O que dizer aos pais e às crianças de Blumenau?

OPINIÃO


A prefeitura de Saudades (SC), onde ocorreu a chacina em uma creche há quase dois anos, lamentou o ataque em Blumenau (SC)
Imagem: Reprodução/Instagram/Município de Saudades

Colunista do UOL

Estamos olhando o mal nos olhos. Depois do choque da semana passada em São Paulo, o massacre na creche em Blumenau revira o estômago. A idade das vítimas, o desprezo à vida e os requintes de crueldade foram um quadro de revirar o estômago e questionar as esperanças.

Não saberia o que dizer aos pais de Blumenau, com toda sinceridade. Como mãe, tento me colocar no lugar mas não consigo racionalizar o que seria isso. É uma dor tão imensa que eu bloqueio essa suposição.

E às crianças se pode dizer o quê? Um pai entrevistado pelo UOL, aliviado porque seu filho sobreviveu, perguntava como vai fazer para tirar isso da cabeça da criança.

Estamos diante de um tipo de crime que modifica a vida das vítimas, das famílias das vítimas, das testemunhas e suas famílias e de todos os que tentam entender essa manifestação do mal.

É mais difícil ainda passar por essa situação nesses tempos de apoteose da superficialidade, em que muita gente carente tenta virar protagonista da história via redes sociais. Por causa desse público, que é fiel e aguerrido, os políticos também arrastam tragédias humanas para o lamaçal da polarização.

Nossa cultura, a brasileira, importou de forma acrítica algumas das piores e mais extremas manifestações culturais e políticas norte-americanas. Parece que algo acontece lá e, pouco tempo depois, acabamos copiando igualzinho.

O ataque a escolas é um desses fenômenos. Infelizmente, não há explicações consensuais sobre como isso surge e se instala. O pior é que não sabemos como parar, ninguém sabe. Tentamos medidas de diversos tipos principalmente mudando a cobertura de mídia.

Já é sabido que divulgar a imagem e o nome de assassinos do tipo pode incentivar mais crimes. Também se sabe que há tipos diferentes de ataques, alguns são fruto de uma subcultura digital que idolatra massacres em escolas e outros não são.

Pouco a pouco surgem informações valiosas para que possamos trilhar o caminho de reverter essa tendência macabra. Infelizmente, boa parte delas serve para alimentar outra tendência macabra, a do bullying disfarçado de indignação ou militância.

Diante desses casos, temos alguns comportamentos tóxicos muito comuns e que nos afastam do debate, todos eles marcados pelo excesso de certezas e ausência de escuta.

O primeiro é do pessoal que quer dar uma arma para cada professor e cada aluno achando que vai resolver a situação. É uma ilusão confortável, mas completamente dissociada da realidade. Nas redes sociais e, consequentemente, na política, essa turma vai barbarizar e acusar de conivência com assassino quem questionar a eficácia.

Do outro lado, virão os negacionistas do bem, argumentando sobre bullying ou sobre como não enxergamos as dificuldades dos oprimidos. Eu poderia imaginar que são só alienados, que ignoram a subcultura dos adoradores de massacres ou criminologia. Não são burros, no entanto. Buscam holofotes para si e suas causas cotidianas usando a desgraça alheia e desviando o debate.

Já começaram a brotar os Sherlock Holmes de Twitter para questionar todas as informações, a polícia e os especialistas. São um prato cheio para político oportunista, que já está pendurando a culpa pelo massacre no adversário. E, obviamente, aparecerão as paquitas de político para bater palma.

Nisso tudo, o que dizer aos pais e crianças de Blumenau? Que é sobre eles, que a dor deles importa e que a maioria de nós realmente queria poder fazer algo para ajudar. Também que realmente não sabemos o que dizer numa hora dessas. Pode ser insuficiente, mas é o possível.

Que esse sentimento compartilhado nos una em busca de soluções. Estamos olhando o mal nos olhos e ele não será combatido com mal.

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