Pedro Cruz. Ele aponta como vantagens o custo menor para o lojista comparado ao do cartão de crédito e ao de débito e o recebimento imediato do valor da venda. O cartão de crédito demora 30 dias para liquidar a fatura.
Bentes, da CNC, concorda com Cruz. Diz que o Pix é extremamente benéfico para o varejo. Além da redução dos custos operacionais e da melhora do fluxo de caixa, ele aponta outros fatores favoráveis aos lojistas.
Entre eles, estão o aumento das vendas devido à melhora da experiência de compra do consumidor, a maior conveniência em razão da possibilidade de as transações serem realizadas a qualquer hora do dia e em qualquer dia da semana e segurança também.
Um dos problemas enfrentados pelo comércio online é o cancelamento da compra feita por meio do cartão de crédito por parte do titular, algo que não ocorre com o Pix.
Preferência do consumidor
Do lado do consumidor, o que se sabe é que o Pix é o meio de pagamento preferido para quitar as compras, seja na loja física, seja no comércio online.
Em janeiro deste ano, o Pix foi apontado por 33% dos compradores em lojas físicas como o principal meio de pagamento, segundo pesquisa online feita pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), em parceria coma Offerwise.
Em junho deste ano, pesquisa semelhante da CNDL e do SPC Brasil para o comércio online apontou números ainda mais relevantes. O Pix tinha a preferência de 66% dos internautas como meio de pagamento.
Nos supermercados, o Pix tem avançado. Respondeu por 7,9% das transações no ano passado, ante 5,3% em 2023 e 2,7% em 2022, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
Segundo o vice-presidente da Abras, Marcio Milan, o avanço do Pix evidencia a rápida adesão por parte dos consumidores. Com isso, houve uma redução da participação de meios tradicionais de pagamento nos supermercados, como o cartão de débito, cartão de crédito e o dinheiro em espécie.
No entanto, o cartão de crédito de terceiros permanece como o meio de pagamento mais utilizado no autosserviço alimentar, com 31% das transações em 2024, uma leve queda em relação aos 31,8% em 2023.
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