SOB DORIA, GASTO COM MANUTENÇÃO DE PALÁCIO DO GOVERNO CRESCE 50%

Foram R$ 870 mil pagos por mês em 2019, maior valor dos últimos dois anos

Por Silvia Amorim e Dimitrius Dantas
Época

Antes e depois da reforma no Palácio dos Bandeirantes 
Foto: Reprodução

Sob a gestão do governador João Doria (PSDB), os gastos com a manutenção predial do Palácio dos Bandeirantes (sede do governo paulista) e do Palácio de Inverno, em Campos do Jordão, tiveram um aumento de 50% no início de 2019 em comparação ao ano anterior. Doria pagou em janeiro e fevereiro deste ano R$ 870 mil por mês pelos serviços de conservação dos palácios, enquanto, em 2018, o maior pagamento registrado tinha sido de R$ 580 mil, em novembro. Os dados estão no Portal da Transparência do governo de São Paulo e atualizados até esta segunda-feira.

O contrato de manutenção dos palácios está no centro de uma polêmica que ganhou espaço nas redes sociais nos últimos dias. Assim que assumiu o governo, Doria iniciou uma reforma no Bandeirantes. Paredes e portas ganharam pintura nova, e salas receberam mobiliário moderno, como sofás, poltronas e mesas. A maior intervenção, entretanto, ocorreu na ala residencial, que Doria transformou em área de trabalho já que decidiu não morar no local. O governador continua morando em sua mansão no Jardim Europa, bairro nobre da cidade.

Apesar de o contrato de manutenção se referir aos dois palácios do governo, o Bandeirantes é o único a passar por reforma neste início de governo. Essa obra é a responsável pelo aumento de despesa em 2019 com o contrato de manutenção predial. Ao longo dos últimos dois anos, esse gasto nunca foi tão alto. Até então, o maior pagamento registrado tinha sido em janeiro de 2017 no valor de R$ 613 mil.

A 2N Engenharia é a empresa contratada desde 2015 pelo governo para cuidar da manutenção dos dois palácios. A cada 15 meses o contrato tem sido renovado, sendo a última renovação feita em outubro do ano passado. Pelo contrato, cabe à empresa fazer a "manutenção predial e serviços complementares com fornecimento de mão de obra e material". Os valores desembolsados pelo governo variam conforme o volume de serviço prestado a cada mês.

O governo de São Paulo não vive tempos de bonança nas finanças. Na segunda-feira, o secretário da Fazenda e Planejamento, Henrique Meirelles, confirmou um déficit projetado de R$ 10,5 bilhões para o orçamento deste ano. Despesas em várias áreas _ exceto saúde, educação e segurança pública — foram congeladas em janeiro à espera de recursos. 

Diante de um eventual questionamento do Tribunal de Contas do Estado, o governo se antecipou nesta segunda-feira e mandou uma nota de esclarecimento aos conselheiros informando que a reforma está sendo executada por meio do contrato já existente para manutenção do palácio. À ÉPOCA, o governo informou nesta terça-feira que já soma R$ 1,1 milhão o gasto este ano para troca de forros, serviços de hidráulica, elétrica, troca de pisos, vidros e pintura na sede do governo. O Palácio dos Bandeirantes foi construído nos anos de 1950 no estilo neoclássico. Apenas a fachada da prédio é tombada como patrimônio histórico. Sob Doria, as paredes brancas ganharam tinta cinza. As enormes portas de madeira foram pintadas na cor preta. Parte do acervo de telas antigas que ficavam nos corredores foi substituída por grandes fotografias em preto e branco, em estilo modernista. Uma tradicional coleção de pratos antigos exposta no "Salão dos Pratos", onde ocorreram banquetes no passado, foi trocada por uma bandeira do estado, e a sala passou a se chamar Sala São Paulo e receber reuniões de trabalho.

O governo Doria alega que a reforma era necessária para corrigir problemas estruturais. "A manutenção foi adotada após vistoria técnica da área administrativa que constatou infiltrações, rachaduras de paredes, presença de cupins na madeira e deterioração do piso", informou em nota o governo à "Época".Segundo a atual gestão, o imóvel não passava por "manutenção corretiva" há 10 anos. O governo não respondeu, entretanto, por qual motivo chegou-se a esse cenário de deterioração se a administração tem dispendido todo mês recursos para a manutenção do prédio há, pelo menos, quatro anos.

Não é a primeira vez que Doria reforma seu gabinete. Quando prefeito de São Paulo, ele também providenciou uma reforma e nova decoração para a sede da prefeitura. Naquela ocasião, espaços ganharam sofás, mesas de centro e até vasos. O serviço foi feito por meio de doação de arquitetos amigos de Doria. Na campanha, o então candidato a governador também providenciou uma reforma completa no imóvel que foi seu comitê eleitoral na capital paulista. A nova roupagem dos Bandeirantes segue o mesmo padrão de cor das paredes e portas e móveis escolhidos por Doria para o imóvel de campanha.

O governo informou a ÉPOCA que todo o mobiliário novo que chegou ao Bandeirantes este ano foi proveniente de doação. Mas não informou quem foram os doadores. A equipe de Doria negou a contratação de um decorador para o serviço. "Não existe decorador responsável. O novo mobiliário foi recebido após termos de doações conforme determina a lei", informou.

Além de sede do governo, o Palácio dos Bandeirantes recebe visitas guiadas para seu acervo artístico. No prédio há obras de Tarsila Amaral, Victor Brecheret, Anita Malfatti, Clóvis Graciano e Tomie Ohtake. A curadora artística do palácio, Ana Cristina Carvalho, disse que a reforma se prestou também a "modernizar" o espaço e "valorizar" as exposições que ali acontecem. "Era tudo um cubo muito branco. Remodelar o palácio vem agregar valor às obras e dar um uso mais contemporâneo e moderno", afirmou, referindo-se às paredes na cor branca. 

Para ela, a reforma não descaracterizou o estilo do imóvel. "De jeito nenhum. Não houve nenhum dano ao patrimônio", disse.

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