Manchas de óleo causarão impacto 'desastroso' na economia do NE

Nordeste arrecadou R$ 2,560 bilhões com o turismo, sendo a Bahia o Estado da região com maior destaque. Setor representa em torno de 8% do PIB

Raphael Fernandes*, do R7

Óleo atinge diversas praias do Nordeste desde o início de setembro
Teresa Maia/Reuters

As manchas de óleo encontradas na costa dos Estados do Nordeste desde o início de setembro devem causar um impacto “desastroso” na economia da região, onde estão situados alguns dos mais famosos destinos turísticos do Brasil.

Somente em julho deste ano, o turismo foi responsável pelo faturamento de R$ 20,478 bilhões na região, com destaque ao segmento de restaurantes e similares (R$ 10,844 bilhões), de acordo com a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).

Para Estevão Alexandre, coordenador de cursos de pós-graduação da FIPECAFI, o impacto das manchas de óleo é "desastroso". "Para a economia no setor de turismo, principalmente no Nordeste, é desastroso, pois uma das principais atrações, que são as praias, estão sendo afetadas pela contaminação de petróleo e, consequentemente, toda a economia que gira em volta do turismo é afetada. Por fim, as famílias que dependem do turismo serão bastante afetadas."

De acordo com o professor, o turismo como um todo tem participação em torno de 8% do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil.

No mês de julho, a região do Nordeste foi a terceira que mais faturou com o turismo e arrecadou R$ 2,560 bilhões. A Bahia foi o Estado da região com o maior destaque.

Professor de Finanças da FGV/SP (Fundação Getúlio Vagas), Fabio Gallo disse que não é possível quantificar a dimensão na economia. "Quantificar fica muito difícil, mas dá para dizer que terá alto impacto porque esse evento ainda trará consequências por pelos menos 5 anos".

Gallo também disse acreditar que ainda não existe um levantamento do impacto no setor. "Não acredito que haja algum levantamento porque o evento ainda está ocorrendo. Não se tem dimensão do tamanho do estrago. Quanto de óleo ainda vai chegar nas praias".

Sem viagens canceladas

Até o momento de publicação desta matéria, a Abav (Associação Brasileira de Agências de Viagens) relatou que nenhum voo havia sido cancelado para a região afetada pelo desastre.

"Nós temos monitorado quase que diariamente as nossas agências de viagens associadas e o que nos retornam é que não há cancelamentos. O mês de outubro não é de alta temporada, a movimentação está dentro da regularidade para o período", afirmou a associação.

Viagens para o Nordeste

De acordo com o professor de finanças da FGV, Cesar Caselani, não há muito como avaliar o impacto do turismo no Nordeste ainda, pois não chegamos na alta temporada e maior parte dos turistas ainda não decidiu a viagem. 

"A tendência dado ao desemprego, a dificuldade e a incerteza em relação ao futuro é de que muitas pessoas se viajarem vão deixar para última hora ou talvez nem viagem", analisou.

Caselani também disse que é possível as pessoas viajarem para outras localidades, até mesmo para o exterior. As famílias com mais recursos podem avaliar a taxa de câmbio e pensar em fechar um pacote de viagem para outros países se sentirem que suas férias podem ser prejudicadas.

"Nos últimos dias houve uma valorização do real em relação ao dólar, ou seja, o dólar caiu. Dada essa incerteza em relação as praias nordestinas e caso o dólar se mantenha num patamar mais baixo, famílias com mais recursos vão começar a pensar se compensa ir para o Nordeste ou para algum lugar no exterior".

"Agora, neste momento, assusta. As pessoas devem esperar um pouco mais avessas ao risco de ter as férias comprometidas para tomar a decisão", aconselhou o professor.

Derramamento de óleo

No final do mês de agosto foram registrados os primeiros casos de manchas encontradas na costa brasileiro.

Na última semana, a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) revelou um estudo que mostra a possível origem do derramamento do material a pelo menos 600 km do litoral brasileiro. Atualmente as manchas já atingiram 238 locais, em 9 Estados e 88 municípios, segundo atualização mais recente disponibilizada pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Mais de 900 toneladas de óleo já foram recolhidas do mar.

O professor do Instituto Oceanográfico da USP (Universidade de São Paulo), Rafael André Lourenço, afirmou que não é possível dizer quanto tempo o óleo ainda permanecerá no fundo do mar. "É difícil dizer quanto tempo esse óleo vai ficar no fundo do mar, ele vai sofrer degradação. Se isso vai durar um ano, 5 anos, depende das condições. Não conseguimos dizer por quanto tempo esses resquícios de óleo vão permanecer no mar", disse.

As investigações noticiaram que o óleo que está chegando no Brasil é venezuelano, mas fez um alerta. "Uma coisa é o óleo ser venezuelano, outra coisa é o óleo estar vindo da Venezuela. São coisas diferentes".

*Estagiário do R7, sob supervisão de Ana Vinhas

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