Secretário de Cultura deixa cargo após governo suspender edital com séries sobre temas LGBT

Henrique Pires estava no Ministério da Cidadania desde o início do governo e afirmou ao G1 que medida foi 'gota d'água'. Suspensão foi publicada nesta quarta (21) após críticas de Bolsonaro.

Por Guilherme Mazui e Gustavo Garcia, G1 — Brasília

Henrique Pires (esq.), secretário especial de Cultura do Ministério da Cidadania 
Foto: Clarice Castro/Ministério da Cidadania

O secretário especial de Cultura do Ministério da Cidadania, Henrique Pires, informou nesta quarta-feira (21) ao G1 que deixará o cargo. Segundo Pires, a decisão foi tomada porque ele vinha sendo uma "voz dissonante" no governo. A assessoria do ministro da Cidadania, Osmar Terra, porém, disse que foi ele quem demitiu o secretário.

Henrique Pires estava no cargo desde o início do governo Jair Bolsonaro e afirmou que decidiu deixar a secretaria após o ministério suspender um edital que havia selecionado séries sobre diversidade de gênero e sexualidade a serem exibidas nas TVs públicas.

"Isso [suspensão] é uma gota d'água, porque vem acontecendo. E tenho sido uma voz dissonante interna", disse Pires.

"Eu tenho o maior respeito pelo presidente da República, tenho o maior respeito pelo ministro, mas eu não vou chancelar a censura", acrescentou.

Na semana passada, ao fazer uma transmissão ao vivo em uma rede social, Bolsonaro disse que o governo não vai financiar produções com temas LGBT.

"Fomos garimpar na Ancine, filmes que estavam já prontos para ser captado recursos no mercado. [...] É um dinheiro jogado fora. Não tem cabimento fazer um filme com esse tema", afirmou o presidente na ocasião (leia detalhes mais abaixo).

Ao informar a saída do cargo, o secretário especial de Cultura disse nesta quarta-feira que não concorda com "filtros" na atividade cultural.

"Eu não concordo com a colocação de filtros em qualquer tipo de atividade cultural. Não concordo como cidadão, e não concordo como agente público, você tem que respeitar a Constituição", afirmou Henrique Pires.

Críticas de Bolsonaro

Bolsonaro afirmou na quinta-feira (15) que não irá permitir que a Agência Nacional do Cinema (Ancine) libere verba para produções com temas LGBT.

Na ocasião, o presidente citou quatro obras que participaram de um edital realizado pela Ancine, pelo Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC). As produções seriam financiadas pelo Fundo Setorial do Audiovisual (FSA).

"Afronte", "Transversais", "Religare Queer" e "O sexo reverso" são projetos de séries anunciados em março como parte de uma seleção preliminar do processo.

Nota

Leia a nota divulgada pelo Ministério da Cidadania sobre o assunto:

Nota à imprensa

Ao contrário da versão divulgada pelo ex-secretário especial da Cultura José Henrique Pires o cargo foi pedido pelo ministro da Cidadania, Osmar Terra, na terça-feira (20), à noite, por entender que ele não estava desempenhando as políticas propostas pela pasta. O ministro se diz surpreso com o fato de que o ex secretário, até ser comunicado da sua demissão, não manifestou qualquer discordância à frente da secretaria. O secretário-adjunto e secretário de Fomento e Incentivo à Cultura, José Paulo Soares Martins, assume o cargo.

Assessoria de Comunicação Social

Ministério da Cidadania

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