Bolsonaro volta a repetir ameaças contra a democracia


Deutsche Welle

Em evento boicotado por lideranças do Congresso, presidente transforma bicentenário da Independência em palanque de campanha, incita apoiadores contra o STF, cita golpe de 1964 e diz que "a história pode se repetir".

O presidente Jair Bolsonaro usou nesta quarta-feira o feriado de 7 de Setembro, que marca os 200 anos de Independência do Brasil, para fazer campanha política e voltar a ameaçar outros poderes e o sistema democrático.

Diante de milhares de apoiadores reunidos na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, Bolsonaro fez elogios ao seu governo, afirmou que o Brasil tem pela frente "uma luta do bem contra o mal", pediu a seus eleitores que convençam "quem pensa diferente" sobre "o que é melhor para o Brasil" e fez referências em tom de ameaça ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Legislativo.

Mais cedo, durante café da manhã no Palácio da Alvorada que foi trasmitido nas redes sociais, o presidente de extrema direita citou episódios históricos de tensão política e ruptura democrática no Brasil, incluindo o golpe militar de 1964, e disse que a "a história pode se repetir".

"Quero dizer que o brasileiro passou por momentos difíceis, a história nos mostra. 22, 65, 64, 16, 18 e, agora, 22. A história pode repetir. O bem sempre venceu o mal", disse o presidente.

Em Brasília, Bolsonaro participou de dois eventos. Um desfile militar para marcar o 7 de Setembro e um evento com apoiadores. Neste ano, ao contrário de desfiles anteriores, os chefes dos poderes Legislativo e Judiciário não compareceram ao o evento. Apesar de serem aliados do presidente, os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, têm evitado abraçar a pregação golpista de Bolsonaro.

Sem os chefes dos outros poderes, Bolsonaro acabou acompanhando o desfile ao lado da primeira-dama, Michelle, o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa – que parecia desconfortável durante o evento – e o bilionário de extrema direita Luciano Hang, que recentemente foi alvo de uma operação da Polícia Federal por suspeita de defender um golpe militar com outros empresários.

Após o desfile, Bolsonaro subiu num caminhão de som que foi pago por apoiadores para discursar. Vários espectadores da base extremista do presidente exibiram cartazes com mensagens anticonstitucionais, pedindo uma intervenção militar e o fechamento do Judiciário e do Congresso.

Ameaça a outros poderes

O presidente também mencionou outros poderes de forma ameaçadora. "Podem ter certeza, é obrigação de todos jogarem dentro das quatro linhas da nossa Constituição. Com uma reeleição, nós traremos para dentro dessas quatro linhas todos aqueles que ousam ficar fora delas", declarou.

"Fico feliz em ter ajudado a chegar até vocês a verdade e que o conhecimento liberta. Hoje todos sabem o que é o Poder Executivo, a Câmara dos Deputados, o Senado, e todos sabem o que é o STF", disse Bolsonaro A referência ao Supremo provocou vaias, e o presidente, que mantém uma relação tensa com o tribunal, aproveitou para emendar: "A voz do povo é a voz de Deus".

No 7 de Setembro de 2021, Bolsonaro também usou o feriado para atacar o STF. Na ocasião, a crise entre os poderes chegou a um quase ponto de ruptura quando o presidente ameaçou não cumprir determinações do ministro Alexandre de Moraes, considerado um adversário do bolsonarismo por liderar inquéritos que atingem aliados do presidente.

Em desvantagem nas pesquisas e com risco de não conseguir ser reeleito – o último Datafolha aponta que Bolsonaro está 13 pontos atrás do petista Luiz Inácio Lula da Silva –, Bolsonaro também usou o evento desta quarta-feira para pedir votos e atacar o PT. "Sabemos que temos pela frente uma luta do bem contra o mal, um mal que perdurou por 14 anos em nosso país, que quase quebrou a nossa pátria e que agora deseja voltar à cena do crime", disse o presidente.

Em seu discurso, Bolsonaro não citou os principais problemas que o Brasil enfrenta, como o crescimento da fome e da inflação ou o desemprego.

"A vontade do povo se fará presente no próximo dia 2 de outubro, vamos todos votar, vamos convencer aquelas pessoas que pensam diferente de nós, vamos convencê-los do que é melhor para o nosso Brasil", afirmou Bolsonaro.

Falas machistas

Na sequência, o presidente fez uma série de declarações machistas. Na fala, Bolsonaro exaltou sua esposa, a primeira-dama Michelle, e a comparou com a esposa do seu adversário Lula, Rosângela Silva, a Janja.

"Podemos fazer várias comparações, até entre as primeiras-damas. Não há o que discutir", disse Bolsonaro. Em seguida, ele disse que a evangélica Michelle é "uma mulher de Deus, da família". A última fala ocorre após a máquina de propaganda bolsonarista nas redes sociais ter espalhado mensagens nas últimas semanas que tentam associar de maneira preconceituosa Janja a religiões de matriz africana.

Por fim, Bolsonaro sugeriu que "homens solteiros" procurem "uma princesa" para "se casar". "Eu falo aos homens solteiros: procure uma mulher, uma princesa, se case com ela para serem mais felizes ainda", finalizou o presidente, que logo na sequência passou a puxar um coro berrando repetidamente a palavra "imbrochável".

No momento, Bolsonaro enfrenta dificuldades para conquistar o voto feminino. Segundo o último Datafolha, Lula lidera nesse segmento com 48% das intenções de voto, contra 29% do atual ocupante do Planalto.

As novas falas machistas de Bolsonaro provocaram reação das candidatas à Presidência Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil).

"Além de pária internacional devido à falta de segurança e de estabilidade política, agora o país também vira motivo de chacota pelas falas machistas do seu líder, que deveria dar exemplo. O Brasil não merece o governo que tem!", escreveu Tebet no Twitter.

Soraya também usou a rede social para afirmar que "o presidente insiste em propagar que é imbrochável, informação que, sinceramente, não interessa ao povo brasileiro". "O que o Brasil precisa, mesmo, é de um presidente incorruptível", escreveu a candidata do União Brasil.

Após deixar Brasília, Bolsonaro segue para o Rio de Janeiro, onde deve participar de mais um evento em Copacabana, que deve misturar apoiadores e um desfile das Forças Armadas.

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