Por que Valdemar Costa Neto está em silêncio sobre o escândalo das joias

Por Rafael Moraes Moura — Brasília
O Globo

O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto
 Cristiano Mariz/O Globo

Ainda não se ouviu de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, nenhuma palavra em defesa de Jair Bolsonaro desde que veio à tona o caso das joias sauditas de R$ 16,5 milhões apreendidas pela Receita Federal. Valdemar, que em outros episódios críticos assumiu as brigas de Bolsonaro, desta vez está procurando manter distância do caso.


Na última sexta-feira, quando novos desdobramentos do caso ainda surgiam, o presidente do PL anunciou a criação de uma conta no Twitter e saiu em defesa do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), acusado de transfobia após subir ao plenário da Câmara vestindo uma peruca loira e dizer que se "sentia mulher".

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O silêncio sobre o caso das joias obedece a um cálculo político bem definido. O presidente do PL e seu grupo tem repetido nos últimos dias que o escândalo atinge diretamente Jair Bolsonaro e diz respeito à sua passagem pela presidência da República e não ao partido, e que por isso não caberia às Valdemar se meter nesse vespeiro.


Desde que o caso começou, uma ala do PL, mais radical de direita, pressiona Valdemar para assumir a defesa pública de Bolsonaro. Já a parcela mais moderada do partido não vê ganho político em defender o ex-presidente neste momento — diferentemente do que aconteceu logo após a eleição.

Há poucos meses, quando Bolsonaro estava politicamente forte e os acampamentos golpistas em portas de quartéis se multiplicavam pelo Brasil, o partido pagou por uma auditoria privada nas urnas e depois Valdemar ainda bancou as acusações infundadas de fraude — uma causa que também interessava exclusivamente a Bolsonaro, já que o PL havia acabado de eleger a maior bancada do Congresso Nacional e não tinha motivos para contestar esses resultados.


Agora, porém, o cenário é outro. Os próprios dirigentes do PL admitem que o caso das joias está derretendo a popularidade do ex-presidente, num momento em que ele já enfrentava queixas de seguidores por ter viajado para os Estados Unidos há mais de 70 dias.

Além de descontentar os radicais que ficaram mobilizados no Brasil e se sentiram abandonados, Bolsonaro também desagradou ao PL, que esperava fazer dele um trunfo no fortalecimento do partido como oposição ao governo Lula.


Após a derrota na eleição, Bolsonaro acertou com Valdemar que ocuparia um posto no PL com salário equivalente ao de ministro do STF – na faixa de R$ 39,3 mil.

Mas isso, claro, se voltasse dos Estados Unidos e começasse a trabalhar no escritório da legenda em Brasília.


Mas Bolsonaro continua na Flórida, sem previsão de data para voltar. Conforme informou a coluna, até mesmo entre seus aliados há divergência sobre o melhor timing para o retorno dele ao Brasil.

Portanto, da mesma forma que Bolsonaro ainda não deu as caras no Brasil e não demonstra preocupação em trabalhar pelo PL, o partido também não teria por que abraçar uma crise que não é sua, de acordo com interlocutores de Valdemar.


É uma situação diferente da de Michelle Bolsonaro, que tem dado expediente no partido e se prepara para assumir formalmente a presidência do PL Mulher no próximo dia 21.

Embora o escândalo também tenha acertado Michelle em cheio, já que os assessores do governo disseram que as joias apreendidas na aduana do aeroporto de Guarulhos eram um presente para ela, dirigentes do PL têm repetido que a ex-primeira-dama caiu de gaiata na história e foi surpreendida tanto pela existência das joias quanto pela notícia de sua apreensão.


No PL, a ordem é blindar Michelle Bolsonaro, que ainda permanece sendo o “plano B” de Valdemar para disputar a Presidência da República em 2026, diante da possibilidade crescente de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tornar Jair Bolsonaro inelegível por abuso de poder político e econômico na última campanha. Nesse caso, o ex-presidente ficaria impedido de disputar qualquer cargo público pelos próximos oito anos.

Enquanto Valdemar “lava as mãos”, a gestão da crise dos Bolsonaro tem sido feita pelo ex-secretário de Comunicação Social da Presidência Fabio Wajngarten.


Apesar de o PL ter sondado um advogado criminalista ligado ao partido para traçar uma ofensiva jurídica, o caso acabou parando nas mãos de Frederick Wassef, advogado pessoal de Bolsonaro e sua família desde antes de ele ser eleito presidente.

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