NA MADRUGADA – NO INTUITO DE MARCAR CONSULTA, GRUPO PERNOITA NAS CALÇADAS, EM SANTA CRUZ DO CAPIBARIBE

Do Blog do Bruno Muniz
"Tenho teto e tenho cama, mas estou dormindo na rua, em um papelão, para tentar garantir o que deveria ser meu por direito de cidadã", desabafa moradora.
Grupo aguarda na calçada do prédio público – Foto: Bruno Muniz (Agreg Imagem)
Na noite de quinta-feira (31), a equipe de reportagens do Blog do Bruno Muniz esteve acompanhando a situação das pessoas que pernoitam nas imediações da Secretaria de Saúde de Santa Cruz do Capibaribe em busca de atendimento médico.

O grupo que semanalmente acompanha a liberação de fichas para atendimento nesta feita era composto por maioria quase que completa de mulheres, dentre idosas e adolescentes. Em relatos as candidatas ao resumido número de vagas para atendimento ressaltaram os perigos que vivenciam no local durante toda a noite e madrugada, além de apontarem para possíveis irregularidades que podem estar acontecendo no setor.
 "A gente já tentou chegar aqui de manhã, quando eles fazem a liberação de senha, mas nunca tem ficha disponível. Tentei vir de 1h da manhã, tentei vir às 4h da manhã, nunca consegui. Devido a falta de organização por parte deles (os responsáveis pela secretaria) temos que nós mesmos nos organizar e chegar aqui muito cedo. Nós mesmos estamos aqui desde às 17h da tarde (de quinta-feira)", contou com uma das mulheres presentes no local.
Até mesmo adolescentes aguardam no local na expectativa de conseguir uma ficha – Foto: Bruno Muniz (Agreg Imagem)
 "A gente chegou aqui às cinco horas da tarde para poder aguardar uma vaga e fazer um simples exame de vista. A gente fica aqui até às oito horas do outro dia para poder ser atendido, e se a gente não chegar aqui essa hora, não consegue. Ficamos só perdendo tempo, desde o mês de março que estamos com a receita e ainda não conseguimos marcar", relatou uma senhora.
Algumas das pessoas presentes no local também reclamam da situação no sentido que contextualiza com promessas feitas na campanha passada, onde foi prometido que o sistema de espera no local iria mudar.
Mulher relata situação de risco vivenciada no local – Foto: Ademilton Silva (Agreg Imagem)
 "A gente estamos esperando, pois só foi prometido, mas até agora nada", relatou.
O que parece simples para o grupo possui um teor adicional de problematização. Sem condições para pagar exames no setor privado, não os resta outra alternativa a não ser madrugar e esperar por uma ficha que eventualmente se tornará em atendimento de fato.
 "A gente só vêm aqui essa porque não temos condições de pagar, porque é para mim e minha mãe, e no lugar de pegar e pagar um exame, já é o dinheiro de pegar e comprar o óculos ou a lente, porque como eu disse, nós não temos condições", explicou.
"A solução seria aumentar o número de fichas", acredita jovem.

Uma das jovens presentes no local também conversou com a nossa equipe e evidenciou as situações ao qual todos estão sujeitos no local.
 "Imagine você, com a violência em que essa cidade está, um monte de mulheres sozinhas no meio da rua, não passa uma viatura, não passa nada. Temos que nos apegar com Deus aqui, pois corremos risco de assaltos, sem contar outras coisas que podem acontecer, cujo não gosto nem de pensar nesse momento", disse a adolescente.
"Imagine para uma mulher o que é fazer suas necessidades no meio da rua", lamentou uma das pessoas que aguardam por uma ficha no local.
Solução apontada pelo grupo é aumento no número de fichas – Foto: Bruno Muniz (Agreg Imagem)
Além do local para dormir improvisado sob papelões, o risco de assalto e a exposição às variações do clima, o grupo também relata que não tem qualquer suporte por parte da Secretaria de Saúde, ficando assim ao léu sem qualquer assistência.
 "A gente faz as nossas necessidades mais urgentes em um terreno baldio que fica aqui por trás da secretaria. Muitas vezes passam homens olhando, carros, pessoas de motos, mas nós não temos escolha. É isso ou ficar apertada até o dia seguinte. O detalhe é que muita gente aqui está tentando marcar para o ginecologista, ou seja, já são pessoas que não podem ficar limitando suas necessidades fisiológicas. Imagine ainda para uma mulher o que é fazer suas necessidades no meio da rua", disse uma das jovens que está novamente no local em busca de atendimento.
Para a maioria das pessoas presentes, a solução mais viável seria o aumento no número de fichas, pois segundo os mesmos, uma cidade que cresceu e hoje conta com mais de 105 mil habitantes não pode liberar de 10 à 20 exemplares para atendimento em tão poucos dias.
Durante a madrugada, grupo fica em situação vulnerável no local – Foto: Bruno Muniz (Agreg Imagem)
Grupo suspeita de irregularidades

Além de toda a situação exposta, os pacientes ainda acreditam que existam esquemas para marcação de consultas antecipadas, isso favorecendo correligionários de políticos locais. A suspeita do grupo se reforça com o direcionamento de fichas para pessoas que não acampam no local.
 "É muito estranho. A gente chega aqui no dia anterior a liberação de fichas, dorme na fila e quando é pela manhã, estando certo para serem liberadas 20 fichas, liberam apenas 10 ou 15. Para onde vai o resto", indaga e completa uma moradora, "Ao meu ver, essas fichas são disponibilizadas para outro pessoal que só vem mesmo aqui na hora de ser atendido, o 'por que' disso, eu não sei", desabafou.
Idosos também aguardam na fila por atendimento – Foto: Bruno Muniz (Agreg Imagem)
A Secretaria de Saúde de Santa Cruz do Capibaribe fica às margens da rodovia PE-160, com frente voltada para o trecho por onde passam milhares de veículos todos os dias. O local já foi alvo de questionamentos da população que presenciou as imensas filas durante a madrugada. A nossa equipe encaminhou esta reportagem ao secretário de Saúde, Breno Feitosa, e está aguardando uma nota sobre a situação no local.

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