A Educação maltratada

Por Edson Antonio Miranda*

Edson Antonio Miranda. 
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

O Ministério da Educação tem feito com que a imprensa estampe várias manchetes nos últimos tempos. Infelizmente, não são notícias relacionadas ao seu bom desempenho ou à elevação da qualidade do ensino nas escolas de nossa pátria. Tudo gira em torno dos desacertos na nomeação dos titulares da pasta. O último nem sequer chegou a tomar posse formalmente. Aliás, lamentável acontecimento.

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No meio acadêmico, titulação gera respeito e admiração, uma vez que, para obtê-la, faz-se necessária extrema dedicação aos estudos, disciplina e abdicação de vida social por alguns anos. O prêmio para toda essa árdua tarefa é o título acadêmico. Assim, quando alguém diz que é o que não é, na área universitária, gera-se indisfarçável constrangimento. Para os verdadeiros acadêmicos é um pecado capital, sem absolvição. Não há penitência para tamanha infração.

Isto é apenas a ponta do iceberg, que está rompendo o casco do nosso transatlântico educacional.

Temos uma embarcação imensa repleta de estudantes, ávidos por conhecimento, mas, nos últimos tempos, o timão está solto e os tripulantes apenas distribuem salva-vidas, para que seus passageiros possam tentar se salvar no mar revolto da vida.

No final da década de 60 do século passado, tivemos a expansão do ensino básico (fundamental e médio) e, em ordem inversa, quanto mais se expandia, mais despencava a qualidade da educação pública. Passados trinta anos, mais uma vez, veio nova expansão, agora no ensino superior, sob o argumento de que “o mercado” manteria apenas as boas universidades. Nada deu certo. O ensino superior perdeu qualidade e o aluno virou uma “commodity”. As famílias mantenedoras das instituições de ensino superior saíram de cena e no palco das universidades ingressaram as grandes corporações. Saiu do estrelato o compromisso com a educação e entrou a busca pelo lucro.

Hoje, o diploma universitário não tem o condão de transformar o seu portador em um profissional plenamente habilitado para as lides laborais. Ao contrário, em qualquer processo de seleção da atualidade, a pós-graduação tornou-se requisito indispensável para admissão. E sabe-se o porque? A resposta é simples. O diplomado na graduação hoje tem uma formação deficiente, sendo pouco exigido em suas avaliações e, em muitos casos, não dá o devido valor ao seu professor. Ele quer apenas o diploma, seu salva-vidas. Porém, esse salva-vidas está impregnado de chumbo e vai levá-lo, provavelmente, às profundezas da ignorância.

E veja-se que o problema não é decorrente da falta de recursos, ao contrário, estes não faltam. O que falta é uma política educacional de Estado de longo prazo, valorizando o professor, dando-lhe incentivo financeiro e apoio técnico, além de aprimoramento de sua formação. Ser professor deveria ser o desejo máximo de um profissional e sua condição também deveria ser admirada pela sociedade brasileira.

Dom Pedro II dizia que: se não fosse o imperador do Brasil gostaria de ser professor. E a história confirma a predileção do nosso antigo monarca pelos estudos e pela atividade docente.

Infelizmente, os nossos docentes estão longe desse cenário. Se indagar alunos do ensino médio acerca da futura profissão, poucos braços se levantarão para indicar que desejam ser professores.

Data-show, notebook, internet, holograma ou qualquer outra modernice nunca substituirá o mestre no seu tablado transmitindo conhecimento a seus discípulos.

A docência não é a profissão do futuro. Ela é o futuro da nação.

Ao aluno tem que se dar todos os meios para absorver o conhecimento, desenvolver raciocínio lógico e capacidade para solucionar as mais variadas questões impostas pela vida profissional, social e moral.

Não é nada muito complicado, precisa apenas ter um diretor competente para dirigir essa peça de teatro da vida educacional brasileira, que nunca se finda, seguindo um roteiro bem escrito.

Infelizmente, no cenário do teatro da vida educacional brasileira, a máscara reinante é a da tragédia.

*Edson Antonio Miranda, advogado, professor universitário e escritor. Foi reitor do FIAMFAAM – Centro Universitário

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