PIB NÃO SERÁ ROBUSTO SEM RETOMADA DE CONSUMO, AVALIAM ESPECIALISTAS

Alta da inflação e projeções de queda no PIB afetaram confiança dos consumidores

Rodrigo Castro
ÉPOCA

O ministro da economia Paulo Guedes Foto: Jorge William / Agência O Globo

Os recentes números da economia não estão animando os brasileiros. Com as projeções para o PIB estimando decadência, e as indicações de um trimestre negativo, os índices de confiança dos consumidores voltaram a registrar queda em março, quando a inflação teve alta de 0,75%, a maior do mês desde 2015. O que preocupa especialistas, com os baixos índices de confiança, é o crescimento do consumo das famílias – o chamado “motor” de crescimento do economia.

“O PIB não vai ser muito mais robusto sem a recuperação desse consumo. Há dois vetores: aumento da confiança do consumidor e do mercado de trabalho. Após a eleição, o índice de confiança cresceu, mas depois foi perdendo fôlego”, explica o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio Leal, atrelando a frustração à alta expectativa pela mudança de governo. “A ideia é que não se vê, no curto prazo, uma retomada. Será o terceiro ano seguido sem um PIB ideal”, avalia, ao projetar uma oscilação em torno de 0. Ressalta, porém, que sem choques exógenos, como o rompimento da barragem em Brumadinho (MG), as chances do PIB ser positivo no trimestre seriam maiores.

Segundo a coordenadora do Boletim Macro IBRE/FGV, Silvia Matos, a demanda externa recuou, mas a interna cresceu. “O consumo das famílias representa 60% do PIB sob a ótica da demanda. Enquanto há uma frustração com a indústria, serviços e comércio vão dando uma sobrevida”, destacou. Para ela, a situação advém de uma piora do cenário internacional, no ano passado, com os países emergentes mal avaliados e a consequente queda nas exportações, fora a greve dos caminhoneiros, que causou uma estagnação.

Sem sinais de diminuição do desemprego, Matos aponta que as pessoas se frustraram, o que impacta nas decisões de consumo e investimento. “Boa parte da força de trabalho está subutilizada e 28 milhões não estão felizes em seus empregos. Há os que trabalham, mas não procuram emprego, os desalentados. E ainda houve a desaceleração dos rendimentos. Isso tem um peso”, ressaltou. A aposta na recuperação com a informalidade, segundo a pesquisadora, é ruim tanto individualmente como para a economia. “Tem mais dificuldades de obter crédito e a produtividade é menor”, afirma.

Para Leal, não veremos uma melhora na taxa de desemprego tão cedo – pelo menos não antes do terceiro trimestre - mas pode haver mudanças na estrutura do mercado: uma transição de empregos informais para formais. “Não necessariamente precisa ter queda para ter sinais de melhora”, afirma o economista.

Para o consultor econômico Raul Velloso, ex-secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento, o índice de confiança do consumidor reflete as sensações acerca do que ocorre na vida privada e no país e, mesmo em queda, não há muita novidade. “Mera continuação do ano passado. A economia está em marcha lenta, mas não em crise, no fundo do poço”, afirma. Ele sustenta que as projeções dos indicadores econômicos são muito influenciadas pelos acontecimentos recentes e confia na queda da inflação em breve. “Tende a abaixar nos próximos meses. A economia está desaquecida, não tem por que sair do rumo. E o emprego caminha nesse mesmo sentido”, analisa.

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