Crise bancária derruba o petróleo: queda de 12% na semana

E as bolsas mergulham também, por medo de uma reprise de 2008. Por outro lado, os eventuais efeitos recessivos desse cenário derrubam os juros futuros. Bom para quem tem IPCA+ na carteira.

Por Alexandre Versignassi e Camila Barros
Revista VC S/A


A crise bancária continua tirando o sono do mercado. Teme-se que o efeito dominó da quebra dos bancos se alastre por toda a economia, e instaure uma recessão – no mesmo pique do colapso generalizado de 2008.

Ontem, as bolsas tinham ido dormir sossegadas depois de uma dobradinha de injeção de liquidez: na Suíça, o BC anunciou que daria um empréstimo de US$ 53,7 bilhões para o Credit Suisse. Nos EUA, os grandes bancos formaram um clube do bolinha para depositar US$ 30 bilhões no First Republic, um banco menor que periga quebrar. Aí a confiança na solidez do setor bancário animou os agentes financeiros.

Só que durou pouco. Hoje, os índices voltaram a cair: S&P 500 -1,10% e Nasdaq -0,74%. Por aqui, o Ibovespa acompanhou as coleguinhas anglófonas: queda de 1,40%, puxada justamente por Itaú (-2,87%), Bradesco (-4,16%) e Banco do Brasil (-1,71%), os pesos pesados do setor bancário.
Na semana, o tombo foi de 1,58%.

O medo de um apocalipse zumbi no sistema bancário também afetou severamente a cotação do Brent, já que um eventual mundo em recessão consome menos petróleo. Nisso, agentes deixam de comprar petróleo, e a cotação cai imediatamente. Queda de 2,3% hoje e de arrebatadores 12% na semana. Desde o último pico, em junho de 2022, o tombo já é de 41%.

O Brent fechou em US$ 72,97. Trata-se do preço mais baixo desde dezembro de 2021. Na real, esse é o patamar em que o petróleo estava no início da década passada, lá nos idos de 2010.

Existe um lado meio cheio no copo da expectativa de recessão: os juros futuros caem. É que um mercado em crise movimenta menos dinheiro – e aí a inflação dá uma trégua. Dessa forma os bancos centrais simplesmente não precisam pegar tão pesado no aperto monetário. Nos EUA, essa lógica fez os yields dos treasuries caírem para 3,4% – no início de fevereiro, ele estava acima da linha dos 4%.

No Brasil, o rendimento em juros reais do IPCA+ para 2035 caiu de 6,38% para 6,31%. Bom para quem tem os títulos na mão. Quando cai a taxa, sobe o preço do título, e o saldo dos detentores aumenta. Desde meados da semana passada, quando a taxa estava em gordos 6,48%, o valor de cada título saltou 2,3% – bastante para um ativo de renda fixa.

A apresentação do novo arcabouço fiscal, que pode acontecer a qualquer momento, certamente mexerá nos juros futuros (e na rentabilidade dos títulos de inflação e prefixados). A ver se para cima ou para baixo.

3R Petroleum

O desabamento do Brent pouco afetou as ações das petroleiras. As gigantes gringas (Chevron, Exxon, Shell) cederam cerca de 1%. Idem para PRIO3 (-1,04%). E a Petrobras segurou-se ainda melhor: 1,07%
Mas bem mesmo foi a 3R Petroleum. RRRP3 liderou as altas do Ibovespa no dia, com 16,76%. É que a Petrobras vai manter a venda do Polo Potiguar, um conjunto de campos de produção de petróleo e gás na Bacia Potiguar, que pega toda a costa do Rio Grande do Norte e um pedacinho do Ceará.

O negócio, que custou US$ 1,38 bilhão ao caixa da 3R, foi firmado em janeiro de 2022. Só que a troca de governo, e de comando da estatal, tornou o acordo incerto. No começo de março, a gestão de Jean Paul Prates mandou congelar a venda de ativos da Petrobras por 90 dias, enquanto a empresa reavalia os planos da gestão anterior.

Hoje, a Petrobras anunciou que seguirá com a venda dos ativos que já tem contrato assinado. É o caso do Polo Potiguar. Com ele garantido, as reservas provadas de petróleo da 3R praticamente dobram, de 286 milhões de barris para 515 milhões. Daí a alta.

Destaque também para os frigoríficos, que seguiram a trajetória de alta iniciada ontem, com o anúncio de um surto de peste suína africana na China. Quando isso acontece, os chineses substituem a carne local por carne importada, e a de porco, em parte, por de boi. Nisso, as exportações dos nossos frigoríficos crescem. Foi o que colocou BRF, Minerva e Marfrig entre as maiores altas de hoje.

Já no topo do ranking menos honorável, o das maiores baixas, temos novamente a Hapvida, agora com -10,23%. O temor do mercado é com a eventual capitalização via emissão de ações, uma possibilidade que a empresa considera. O problema: isso diluirá a posição dos acionistas atuais e reduzirá o preço da ação. Ainda mais porque a Hapvida terá de vender as novas ações a preços excepcionalmente baixos, dada a falta de confiança do mercado no papel. E quando confiança acaba, sai de baixo – que o diga o sistema bancário.

Bom fim de semana.

Maiores altas
3R Petroleum (RRRP3): 16,76%
Ecorodovias (ECOR3): 8,86%
BRF (BRFS3): 4,63%
Minerva (BEEF3): 3,27%
Marfrig (MRFG3): 3,24%

Maiores baixas
Hapvida (HAPV3): -10,23%
Eztec (EZTC3): -9,52%
Cyrela (CYRE3): -7,47%
Locaweb (LWSA3): -7,40%
CPFL Energia (CPFE3): -6,53%

Ibovespa: -1,40%, aos 101.981 pontos. Na semana, baixa de 1,58%.

Em NY:
S&P 500: -1,10%, a 3.916 pontos
Nasdaq: -0,74%, a 11.630 pontos
Dow Jones: -1,20%, a 31.858 pontos

Dólar: 0,58%, a R$ R$ 5,27. Na semana, alta de 1,19%.

Petróleo
Brent: -2,31%, a US$ 72,97. Na semana, -11,9%
WTI: -2,30%, a US$ 66,93. Na semana, 12,8%

Minério de ferro: 0,44%, a US$ 132,89 a tonelada na bolsa de Dalian.

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