Cronologia revela como Bolsonaro repete o discurso e os erros da Itália


Atitudes, declarações e cronologia dos fatos revelam que, se depender de Jair Bolsonaro, Brasil viverá catástrofe equivalente ou pior do que a italiana. Reportagem publicada há exatamente 1 mês mostra como o governo italiano fazia, naquela altura, tudo o que o presidente brasileiro está fazendo agora


Uma reportagem do jornal El País publicada há exatamente um mês revela como, naquela altura, o governo italiano encarava a pandemia do coronavírus da mesma maneira com que Jair Bolsonaro trata o problema no Brasil atualmente.

Em 28 de fevereiro, quando a matéria foi publicada, a Itália registrava 17 mortes por coronavírus. Apesar dos alertas de infectologistas, da imprensa e de profissionais da saúde, o governo italiano estava preocupado com a “histeria exagerada” que o noticiário provocaria no turismo e na economia.

“Nossos filhos vão à escola e os turistas e investidores podem vir para a Itália com tranquilidade. Na Itália, passamos de um risco de epidemia para uma ‘infodemia’ de desinformação, que neste momento está afetando nosso fluxo de turistas, nossos negócios e todo o nosso sistema econômico”, comunicou o porta-voz do governo.

Poucas semanas depois, a Itália viveria um cenário de guerra, com mais de 700 mortos vítimas de coronavírus por dia, um sistema de saúde colapsado e caminhões do exército recolhendo corpos.

Apenas neste sábado (28/3), um mês após a publicação daquela matéria, a Itália registrou 889 novas mortes por coronavírus. O país tem o maior número de mortos no mundo por causa do vírus: são mais de 10 mil.

Itália demorou a agir

Prevendo o avanço da epidemia no país e com a falta de ações centralizadas do governo, prefeitos e governadores italianos, a exemplo do que ocorre no Brasil, tomaram atitudes individuais para tentar conter o surto de Covid-19. Decretos e regras mais restritivas eram impostas pelas regiões, mas anuladas pelo governo italiano.

Em 24 de fevereiro, o primeiro-ministro Giuseppe Conte suspendeu um decreto assinado pelo governador de Marche, região que até aquele momento não registrava casos de coronavírus, que previa o fechamento de escolas e a proibição de aglomerações.

O premiê italiano argumentou que este tipo de ação descentralizada “contribuía para gerar o caos”. O governador da Lombardia, Attilio Fontana, decretou o fechamento de bares e restaurantes, medida que também foi anulada pelo governo central do país. No Brasil, ações dos governos estaduais para conter a pandemia também foram anuladas por decretos presidenciais, sob a justificativa de que “a economia não pode parar”.

Foi só no dia 8 de março que a Itália decidiu isolar toda a região da Lombardia, responsável por parte importante da economia, em uma medida que afetou cerca de 16 milhões de pessoas. No dia seguinte, o isolamento foi estendido para todos os 60 milhões de habitantes do país que naquele momento já registrava mais de 9 mil casos e 400 mortes pelo novo coronavírus.

“Erramos”

O prefeito de Milão, Giuseppe Sala, aliado do primeiro-ministro Giuseppe Conte, reconheceu nesta quinta-feira (26/3) que errou ao apoiar a campanha “Milão não para”. A campanha foi lançada há exatamente um mês e estimulou os moradores da cidade a continuar as atividades econômicas e sociais, mesmo com a pandemia do novo coronavírus.

“Muitos se referem àquele vídeo que circulava com o título #MilãoNãoPara. Eram 27 de fevereiro, o vídeo estava explodindo nas redes, e todos o divulgaram, inclusive eu. Certo ou errado? Provavelmente errado”, reconheceu Giuseppe Sala, em entrevista a uma emissora italiana. “Ninguém ainda havia entendido a virulência do vírus, e aquele era o espírito. Trabalho sete dias por semana para fazer minha parte, e aceito as críticas”, afirmou.

A produção exibida exaltava os “milagres” feitos “todos os dias” pelos cidadãos de Milão e seus “ritmos impensáveis” e “resultados econômicos importantes”. “Porque, a cada dia, não temos medo. Milão não para”, afirmava o conteúdo expresso no vídeo.

No Brasil, o governo Bolsonaro lançou nesta semana a campanha “O Brasil não pode parar”. Os vídeos da peça publicitária começaram a circular na noite de quinta-feira (26) em contas do governo e de filhos do presidente.

Assim como a campanha italiana, a propaganda do governo brasileiro é uma ofensiva contra as medidas de isolamento implementadas pelos estados e estimula as pessoas a voltarem para as suas rotinas habituais de trabalho.

As ações do governo Bolsonaro contariam todas as recomendações das principais autoridades sanitárias do mundo e repetem, perigosamente, os mesmos equívocos cometidos pelo governo italiano.

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