Nomeado por Temer recua e Comissão de Ética abre processo contra Geddel

Pedro Ladeira/Folhapress 

O ministro da secretaria política Geddel Vieira Lima, durante entrevista à Folha, em seu gabinete

GUSTAVO URIBE
MARINA DIAS
DANIEL CARVALHO
VALDO CRUZ
DE BRASÍLIA

A Comissão de Ética da Presidência da República abriu nesta segunda-feira (21) procedimento investigativo para apurar se o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, violou a legislação sobre conflito de interesse.

Nomeado pelo governo de Michel Temer, o conselheiro José Saraiva recuou de pedido de vista que havia solicitado pela manhã e, na tarde desta segunda-feira (21), apresentou voto pela instauração de inquérito para avaliar acusação contra o peemedebista.

Segundo a Folha apurou, a mudança atendeu a pedido de Geddel, que telefonou inclusive para o presidente da Comissão de Ética, Mauro Menezes, pedindo para que o colegiado federal antecipasse a votação.

Saraiva foi o último conselheiro a ser nomeado para a Comissão de Ética, no início de setembro.

Advogado, ele conselheiro é professor de direito processual em Brasília e advogou para o DEM e o PSDB, partidos que integram o governo peemedebista.

Em 2012, ele recebeu o título de cidadão soteropolitano pela Câmara Municipal de Salvador, em uma homenagem proposta pelo então presidente Pedro Godinho (PMDB-BA), aliado de Geddel.

Com a abertura do processo, o ministro terá dez dias para se pronunciar sobre a acusação feita à Folha pelo ex-ministro Marcelo Calero (Cultura), segundo o qual Geddel o teria pressionado a liberar um empreendimento imobiliário no qual tem um apartamento.

Segundo Menezes, "há materialidade para a abertura do processo" e tanto o código de conduta da alta administração federal como a lei de conflito de interesses tratam sobre a eventual confusão por um gestor público entre interesses públicos e privados.

"Há dispositivo expresso na lei de conflito de interesse sobre a interferência, mesmo que informal de autoridade em relação a interesse privado ou de um terceiro, e que configura violação. Essa é uma previsão geral, não podemos dizer que aconteceu no caso em concreto, porque ainda não abrimos o processo", disse.

Caso seja aberta a investigação e a conduta do ministro seja considerada irregular, o código da alta administração federal prevê tanto uma simples advertência como recomendação de exoneração ao presidente Michel Temer.

A comissão de ética é uma instância consultiva da Presidência da República e não tem poder decisório.

Uma recomendação de demissão, contudo, tem o poder causar constrangimento ao Palácio do Planalto.

FICO

Temer, que não havia se manifestado desde sexta-feira (19), quando Calero pediu demissão, cobrou explicações a Geddel e, durante almoço no Palácio da Alvorada nesta segunda, garantiu que o ministro continuaria na linha de frente no governo.

O presidente, contudo, sabia da pressão que Geddel fez sobre Calero desde quarta-feira (16) e, mesmo assim, tentou evitar a demissão do então ministro da Cultura.

A aliados, o presidente reconheceu que Geddel cometeu um "erro" ao pressionar Calero, mas que o motivo era "pequeno" para justificar a demissão do articulador político do Planalto.

Auxiliares de Temer afirmam que Geddel deve pedir desculpas públicas. A avaliação é que, diante de escândalos de corrupção revelados pela Lava Jato, o país não aceita mais esse tipo de comportamento por parte de um ministro. Temer ponderou, inclusive, que, caso surjam outras denúncias, a situação de Geddel será reavaliada.

A denúncia contra o ministro melindrou seus colegas de Planalto, que passaram o dia esquivando-se de comentar o assunto publicamente.

"Essa é uma questão que tem que ser avaliada no devido momento pelo presidente da República", disse o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, sobre a permanência de Geddel.

Segundo o novo ministro da Cultura, Roberto Freire, Temer concordou com a decisão de se respeitar o posicionamento do Iphan.

"Ele (Temer) concordou com a tese do Iphan. (Disse que) estava correta a decisão de respeitar o órgão técnico", disse à Folha.

No governo Dilma Rousseff, por exemplo, o órgão federal recomendou a demissão do então ministro Carlo Lupi (Trabalho).

A presidente não acolheu o pedido, mas cinco dias depois o próprio ministro pediu para deixar o cargo.

Da Folha de São Paulo

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