Intervenção no Rio: O Brasil acordou hoje bem mais perto de uma ditadura militar

Por RENATO ROVAI*


Um carnaval ensurdecedor em que fica clara que a correlação de forças no país mudou a favor do campo progressista. E de forma avassaladora no Rio de Janeiro, cartão postal do país. Um governador do mesmo partido do presidente da República fazendo o jogo de que perdeu o controle das forças de segurança em combinação perfeita com a Rede Globo de Televisão. E puft: numa certa manhã você acorda com uma intervenção militar.

Mas aí algum sabichão vai te dizer, ela foi só no estado do Rio de Janeiro e o PT também colocou o Exército nas ruas. Ignore-o, porque como dizia o Cristo, eles não sabem o que falam. Ou na outra hipótese, sabem tanto que estão fazendo o jogo da direita mais truculenta do país.

Desde a promulgação da Constituição de 1988 que um general, neste caso Walter Souza Braga Netto, não assume o controle de um estado no Brasil. E isso se estenderá, segundo o decreto, pelo menos até o dia 31 de dezembro deste ano.

Mas o que está por trás disso? Apenas o problema real de segurança no estado? Ou há outros lances escondidos por trás dessa carta que cai na mesa agora de forma surpreendente?

O governo de Temer é decrépito. Foi esculhambado de todas as maneiras nos últimos meses, mas ele está fazendo a lição de casa dos grandes interesses do capital interno e externo. É um governo que está entregando tudo, inclusive o que não prometeu. E a continuidade deste projeto é a melhor hipótese pra quem deu o golpe.

A saída encontrada pela carta que se apresenta na mesa nesta manhã foi acertada entre a Globo, Temer, certamente com a participação do judiciário, que passou a sofrer críticas agudas, e pelos militares. Eles são a garantia da continuidade do jogo do jeito que está, o que agrada não só os intervencionistas que bateram panela, mas também parte da classe média que diz defender a democracia, mas que na verdade gosta mesmo é de linha dura pra cima da pobreza e dos “esquerdopatas” que não gostam do Brasil.

Com isso, Temer não vai resgatar a sua popularidade, mas pode melhorar um pouco sua imagem se a Globo começar a dizer que o Rio agora é um outro estado. Que as coisas melhoraram por lá graças ao Braga Neto, este general salvador.

Isso criará um sentimento de que em outros lugares o exército também deve assumir o controle da segurança pública, até porque a insegurança não é exclusividade do Rio. E com o uso da força o governo poderá controlar protestos, manifestações, descontentamentos e todo o resto.

E aí entra o fator Venezuela. Ao mesmo tempo a mídia vai bater bumbo que a situação da Venezuela está contribuindo para a crise no Brasil. E que é preciso entregá-la aos democratas. Com a ajuda dos EUA o Brasil pode vir a liderar a frente de países que vão ocupar o pais vizinho, criando uma grave instabilidade no continente. E levando ao adiamento das eleições. Neste caso, Temer pode continuar ou entregar o bastão para um general que vai conduzir o país de volta à “democracia”. Com base em decretos e atos institucionais.

É um roteiro conspiratório? Qual teoria da conspiração foi desmontada pelos fatos nesses últimos anos no Brasil? É algo inevitável? Evidente que não. Mas é o que se desenha a partir deste momento. Um golpe não é, um golpe vai sendo. Venho dizendo isso desde 2015. Ele vai se construindo aos poucos, como este golpe 16.

O Brasil acordou hoje mais perto de uma ditadura militar. Bem mais perto.

*Renato Rovai é editor da Revista Fórum

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