Ibovespa volta aos 100 mil pontos após ata do Copom; ABEV3 salta 4,8%

Enquanto investidores digerem o tom duro do BC e aguardam novo arcabouço fiscal, Ambev sobe com a recuperação judicial do Grupo Petrópolis, dona da Itaipava.

Por Bruno Carbinatto
VC S/A


Os ventos contrários até sopraram dos EUA, mas não foram suficientes para derrubar o Ibovespa. O índice fechou a terça-feira em alta de 1,52%, retomando os três dígitos após três pregões abaixo deste patamar. Foi na contramão de Wall Street, onde as bolsas tiveram um dia anêmico e fecharam em leve queda. Já o dólar caiu 0,80%, a R$ 5,16.

Por aqui, o grande destaque ficou, naturalmente, para a ata do Copom. No documento, o comitê não recuou da sua postura hawkish – muito pelo contrário: voltou a dizer que pode subir os juros novamente caso a inflação retorne. Mas fez aceno ao governo, um gesto visto como importante dado a recente guerra fria entre BC e Lula.

No documento, o Copom disse que vai acompanhar de perto o novo arcabouço fiscal que será proposto pelo governo para substituir o teto de gastos. Segundo o comitê, se ele for “sólido e crível”, poderá ajudar no processo de desinflação – e abrir espaço para cortes nos juros.

O recado do BC colocou o novo arcabouço fiscal novamente no centro da atenção dos investidores. Ele já causa ansiedade há um tempo, especialmente após sua divulgação ser adiada a pedido do próprio presidente. Assim, ele acabaria saindo só depois da viagem de Lula à China, mas como essa foi cancelada devido a problemas de saúde do petista, a discussão sobre o arcabouço voltou aos holofotes.

A ideia agora é que ele seja divulgado oficialmente ainda essa semana. Na quinta-feira, o ministro Haddad tem uma reunião “definitiva” com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, para discutir o tema. O medo do mercado é que a ala ideológica tenha falado mais alto na hora de desenhar a medida – um dos motivos que levou Lula a pedir o adiamento da regra foi por preocupações da cúpula petista com o arcabouço limitando gastos sociais e investimento público.

Mas o receio não atrapalhou o pregão desta terça-feira, dado o desempenho do Ibovespa. O índice subiu com ganhos espalhados em todas áreas, inclusive em commodities, mas duas histórias se destacaram.

A festa da Ambev…

Os papéis da gigante do setor de bebidas tiveram um dia ensolarado após a notícia de que o concorrente Grupo Petrópolis entrou com pedido de recuperação judicial.

Dona das marcas Itaipava, Crystal e Petra, a Petrópolis enviou o pedido à Justiça do Rio de Janeiro na segunda-feira, alegando dívida de mais de R$ 4 bilhões. Segundo a empresa, o motivo da crise foi uma combinação maldita: uma queda nas vendas e nas receitas nos últimos 18 meses acompanhada pelo aumento da taxa Selic neste período.

O mercado de cervejas no Brasil é concentrado em praticamente três grandes players: a Ambev, com quase 60% do market share; a Heineken, com 22%; e a própria Petrópolis, na terceira posição, rondando só 15%. As migalhas restantes ficam com as importadas e as artesanais – leia mais sobre esse mercado aqui.

A crise da concorrente, então, foi música para os ouvidos da Ambev, já que ela pode aproveitar a oportunidade para crescer ainda mais no mercado que já lidera com folga. Não à toa, ABEV3 disparou 4,74%.

…e da Hapvida

O salto da Ambev não foi a maior alta do dia, porém. Esse posto ficou com a Hapvida, após a companhia anunciar uma medida “em família” de “sale & leaseback”.

Traduzindo, em termos práticos: “sale & leaseback” significa que a Hapvida vai vender dez hospitais no valor de R$ 1,25 bilhão e automaticamente alugá-los por 20 anos. Quem vai comprar? A família Pinheiro, controladora da própria Hapvida – por isso é um negócio “em família”.

Não só. A HAPV3 anunciou que estuda um follow-on para levantar mais grana – e que a família Pinheiro, controladora da empresa, pretende participar da operação, com uma participação de R$ 360 milhões na operação.

O mercado gostou da injeção de recursos no caixa da operadora de saúde. As ações da empresa dispararam 18,47% e puxaram consigo os papéis da Qualicorp, que saltaram 6,35%.

A saga do consignado

Por fim, a novela dos juros no empréstimo consignado do INSS ganhou um novo capítulo. Há duas semanas, o governo havia fixado o teto dos juros cobrados nessa modalidade em 1,7%. Os bancos, alegando que a nova taxa não cobriria os custos, suspenderam a oferta do consignado para pensionistas e aposentados do INSS – incluindo na jogada os bancos públicos, BB e Caixa.

O episódio virou crise no governo. Hoje, o Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS) voltou a votar um novo teto e chegou a um novo número: 1,97%. Foi a proposta do próprio presidente Lula, diga-se. O petista também pediu para sua equipe uma nova análise em até 30 dias sobre o tema, então a taxa pode voltar a mudar muito em breve.

A novela pode não acabar, porém. A Febraban, entidade que representa os interesses dos bancos, se absteve na votação do CNPS que definiu o novo teto. Disse que a atualização é um avanço em relação aos 1,7% anteriores, mas que caberá a cada banco analisar se voltará com a concessão desse tipo de crédito.

Um levantamento do O Globo com base nos dados do Banco Central mostra que apenas 18 dos 39 bancos que operam com consignado cobram taxas menores do que o novo teto definido hoje – ou seja, 21 deles teriam que abaixar os juros. Cenas dos próximos capítulos?

Até amanhã.

Maiores altas
Hapvida (HAPV3): 18,47%
Qualicorp (QUAL3): 6,35%
Petz (PETZ3): 5,98%
Braskem (BRKM5): 5,77%
Raízen (RAIZ4): 5,58%

Maiores baixas
Rede D’Or (RDOR3): -4,85%
MRV (MRVE3): -2,83%
JBS (JBSS3): -2,02%
Yduqs (YDUQ3): -1,29%
Méliuz (CASH3): -0,99%

Ibovespa: 1,52%, aos 101.185 pontos

Em Nova York
S&P 500: -0,16%, aos 3.971 pontos
Nasdaq: -0,45%, aos 11.716 pontos
Dow Jones: -0,12%, aos 32.394 pontos

Dólar: -0,80%, a R$ 5,1648

Petróleo
Brent: 0,49%, a US$ 78,14
WTI: 0,53%, a US$ 73,20

Minério de ferro: 1,79%, a US$ 128,11 por tonelada em Dalian (China)

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