Programa de Jimmy Kimmel voltará ao ar nesta terça-feira nos EUA após propostas de boicote
Talk show foi suspenso pela emissora ABC após apresentador afirmar que movimento pró-Trump estava tentando tirar proveito político da morte de Charlie Kirk; decisão gerou protestos na internet
Por O Globo e agências internacionais — Los Angeles, EUA
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O apresentador do Oscar Jimmy Kimmel — Foto: AFP/Patrick T. Fallon
O programa do apresentador americano Jimmy Kimmel, suspenso na semana passada após ameaças do governo por comentários sobre as consequências do assassinato do ativista conservador Charlie Kirk, voltará ao ar nesta terça-feira. A informação foi divulgada pela Disney, proprietária da emissora ABC, que transmite o programa "Ao Vivo com Jimmy Kimmel". O talk show, que ocupa o fim de noite da ABC desde 2003, havia sido retirado da grade no último dia 17 de setembro, por tempo indeterminado. A decisão, que provocou debates sobre o cerceamento da liberdade de expressão nos EUA também gerou manifestações por boicote à Disney.
"Na quarta-feira passada, tomamos a decisão de suspender a produção do programa para evitar agravar ainda mais uma situação tensa em um momento emotivo para o nosso país. É uma decisão que tomamos porque consideramos que alguns dos comentários foram inoportunos", declarou a Disney em comunicado. "Passamos os últimos dias em conversas profundas com Jimmy e, após elas, decidimos que o programa voltará ao ar na terça-feira".
O anúncio da ABC de que Kimmel retornará ocorre poucas horas depois de centenas de celebridades assinarem uma carta em defesa do apresentador. Jennifer Aniston, Meryl Streep e Robert DeNiro estão entre as principais estrelas que consideram a suspensão de Kimmel um "momento sombrio para a liberdade de expressão em nosso país".
"Os esforços dos líderes para pressionar artistas, jornalistas e empresas com retaliações por suas opiniões atingem o cerne do que significa viver em um país livre", diz a carta das celebridades. "Este é o momento de defender a liberdade de expressão em todo o nosso país".
Segundo a NBC, várias celebridades, incluindo o membro da banda 'N Sync Lance Bass e a estrela de 'Transparent' Amy Landecker , compartilharam capturas de tela nas redes sociais que mostram o cancelamento de suas assinaturas afiliadas à Disney.
Tatiana Maslany, que estrelou "Mulher-Hulk" da Marvel — série que exibiu sua primeira e única temporada no Disney+ em 2022 — postou um apelo aos seus seguidores no Instagram: "Cancelem suas assinaturas @disneyplus @hulu @espn!"
A mensagem ganhou força nas redes sociais nos últimos dias e o Google Trends chegou a registrar um aumento nas pesquisas pelos termos "cancelar Disney Plus" e "boicotar a Disney".
Apoio a Kimmel
Apesar das retaliações, muitos colegas de Kimmel declararam apoio publicamente ao apresentador em meio ao que classificaram como "intimidação" do governo Trump.
No "The View" desta segunda-feira, Whoopi Goldberg e suas colegas de mesa se pronunciaram sobre a suspensão do programa de Kimmel. "Vocês realmente acharam que não íamos falar sobre Jimmy Kimmel? Quer dizer, vocês assistiram ao programa nas últimas 29 temporadas? Ninguém nos silencia", afirmou Goldberg logo na abertura.
A atriz e apresentadora continuou: "Quando a notícia sobre a suspensão de Jimmy Kimmel foi divulgada na semana passada, esperamos para ver se Jimmy ia falar alguma coisa sobre isso primeiro. Você pode não gostar de um programa e ele pode sair do ar. Alguém pode dizer algo que não deveria e ser tirado do ar. Mas o governo não pode pressionar alguém a ser silenciado".
Ana Navarro, que divide a mesa com Goldberg, também falou: "Não entendo como neste país, onde a Primeira Emenda foi feita à Constituição para garantir a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão, o próprio governo está usando seu peso e poder para intimidar e assustar as pessoas e fazê-las ficarem em silêncio".
Algumas vozes de direita na comunidade da comédia quebraram linhas partidárias para criticar o que dizem ser um ataque à liberdade de expressão. Em uma postagem no Instagram, o podcaster e comediante Tim Dillon disse que Kimmel ainda deveria estar no ar e chamou sua suspensão de "um golpe politicamente motivado".
“Qualquer pessoa que se importe com a possibilidade de falar livremente para ganhar a vida deveria ficar incomodada com isso”, afirmou Dillon.
O senador republicano Ted Cruz se tornou na sexta-feira um dos conservadores mais destacados a criticar o presidente da Comissão Federal de Comunicações, Brendan Carr, que ameaçou "tomar medidas " contra a Disney e a ABC por causa do comentário de Kimmel, incluindo ameaças de retirar as licenças das afiliadas da ABC.
Cruz disse em seu podcast que o comentário de Kimmel estava errado, mas também que o que Carr estava fazendo era "incrivelmente perigoso".
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Entenda o caso
A suspensão repentina ocorreu depois que grandes grupos de afiliadas de televisão, como a Nexstar e a Sinclair, anunciaram que deixariam de exibir o programa. A medida foi uma resposta às declarações de Kimmel sobre a reação do presidente americano Donald Trump à morte do ativista conservador Charlie Kirk.
Na ocasião, Kimmel disse que o MAGA (referência ao movimento pró-Trump Make America Great Again) estava tentando tirar proveito político da morte de Kirk.
"Chegamos a novos patamares de baixaria no fim de semana, com a gangue MAGA tentando retratar esse garoto que matou o Charlie Kirk como qualquer coisa que não seja um dos deles", afirmou Kimmel.
O ativista conservador Charlie Kirk, aliado próximo de Trump, foi baleado e morto no dia 10 de setembro, durante um debate na Universidade Utah Valley. Três dias depois, as autoridades anunciaram a prisão do suspeito pelo crime.
Internamente, segundo fontes próximas às negociações, a Disney vinha alertando Kimmel sobre o tom cada vez mais afiado de suas críticas a Trump e às políticas migratórias do governo.
A suspensão do Jimmy Kimmel Live representaria um risco para a ABC: em 2024, a atração movimentou cerca de US$ 51,1 milhões (R$ 272 milhões) em publicidade, o equivalente a 21% de todos os investimentos em anúncios no horário noturno.
Quem é Jimmy Kimmel
Comediante, apresentador de TV, produtor e escritor, Jimmy Kimmel comanda o talk-show Jimmy Kimmel Live! na ABC desde 2003. Um dos programas do gênero com maior audiência na TV Americana, recebe grandes nomes do cinema como Angelina Jolie, Nicole Kidman, Timothée Chalamet e Johnny Depp. No período de campanha para a última edição do Oscar, Fernanda Torres foi entrevistada por Kimmel.
A popularidade do programa fez Kimmel ser convidado, e apresentar, as edições do Emmy de 2012 e 2016 e o Oscar em 2017, 2018, 2023 e 2024. O salário anual do apresentador é calculado em US$ 16 milhões (cerca de R$ 85 milhões).
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