A estratégia de Carlos Bolsonaro que pode derrubar (ou sustentar) o governo do pai


Em poucos meses, Carlos Bolsonaro conseguiu convencer o pai de sua estratégia – que pode ser encarada como um mero delírio do filho do capitão ou como uma posição política perigosa e um risco real para a democracia brasileira

Jair Bolsonaro e o filho Carlos


Desde o início do governo Bolsonaro, a disputa entre os diferentes grupos que integram o contraditório bloco vitorioso nas últimas eleições tem sido bem explícita. E, ao que tudo indica, Carlos Bolsonaro, o ‘Carluxo’, conseguiu, em poucos meses, convencer o pai de sua estratégia.

Convém ao mundo ilustrado não desdenhar de devaneio algum vindo desta turma. O preço de subestimá-los nas últimas eleições parece ter sido bem alto. Não faltou analista por aí afirmando que “Bolsonaro ia derreter” e que não chegava nem ao segundo turno. Deu no que deu.

A estratégia de Carlos Bolsonaro pode ser resumida da seguinte forma: seu pai foi eleito a partir de um movimento da “sociedade”, contra a política tradicional e os partidos do establishment. Mas, não tem maioria absoluta para governar como gostaria. É o velho “ganhou, mas não levou”.

Nestas condições, Bolsonaro não conseguiria implementar sua “nova política” e nem fazer as mudanças que o Brasil “precisa”. Restaria como opção se submeter ao jogo político tradicional e governar como os que o antecederam. Isto, claro, decepcionaria a base social que o elegeu e o risco de terminar seu mandato desmoralizado, comprometendo sua reeleição seria evidente.

Por este motivo, todos os que fizessem apelos à moderação e à racionalidade política seriam, logo, taxados de sabotadores e acusados de fazer o “jogo da esquerda” – Bebbiano foi o primeiro e a lista só se amplia desde então.

O caminho, para Carlos Bolsonaro, é o do enfrentamento. Tensionar as instituições, mobilizar permanentemente sua base social, polarizar incansavelmente com a esquerda: eis a essência da estratégia do filho predileto, baseado em manuais de marketing eleitoral que advogam a tese da “campanha permanente”.

O objetivo seria o de inaugurar uma “nova institucionalidade”, na qual Bolsonaro acumularia força suficiente e poderes para implementar seu programa de cima pra baixo. Provavelmente, ‘Carluxo’ não tenha um plano muito claro de como realizar isto na prática. Mas o desapego do clã pela democracia e instituições da República nos oferecem uma pista.

Bolsonaro parece ter hesitado no início. Porém, a realidade deu “razão” a Carlos. As demonstrações de que o caminho da conciliação seria incompatível com o perfil e o “programa” de Bolsonaro se acumulam desde a transição e inclua-se aí as denúncias contra o filho Senador, Flávio, que era defensor de uma linha mais conciliatória e que, agora, está totalmente refém do esquema de ‘Carluxo’.

Sua defesa só é possível num cenário no qual as acusações que enfrenta são projetadas num contexto de “cerco” cujo objetivo seria o de derrubar seu pai.

Carlos Bolsonaro quer transformar o Brasil numa Venezuela às avessas e para isso conta também com a insurgência dos militares de baixa e média patente, que “não estão no governo” (lembrem-se do vídeo de Olavo de Carvalho afirmando que os generais no governo não representam as FFAA). Se vai dar certo, ou não, é uma outra história.

Tudo isto pode ser encarado como um mero delírio do filho do capitão ou como uma posição política perigosa e um risco real para a democracia brasileira. Minorias organizadas e ultra-mobilizadas com base em programas radicais já fizeram muito estrago ao longo da história da humanidade.

Mas, certamente, não faltarão analistas por aí a darem risadas da saída proposta por Carluxo. Assim como riram da possibilidade de vencerem as últimas eleições.

*Vinícius Wu é doutorando em Comunicação Social pela PUC-Rio, mestre em Comunicação Social pela PUC-Rio e bacharel em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

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