PF expõe plano do golpe de Bolsonaro e seus aliados

Revista Meio

Uma ação coordenada para minar a confiança no processo eleitoral, cooptar as Forças Armadas e dar um golpe de Estado, incluindo a prisão de autoridades, que mantivesse Jair Bolsonaro (PL) no poder. Isso foi o que expôs a operação  realizada ontem pela Polícia Federal contra o ex-presidente e seus principais aliados civis e militares. Chamada Tempus Veritatis (tempo da verdade), a ação teve 33 mandados de busca e apreensão e quatro mandados de prisão preventiva. Os policiais amanheceram na porta da casa de praia de Bolsonaro em Angra dos Reis (RJ) para apreender seu passaporte. Na lista de alvos também estavam os ex-ministros Augusto Heleno (GSI), Braga Netto (Casa Civil e Defesa) e Anderson Torres (Justiça) e os ex-comandantes do Exército Paulo Sérgio Nogueira e da Marinha Almir Garnier Santos. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, acabou preso por porte ilegal de arma e por deter uma pepita de ouro pertencente à União. A operação foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes em um documento de 135 páginas. As informações que embasaram a operação foram coletadas na delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Segundo a PF, as investigações apontam que o grupo se “dividiu em núcleos de atuação para disseminar a ocorrência de fraude nas eleições presidenciais de 2022, antes mesmo da realização do pleito, de modo a viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital”. (Folha)

Entenda o que as investigações revelam. (g1)

Um documento defendendo e anunciando a decretação do estado de sítio e da Garantia da Lei e da Ordem no país foi encontrado pela PF na sede do PL em Brasília. Segundo o colunista Valdo Cruz, o texto estava na sala de Bolsonaro. O conteúdo parece uma espécie de discurso, sustentando que a ruptura do Estado Democrático de Direito estaria “dentro das quatro linhas da Constituição”, expressão muito usada pelo ex-presidente. “Afinal, diante de todo o exposto, e para assegurar a necessária restauração do Estado Democrático de Direito no Brasil, jogando de forma incondicional dentro das quatro linhas, com base em disposições expressas da Constituição Federal de 1988, declaro o estado de Sítio e, como ato contínuo, decreto operação de garantia da lei e da ordem”, diz o parágrafo final. (g1)

Fábio Wajngarten, ex-chefe da Secretaria de Comunicação Social e advogado de Bolsonaro, disse que o documento é “apócrifo” e que o padrão “não condiz com tradicionais e reconhecidas falas e frases” do ex-presidente. (Estadão)

A operação de ontem foi baseada também em um vídeo encontrado na casa de Mauro Cid, mostrando uma reunião realizada em 5 de julho de 2022 para discutir o golpe. Para Moraes, a reunião “nitidamente, revela o arranjo de dinâmica golpista no âmbito da alta cúpula do governo, manifestando-se todos os investigados que dela tomaram parte”. Ele também diz que todos os participantes ajudaram a difundir mentiras no período eleitoral sobre o então candidato Lula, o TSE e os ministros do STF. (UOL)

Segundo a transcrição, Anderson Torres (ministro da Justiça), diz que está desentranhando as relações do PT com a facção criminosa PCC. Já Paulo Sérgio Nogueira (ministro da Defesa) tratou o TSE como inimigo e disse que a Comissão de Transparência da corte era “pra inglês ver”, constituindo um “ataque à democracia”. O general Heleno (chefe do GSI), por sua vez, disse que conversou com o diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência “para infiltrar agentes nas campanhas eleitorais”. Mas foi calado por Bolsonaro. E destacou a necessidade de os órgãos do governo atuarem pela vitória de Bolsonaro: “Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições.” E Braga Netto não poupou seus colegas de farda: xingou e ofendeu integrantes da cúpula das Forças Armadas por não aderirem aos planos golpistas, segundo mensagens de celulares apreendidos pela PF. Em uma delas, ele se refere ao general Freire Gomes como “cagão”. Também chama o tenente-brigadeiro Baptista Júnior, ex-comandante da Força Aérea Brasileira, de “traidor de pátria”. Para Moraes, tais conteúdos são “elementos indicativos da real expectativa que permeava o grupo quanto à permanência no poder”. (Globo)

Há indícios também de que Bolsonaro recebeu de seus assessores Filipe Martins, preso ontem, e Amauri Ferez Saad a minuta de um golpe e pediu alterações no texto. A versão original previa a prisão de Moraes, do também ministro do STF Gilmar Mendes e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), mas o então presidente teria mandado retirar os dois últimos nomes da ordem. Moraes, apontam os investigadores, tinha os passos acompanhados para facilitar sua prisão quando o golpe fosse deflagrado. (g1)

Bolsonaro, que teve de entregar seu passaporte, nega ter recebido qualquer documento referente a uma “minuta de golpe” de Martins. Ele afirmou que nem sequer despachava com o ex-auxiliar. “Nunca chegou a mim nenhum documento de minuta de golpe, nem nunca assinei nada relacionado a isso. Até porque ninguém dá ‘golpe’ com papel.” (Veja)

Para o presidente Lula, a tentativa golpista de 8 de janeiro de 2023 não teria acontecido sem a participação de Bolsonaro. “O cidadão que estava no governo não estava preparado para ganhar, não estava preparado para perder, não estava preparado para sair. Tanto é que não teve nem coragem de me dar posse ficou em casa chorando e foi embora para os Estados Unidos. Ele deve ter participado da construção dessa tentativa de golpe. Então vamos esperar as investigações”, disse. (g1)

Já parlamentares da oposição criticaram a ação da PF. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou nas redes sociais que “a política do Brasil hoje é feita no STF”. O ex-vice-presidente e senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) disse que “inquéritos eternos” sobre a “pretensa tentativa de golpe” atacam a honra e a integridade de chefes militares “que dedicaram toda uma vida” ao país. E a senadora e ex-ministra Damares Alves (Republicanos-DF) afirmou que recebeu a operação “com indignação, mas nenhuma surpresa”. (Folha)

Como não podia deixar de ser, os memes invadiram as redes. (Poder360)

Eliane Cantanhêde: “A prisão do ex-presidente Bolsonaro tarda, mas não falha e tem até um cronograma: o STF e a PF não pretendem correr nenhum risco jurídico, policial ou político e só pretendem chegar a esse ponto depois das investigações, das instâncias de julgamento e da eventual condenação pela mais alta corte de justiça do país. Não estão previstas prisão preventiva ou temporária, só depois da tramitação em julgado”. (Estadão)

Vinicius Torres Freire: “Há golpismo nas Forças Armadas, está mais evidente. Cid e colegas estudaram ‘intervenção militar’ (golpe) na escola de pós-graduação do Exército. Parte da elite, ricos, apoiava ou financiava o golpe ou era conivente, omissa, em defesa do ‘liberalismo’ (não pagar imposto, arrancar o couro do povo e o resto que se dane). Parte do Congresso criticou e menosprezou a operação da PF. É preciso ir mais a fundo, pois, sem anistia. O golpismo não acabou, como se vê”. (Folha)

Meio em vídeo. Foi golpe. Até 7 de fevereiro de 2024, poderíamos discutir semântica. Depois da decisão de Moraes, baseada numa investigação da PF e corroborada pela Procuradoria-Geral da República fica claro: planejou-se um golpe militar com vários generais no comando. Confira o que pensa Pedro Doria no Ponto de Partida. (YouTube)

Mais Meio em vídeo. A operação da PF contra Bolsonaro, ex-ministros e assessores é um aviso de que o gato subiu no telhado. É um preparatório do que está por vir. É o sinal de que a prisão do ex-presidente é uma questão de tempo, comenta Mariliz Pereira Jorge na coluna De Tédio a Gente Não Morre. (YouTube)

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