O papel crucial do 7 de setembro na campanha de Bolsonaro

Aliados querem que presidente ataque Lula por corrupção em atos no Rio e em Brasília

Por Malu Gaspar
O GLOBO

Jair Bolsonaro participa de evento 'Mulheres pela vida e pela família', organizado pelo seu partido, o PL, em Novo Hamburgo (RS) 
Sérgio Ávila/AFP

Desde o início da campanha, este 7 de setembro ocupa um lugar crucial nos planos eleitorais de Jair Bolsonaro. Nos últimos dias, porém, os atos foram ganhando caráter decisivo para a estratégia do presidente.


Depois de semanas prometendo um "7 de setembro light" nos bastidores, até mesmo os aliados mais moderados de Bolsonaro concordam que o presidente tem de partir para "a guerra", especialmente contra Luiz Inácio Lula da Silva e o PT.

Na discussão interna da campanha entre a ala política e a ala ideológica, venceu a tese de que, se o presidente não descarregar sua artilharia para cima do principal adversário imediatamente, pode acabar sendo abatido antes do final da eleição.


Para os bolsonaristas, não há melhor momento para coroar essa estratégia do que os atos de 7 de setembro, em que pastores, lideranças políticas e representantes do agronegócio estarão misturados a militares sobre os palanques.

O consenso no momento é que Bolsonaro precisa radicalizar o discurso nesta reta final do primeiro turno, para manter sua base mobilizada e ganhar tração entre eleitores conservadores e de direita no primeiro turno.


Por isso, aliados esperam que o presidente vá para o ataque não só contra Lula mas também contra ministros do Supremo.

As principais razões para a guinada são a denúncia de que a família Bolsonaro adquiriu 51 imóveis em dinheiro vivo nos últimos anos e os resultados das pesquisas de intenção de voto mostrando um cenário estável, com Lula na liderança folgada sobre o presidente da República.

Atos bolsonaristas no 7 de setembro trazem agenda antidemocrática

Presidente Bolsonaro e apoiadores em todas as regiões do Brasil atacaram o STF e o TSE

Agora, consideram que tem que agir rápido para não deixar que Lula controle a discussão sobre corrupção.


No Supremo, os alvos preferenciais de Bolsonaro nos atos de hoje devem ser Edson Fachin e Luís Roberto Barroso. O primeiro revogou trechos de decretos de Bolsonaro que facilitam posse e compra de armas e munições. O segundo suspendeu a entrada em vigor do piso nacional da enfermagem.

Já se sabe que o chefe do Executivo pretende criticar a operação autorizada por Moraes sobre os empresários bolsonaristas, há duas semanas. Mas sobre isso, a coordenação de campanha – do filho, o senador Flavio Bolsonaro, aos ministros do Centrão – vem argumentando com o presidente que seria melhor que ele fizesse críticas mais genéricas e não atacasse "na pessoa física" o ministro do Supremo Alexandre de Moraes, que autorizou a operação.


Ninguém pode garantir que Bolsonaro vá seguir os conselhos dos aliados e maneirar no tom. Mas o presidente sabe que Moraes – a quem Bolsonaro chamou de canalha nos atos de 7 de setembro do ano passado – hoje é um alvo mais sensível.

No comando do Tribunal Superior Eleitoral, ele vem negociando com o ministro da Defesa a adoção ao menos parcial alguma das sugestões apresentadas para as urnas eletrônicas.


À parte essa ressalva, dizem os conselheiros do presidente, ele pode "aloprar" o quanto quiser, porque é por isso que esperam os apoiadores que vão para as ruas em Brasília e especialmente no Rio de Janeiro.

É lá, ainda, que está o trio elétrico alugado pelo pastor Silas Malafaia, montado a cerca de 150 metros do palanque militar montado na orla de Copacabana. Malafaia já avisou que vai puxar o coro contra Lula, e vários outros aliados vão a Copacabana para bater no STF e lançar suspeitas sobre as urnas eletrônicas. Qual desses motes Bolsonaro vai priorizar só ele sabe, mas os ataques ao petista são considerados obrigatórios.


Desde esta terça-feira (6), as inserções da campanha bolsonarista na TV vêm exibindo personagens que se referem ao ex-presidente como "ladrão". Daqui em diante, a ordem é subir o tom ainda mais.

"Não estão falando dos parentes de Bolsonaro? Então vamos falar dos parentes do Lula", explicou um dos auxiliares do presidente, antecipando um dos assuntos que serão explorados na campanha. Vários outros vídeos e dossiês estão sendo preparados para lembrar ao eleitor dos escândalos de corrupção da era petista.


Embora não admitam, os aliados de Bolsonaro sentiram o golpe das denúncias sobre a compra dos imóveis em dinheiro vivo. Não tanto pelo efeito imediato no eleitorado, que segundo as pesquisas não mudou tanto assim de opinião.

A ideia é levar o eleitor a comparar os bilhões do petrolão com os milhões gastos na compra de imóveis, para reforçar o argumento disseminado entre os defensores de Bolsonaro de que o caso do dinheiro vivo não é nada perto dos escândalos petistas.


Com um repertório como esses, pode-se esperar de tudo deste 7 de setembro. Menos que seja light.

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