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JORNAL DO COMMERCIO, O MAIS ANTIGO DO PAÍS, FECHA AS PORTAS


O Jornal do Commercio, o mais antigo do Brasil e da América Latina, chegou hoje às bancas e aos assinantes pela última vez. Seus profissionais foram comunicados das demissões e da decisão do controlador, os Diários Associados, do encerramento do veículo sediado no Rio de Janeiro. O que estimulou ontem, 28, inúmeros comunicados de profissionais de imprensa nas redes sociais. Vicente Nunes, editor de Economia do Correio Braziliense, veículo que integra a rede dos Diários Associados, e Sônia Araripe, editora de Plurale em revista e Plurale em site (plurale.com.br) pontuaram com precisão o clima em torno dessa página da história e da trajetória de um veículo que hoje fecha as suas portas.
A CAPA DERRADEIRA
A TRAJETÓRIA DO JORNAL

A primeira edição do Jornal do Commercio, criado pelo francês Pierre Plancher, circulou no dia 1º de outubro de 1827. Testemunha viva da história, o Jornal do Commercio atravessou as mais diferentes fases do País cumprindo o seu papel de manter informado o público em geral, com a agilidade permitida pela tecnologia de cada época, e de ajudar homens de negócios e executivos em seus processos de tomada de decisão.

Pierre Plancher, o fundador, antes de chegar ao Brasil, era, em Paris, editor de Voltaire, de Benjamin Constant de Rebecque e de outros destacados intelectuais. Também se destacava na França como um mestre das artes gráficas. Por não se enquadrar no regime então vigente na França e perseguido por suas tendências liberais na época da Restauração, sob Luiz XVIII, teve de emigrar. Chegou ao Brasil em 1824 e aqui instalou prontamente sua oficina.

O francês trouxe modernos equipamentos e alguns operários especializados que representavam, na época, o que de mais avançado existia no ramo. Fundou dois jornais, um deles o JORNAL DO COMMERCIO, que se seguiu ao primeiro, denominado SPECTADOR BRASILEIRO, que circulou até o dia 23 de maio de 1827.

O Jornal do Commercio surgiu tendo como foco a economia, com base nas publicações Preços Correntes, Notícias Marítimas e Movimento de Importação e Exportação editadas por Plancher desde sua chegada ao Rio. Em pouco tempo, transformou-se em folha política e comercial, em um momento em que a situação do País, que vivia então os primeiros anos após a Independência, era inquietante. Pedro I, pressionado pelos portugueses, ia fazendo concessões que poderiam prejudicar os brasileiros e o Jornal do Commercio, assim, entrou em campo para defender os interesses nacionais, uma característica que preservou ao longo de sua história.

Plancher retornou a Paris quando mudou o regime francês e teve como sucessores na sua direção os franceses Junius Villeneuve, Francisco Picot e Julio de Villeneuve, que mantiveram o importante diário até 1890. Durante este período eram colaboradores, entre outros, Justiniano José da Rocha, José Maria da Silva Paranhos, o visconde do Rio Branco, Carlos de Laet, Francisco Octaviano, José de Alencar, Homem de Mello, Joaquim Nabuco e Guerra Junqueiro, entre outros intelectuais. O próprio Pedro II escrevia sob pseudônimo no jornal e influía em seus editoriais, a ponto de um destes ter causado a queda do Ministério.

Com seus colaboradores de nível tão alto, o jornal desempenhou o papel de precursor da Academia Brasileira de Letras, cuja fundação somente ocorreria a 20 de julho de 1897, tendo como seu primeiro presidente o escritor Machado de Assis.

O Jornal do Commercio viveu um quarto de século (de 1890 a 1915) sob a direção de José Carlos Rodrigues, um mestre do jornalismo que efetuou notáveis transformações no jornal. Nele Rui Barbosa publicou as famosas Cartas da Inglaterra sob o caso Dreyfus. Entre os colaboradores destacavam-se José Veríssimo, Visconde de Taunay, Alcindo Guanabara, Araripe Junior, Afonso Celso e outros. Era então editorialista José Maria da Silva Paranhos (filho), Barão do Rio Branco.

José Carlos Rodrigues foi sucedido pelo comendador Antonio Pereira Botelho, quando já chefiava a redação Félix Pacheco que, em 1923, assumiria a direção e a propriedade da empresa. Homem de alto saber, Félix Pacheco coligiu materiais que estavam espalhados e organizou um histórico sobre o jornal. De 1900 a 1908, com vinte e poucos anos de idade, dirigiu o instituto que, posteriormente, viria a ter o seu nome – Instituto Félix Pacheco. Senador, membro da Academia Brasileira de Letras e Ministro das Relações Exteriores no governo Artur Bernardes, Félix Pacheco morreu em 1935, sucedendo-lhe Elmano Cardim que até 1957 comandou o tradicional diário.

A partir de 1957 e até 1959, o Jornal do Commercio permaneceu sob a direção de Francisco Clementino de San Tiago Dantas, presidente da Comissão Jurídica Internacional e catedrático de Direito Civil da Faculdade Nacional de Direito.

De 1959 para cá, o veteraníssimo jornal integra os Diários e Emissoras Associados, organização fundada por Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, falecido em 1968, jornalista empreendedor que construiu a mais importante rede de jornais, rádios e televisões da América Latina. Presidiu-o no período de 1982/93 o jornalista Austregésilo de Athayde, ex-presidente da Academia Brasileira de Letras, e um dos redatores da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Posteriormente, a presidência passou para Ibanor Tartarotti.

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