Analistas atribuem queda de Marina a ataques e fim da comoção nacional

Após crescimento vertiginoso com entrada súbita na corrida eleitoral, candidata do PSB vira centro das críticas dos rivais, sofre desgastes e começa a cair nas pesquisas

Carta Capital

Vagner Campos / MSILVA Online
Marina Silva discursa em evento em Curitiba, na quinta-feira 25

As intenções de voto em Marina Silva (PSB) parecem passar por um refluxo. Depois de um crescimento vertiginoso em agosto, mês em que a candidata entrou na disputa pela Presidência da República, pesquisas recentes indicam tendência de queda. Para os especialistas, o desgaste político da campanha, somado ao esgotamento da comoção nacional gerada pela trágica morte de Eduardo Campos, explicam a piora no desempenho da ambientalista nas pesquisas. Com a tragédia, Marina havia sido alçada ao centro da corrida eleitoral.

"A tragédia lhe deu muita atenção da mídia. Ela passou horas e horas na televisão, como nunca tinha aparecido na sua vida, e foi catapultada para uma posição muito forte. É o que chamamos de efeito anabolizante", diz o diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública da Unicamp, Valeriano Costa.

Os estudiosos lembram que Marina já tinha um grande potencial de voto, de cerca de 20% do eleitorado, desde as eleições de 2010. Entretanto, no início de setembro, a candidata chegou a aparecer com 33% numa pesquisa do Ibope, a apenas quatro pontos de Dilma Rousseff (PT), e bem à frente de Aécio Neves (PSDB).

"Os indecisos, que não queriam votar nem em Aécio nem em Dilma, optaram por Marina. Ela politizou gente que tinha se despolitizado e assim cresceu muito nas intenções de voto", afirma Renato Janine Ribeiro, o professor de Ética e Filosofia política da Universidade de São Paulo.

Menos de um mês depois, em um novo levantamento do instituto, Marina caiu para 29%. Ao mesmo tempo, Dilma e Aécio se recuperaram, atingindo 38% e 19%, respectivamente. "Agora há um refluxo. Muitos dos votos que a Marina havia roubado de Dilma e Aécio voltaram para esses candidatos. Além disso, os indecisos, que tinham diminuído, voltaram a aumentar", explica Costa.

Os especialistas avaliam que, a esta altura, boa parte do encanto e do entusiasmo iniciais com a candidata passaram. O eleitorado que havia migrado para Marina não a conhecia tão bem, e agora parte dele voltou atrás. Aqueles que já eram fiéis à ambientalista continuam a apoiá-la. "Ela caiu porque subiu depressa demais", opina Ribeiro.

Por ter entrado tarde na campanha, Marina enfrentou dificuldades que outros candidatos não enfrentaram, mas também foi beneficiada pela situação. O principal deles foi o de ter escapado de críticas e ataques por mais de um ano. Isso explicaria a alta intenção de voto da nova candidata, que tinha um índice de rejeição muito baixo.

"Quem entra no final tem uma vantagem, porque entra incólume. Ela não sofreu a pancadaria política que Dilma, Aécio e o próprio Eduardo Campos sofreram", diz Janine Ribeiro. Já dentro da campanha eleitoral, a realidade era diferente, e Marina perdeu votos. "Ela passou a sofrer o desgaste natural de ser uma candidata como outro qualquer, começou a ser criticada, cobrada e avaliada pelo eleitorado", aponta Costa.

Além disso, Marina conta com pouco tempo no horário eleitoral gratuito, em comparação aos outros candidatos. Isso, segundo o especialista, torna a campanha bastante desigual – e ainda mais desgastante para a ambientalista.

De acordo com os especialistas, Marina expôs fragilidades de sua candidatura durante a campanha. Inconsistências em seu programa de governo e recuos públicos teriam criado incertezas em relação a ela. "Isso já era previsto. Ela não tinha coordenação de campanha, equipe coesa nem programa de governo. Tudo isso foi feito apressadamente, e as contradições vieram a público, assim como os conflitos internos em seu próprio grupo de apoio", afirma o cientista político Marco Antonio Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas.

Os recuos da candidata foram rapidamente aproveitados pelas campanhas de Aécio e Dilma e ajudaram a desconstruir a imagem de Marina. Na avaliação dos analistas, as propagandas dos opositores foram decisivas para a queda das intenções de voto na ambientalista. Marina afirma que não se preocupa com as pesquisas e que é vítima de ataques mentirosos dos adversários. "PT e PSDB estão unidos pela primeira vez na história do país em uma cruzada contra mim", afirmou recentemente.

Costa, entretanto, afirma que a ambientalista apenas passa por um movimento natural de refluxo. "Não existe esse poder de acabar com um candidato somente com campanha. O eleitor não é bobo, ele desconfia da propaganda", afirma. Como lembram os especialistas, a própria campanha de Marina evidenciou suas fraquezas. "As campanhas do PT e do PSDB ajudaram, mas não foram do nada, elas aproveitaram as contradições da candidata", ressalta Teixeira.

Costa menciona a independência do Banco Central como um erro estratégico. Segundo ele, incluir um tema polêmico como uma das principais bandeiras de campanha é muito arriscado. Ele lembra que nem Aécio, considerado o candidato mais neoliberal, fez essa proposta. Ele compara a situação a uma luta de boxe. "O campeão, que seria Dilma, pode ficar na defensiva. Mas o desafiador, a Marina, tem que dar a cara a tapa. Só que não pode cometer erros. A Marina abriu muito o flanco, se expôs demais e apanhou muito", avalia.

Entre os especialistas há dúvidas se a candidata vai continuar perdendo votos. Para Costa, o eleitorado da ambientalista "desinchou" e voltou ao seu patamar natural, de 2010. E alerta: Marina não vai sumir do mapa eleitoral. "A política não é essa montanha-russa. Às vezes o cenário se altera repentinamente, como ocorreu nessa campanha, que teve eventos espetaculares. Mas a base de preferência do eleitor é mais estável e segue outro ritmo, de longo prazo", defende. Teixeira concorda que o cenário tende a se estabilizar. A grande incerteza, agora, passa a ser o segundo turno. "Aí sim a Marina perdeu muito, cerca de 11 pontos", lembra.

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