Auditoria contratada por R$ 48 milhões conclui que contratos do BNDES não tinham irregularidades

Escritórios de advocacia analisaram oito operações realizadas pelo banco entre 2005 e 2018 com a JBS, a Bertin e a Eldorado. Nenhuma irregularidade foi encontrada. Presidente Jair Bolsonaro prometeu abrir a 'caixa-preta' da instituição.

Por Daniel Silveira e Flávia Jannuzzi 
G1 Rio e TV Globo — Rio de Janeiro

BNDES paga R$ 48 milhões para abrir caixa preta do banco, 
mas não encontra irregularidades 

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) contratou uma auditoria para analisar os negócios feitos entre o banco e as empresas do grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista. A auditoria não encontrou irregularidades. 

O resumo do relatório da investigação feita no BNDES tem oito páginas e foi realizada por auditores externos. O estudo custou ao banco R$ 48 milhões -- o valor foi confirmado pela instituição.

O BNDES declarou que o dinheiro foi em contrapartida aos serviços prestados pela equipe de investigação.

A notícia foi publicada nesta segunda-feira (20) pelo jornal “O Estado de S.Paulo”. A TV Globo também obteve o relatório da auditoria.

Segundo o relatório, o BNDES contratou dois escritórios de advocacia, um estrangeiro com sede em Nova York, e outro no Rio, para conduzir a investigação relacionada a oito operações entre o BNDES e os grupos JBS, Bertin e Eldorado Celulose, entre 2005 e 2018.

O objetivo era apurar se houve suborno ou corrupção nessas operações.

'Caixa-preta'

Desde a campanha de 2018, o presidente Jair Bolsonaro tem falado em “abrir a caixa-preta do BNDES”.

A abertura da “caixa-preta” foi uma das missões dadas por Bolsonaro ao presidente do BNDES, Gustavo Montezano, que tomou posse em julho.

Ex-presidentes do banco, como Joaquim Levy, Luciano Coutinho, Paulo Rabello de Castro e Dyogo Oliveira chegaram a afirmar que não havia evidências de irregularidades no BNDES.

A auditoria interna, apresentada no mês passado, não encontrou irregularidades nas oito operações investigadas.

No relatório, foram analisados mais de 3 milhões de dados eletrônicos de funcionários e ex-funcionários.

“A Equipe de Investigação não encontrou durante sua análise nenhuma evidência direta de corrupção em conexão com as Operações”, aponta o resumo do relatório final da investigação.

O G1 solicitou entrevista com algum dirigente do BNDES que pudesse comentar o resultado da investigação, mas a assessoria do banco não atendeu ao pedido.

O BNDES declarou, em nota, que o documento foi entregue ao Ministério Público Federal, que está analisando cada uma das operações investigadas.

A OAB disse nesta terça-feira (22) que vai solicitar informações sobre o contrato com o escritório estrangeiro de advocacia. A entidade quer saber se essa contratação é legal.

‘Nada mais a esclarecer’

Em meados de dezembro, ao apresentar o plano trianual do banco, o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, afirmou ter cumprido a promessa de abrir a “caixa-preta” do banco, considerada por ele, à época de sua posse, a “meta zero”, ou seja, prioritária da sua gestão.

“Hoje, entendemos que não há nada, nenhum evento a mais, que requer esclarecimentos. A sociedade está com informação de qualidade e substancial”, afirmou Montezano.

Gustavo Montezano, presidente do BNDES 
Foto: Divulgação/Ministério da Economia

Missão

Gustavo Montezano substituiu Joaquim Levy na presidência do BNDES, que pediu demissão após o presidente Jair Bolsonaro dizer que ele estava com “cabeça a prêmio”. Uma das queixas do presidente era a suposta conivência de Levy com o que ele classificava como “caixa-preta” do banco.

A polêmica sobre supostas operações escondidas pelo BNDES era assunto recorrente nos discursos de Bolsonaro durante a sua campanha eleitoral. Após o primeiro turno, ele chegou a publicar em seu perfil no Twitter a promessa de "abrir a caixa-preta do BNDES" logo no início do governo, e "revelar ao povo brasileiro o que feito com seu dinheiro nos últimos anos".

Na cerimônia de posse, em Brasília, Montezano afirmou que sua prioridade era “explicar a caixa-preta”. Na segunda cerimônia, realizada na sede do banco no Rio de Janeiro, ele a reiterou. Já nesta divulgação do plano trianual nesta quarta-feira, ele evitou o termo, mas afirmou, reiterada vez, que o processo de dar transparência a todas as operações foi concluído e que será mantido ao longo do tempo.

“No momento atual, a gente entende que não há nenhum assunto a mais em que a gente intervir para adicionar informações e esclarecimentos. Mas, se por ventura, em algum momento futuro, algum outro tema voltar a arranhar a imagem do banco, a gente irá de forma pró-ativa, transparente, técnica e neutra esclarecer as informações e contribuir com o debate”, enfatizou.

Segundo Montezano, o processo de maior transparência do banco “foi implementado através de uma série de medidas como exposições em jornal, campanha publicitária, entrevistas em casos sensíveis, discutir situação A, situação B, entregar no MPF a conclusão da investigação sobre a JBS, fazer nota sobre a exportação de serviços e por fim, na semana passada, uma live com o presidente falando mais abertamente ainda sobre o tema e colocando o banco à disposição de qualquer cidadão que requer esclarecimentos”.

Questionado se, de fato, todas as dúvidas sobre as operações passadas do banco foram trazidas à luz e se o mercado as legitimou, Montezano foi evasivo, se limitando a reiterar que trata-se de um processo permanente.

“Esse processo de abertura do BNDES não é algo temporal, não é uma agenda de uma campanha, não é um marco que a gente chegou aqui e falou ‘acabou’. O que a gente implementou aqui é uma cultura, é um processo, é uma estratégia que veio para ficar permanente”, disse.

Ele também não respondeu por que não foi relevado nenhum escândalo passado do banco, como era especulado antes.

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