Paulo Freire: 102 anos - De Patrono da Educação Brasileira a alvo de ataques da extrema direita

Educador brasileiro é exemplo internacional, mas foi eleito inimigo no Brasil nos últimos anos, principalmente por apoiadores de Bolsonaro

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Paulo Freire. Wikimedia Commons

Paulo Freire faria 102 anos nesta terça-feira (19). O educador, nascido no Recife (PE), se consagrou como Patrono da Educação Brasileira por sua prática pedagógica de ensino baseada na educação emancipadora e próxima à realidade dos estudantes, considerada revolucionária em sua época.

Justamente por defender uma educação crítica, Paulo Freire, que faleceu em 1997, se tornou alvo da extrema direita e vítima de inúmeras fake news nos últimos anos, principalmente durante o governo Bolsonaro, que tratou professores e a educação como inimigos.

Trajetória de Paulo Freire

Freire começou sua trajetória na educação como professor de Língua Portuguesa no Colégio Oswaldo Cruz, onde havia estudado. Depois, passou a dar aulas de Filosofia na Escola de Belas Artes da UFPE.

Mas foi em 1955 que ele começou a dar os primeiros passos para criar o modelo de educação que se tornaria referência no Brasil e no mundo. Naquele ano, ele fundou o Instituto Capiberibe, com a proposta de oferecer uma escola alternativa, que fosse o oposto à educação conservadora da época.

Nascia a “Educação como prática da liberdade”, conceito que se tornaria o nome de seu primeiro livro em 1967. Paulo defendia que a prática de ensinar precisava estar conectada à realidade dos que aprendem.

“Paulo Freire me ajudou em toda a minha trajetória no magistério com classes de alfabetização. Se sou a professora que sou, se alfabetizei alunos considerados 'perdidos' pela educação formal, devo ao Paulo”, conta a professora aposentada Simone Oliveira, que se dedicou por mais de 30 anos à educação pública.

"E não há segredo: suas máximas, ‘não existe educação sem amor’ e ‘ensinar é impregnar de sentido o que fazemos a cada instante’, se aplicadas, não há como errar".

Já em 1958, Paulo Freire apresenta, no II Congresso Nacional de Educação de Adultos, no Rio de Janeiro (RJ), o que seria sua maior realização na educação: o sistema de alfabetização de adultos.

Em 1961, como diretor do Departamento de Extensões Culturais da Universidade do Recife, Paulo monta um grupo de educação popular para alfabetizar 300 cortadores de cana em 45 dias.

Dois anos depois, em 1963, ele realiza sua experiência mais conhecida: cerca de 300 trabalhadores foram alfabetizados em 40 horas em Angicos, Rio Grande do Norte. Na época, ele atuava no Movimento de Cultura Popular (MCP), direcionado à alfabetização e conscientização de trabalhadores através da cultura.

I Congresso de Alfabetizandos da cidade de São Paulo do MOVA-SP - 
 Arquivo Instituto Paulo Freire

No mesmo ano, Darcy Ribeiro, ministro da Educação na época, pediu que Freire criasse um Programa Nacional de Alfabetização. Ele também foi nomeado presidente da Comissão de Cultura Popular, criada por Darcy no ministério. O programa foi publicado em 1964, mas com a ascensão da Ditadura Militar, não chegou a ser desenvolvido e Paulo Freire foi preso em Olinda, acusado de “subversivo e ignorante”.

O educador depois partiu para o exílio, onde escreveu a maioria de suas obras, como “Pedagogia do Oprimido”, que debatia a educação sem pensamento crítico.

De volta ao Brasil após a abertura política, Freire se tornou Secretário da Educação em São Paulo, em 1989, e liderou práticas revolucionárias no ensino.

O educador ficou reconhecido internacionalmente, tendo recebido inúmeros prêmios, como Prêmio Rei Balduíno para o Desenvolvimento (Bélgica, 1980), Prêmio Unesco da Educação para a Paz (1986) e Prêmio Andres Belloda Organização dos Estados Americanos, como Educador dos Continentes (1992). Também recebeu o título de doutor Honoris Causa por 27 universidades.

Em 2012, Paulo Freire recebeu o título de Patrono da Educação, se consagrando como o educador mais importante do país pela luta em prol da universalização da Educação Básica e da Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Cerimonia de reinauguração do painel que homenageia Paulo Freire na CUT-DF 
Valter Campanato/Agência Brasil

Ataques da extrema direita

Devido a toda essa sua luta pela educação crítica, Paulo Freire é alvo do discurso de ódio desde Angicos, passando pela Ditadura Militar e chegando ao bolsonarismo. O movimento inflamado pelo ex-presidente acusa a prática pedagógica de Freire de “método de doutrinação esquerdista”.

“Nunca, nesses 30 anos de magistério, imaginei ser testemunha dos ataques que Freire passou a sofrer de uns dez anos pra cá. Pessoas que jamais sequer leram um único artigo dele, que nem sabem que ele morreu em 1997, que nunca foi utilizado como prática pedagógica de Estado, infelizmente, atacando a escola, falando que o analfabetismo é 'culpa da geração Paulo Freire'. Que geração? Paulo é reverenciado no mundo todo, enquanto aqui é atacado por todos os lados”, manifesta Simone.

Em 2021, uma liminar da Justiça Federal do Rio de Janeiro teve que proibir o governo de Bolsonaro de "praticar qualquer ato institucional atentatório à dignidade do professor Paulo Freire".

Em 2022, ao restabelecer o programa Brasil Alfabetizado, destinado ao ensino para quem tem 15 anos ou mais, o ex-presidente acabou com a Medalha Paulo Freire.

Agora, com o novo governo do presidente Lula, Simone conta que espera que "Paulo Freire volte a ser respeitado como merece por tudo que fez pela educação no nosso país".

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