10 DICAS PARA VOCÊ SABER IDENTIFICAR NOTÍCIAS FALSAS NA ERA DA PÓS-VERDADE

Um guia básico em 10 passos para todos aqueles que não querem ser vítimas da desinformação, nem querem correr o risco de compartilharem "fake news" com parentes e amigos, por prezarem a verdade dos fatos e a credibilidade jornalística.



Desde que a palavra pós-verdade foi escolhida como a palavra do ano pelo dicionário Oxford em 2016 [1], uma luz de alerta se acendeu no já antigo problema da proliferação de falsas notícias e informações.

O conceito de pós-verdade implica em que notícias e informações podem ser usadas politicamente para atingir as pessoas não pelo seu teor de veracidade e sim pelo seu impacto no público: ao trazer à tona emoções e reações mais fortes ou exageradas do que uma notícia verdadeira causaria.

Tendo sido comprovada a influência e relação de tais notícias sendo viralizadas pelas redes sociais e os resultados das eleições americanas [2], podemos ver que nem tudo é apenas uma brincadeira quando se trata da crescente fábrica de páginas e sites que produzem e disseminam essas informações.

Tão preocupante quanto o fato de boatos, meias verdades e explicitamente falsas notícias terem tido peso real numa eleição presidencial em um país como os Estados Unidos, é o fato de que muitos de nós não estamos sendo capazes de diferenciá-las da verdade.

Um estudo feito pela Universidade de Stanford apontou que entre mais de 7 mil jovens em idade escolar, a maioria não conseguia discernir entre notícias reais e falsas, inclusive entre perfis reais e falsos dentro das mídias sociais, contrariando a crença de que as crianças já nascidas e integradas à vida nas redes teriam mais facilidade em detectar estas mentiras ou saberiam usar ferramentas que as ajudassem a chegar na informação correta. [3]

No Brasil, a assustadora quantidade de sites de notícias falsas e as infames correntes de Whatsapp também já vem causando grandes discussões no âmbito familiar, escolar e do trabalho, muitos parecem não ter o interesse em ponderar no que está sendo compartilhado antes de apertar o botão de enviar.

Este artigo tem como objetivo trazer a vocês as ferramentas necessárias para identificar notícias falsas. O debate sobre as razões da existência de tais notícias e os impactos que elas causam é amplo e pode ser tratado sob inúmeras óticas (sociologicamente, filosoficamente, politicamente…), mas por hora, vamos focar em ter a munição contra esta crescente avalanche de desinformação, aprendendo a identificar notícias falsas em 10 passos.

1. Faça uma análise do veículo de informação

Inúmeros sites de notícias falsas fazem um ótimo trabalho para suas publicações parecerem reais. Para conseguir isso, recorrem apelando a uma identidade visual bem feita, usando recursos gráficos, como imagens, animações e vídeos. Qualquer site que invista em sua identidade visual pode passar uma aura de credibilidade e autenticidade. Existem até mesmo sites que copiam descaradamente a identidade visual de portais de notícias para se passarem por verdadeiros.

Para não nos deixarmos enganar pelas aparências, uma das primeiras coisas que podemos fazer é buscar dentro do site informações sobre quem o representa. Um veículo de mídia sério terá uma seção do site dedicada a trazer aos seus leitores sua história, compromisso, sua equipe, informações de contato como e-mails e telefones e seu editorial. E, portanto, sites de humor ou de paródias de notícias reais devem ter um aviso (“disclaimer“) sempre a vista, deixando claro o intuito humorístico de seu conteúdo.

Um site que não deixa claro suas intenções, que não possui ou esconde informações sobre si, deve entrar na lista daqueles que devemos ter cuidado.

2. Considere o conteúdo geral da mídia


Às vezes clicamos em uma notícia que parece ter todas as características de ser verdadeira, mas, na dúvida, verifique outras publicações do mesmo veículo. Se os títulos ou a temática parecerem extremamente dissonantes da notícia que você está lendo, desconfie.

Alguns jornais, principalmente tabloides, tem a característica de mesclar notícias reais e verificáveis, com conteúdos sensacionalistas, inventados ou deliberadamente exagerados, portanto, quando acessar conteúdo destes meios, mesmo que eles possam ser reais, tenha também uma fonte alternativa sobre o mesmo assunto.

3. O autor e as fontes

Uma mídia séria e comprometida com a transparência e verdade, vai fornecer o nome do autor da matéria ou artigo jornalístico, salvo em casos de editoriais (e mesmo estes, devem ser de fácil identificação o autor, podendo ser o editor-chefe da publicação, ou o CEO/dono da mídia, etc.).

Caso esteja desconfiando do conteúdo que está acessando, uma boa opção é procurar o nome do autor em uma ferramenta de pesquisa. Caso o suposto autor não aparecer claramente nos seus resultados como a pessoa que ela diz ser, já é um ponto negativo na veracidade do artigo, ou mesmo caso a pessoa não exista de forma alguma.

Uma notícia real deve, além de ter um autor real, ter também suas fontes listadas, seja no corpo da matéria ou ao fim dela, e estas fontes também devem ser de fácil localização em poucos cliques ou em pesquisas de sites de busca como o Google. Tenha receio de notícias sem fontes e referências. Um material que seja reprodução de conteúdo de outras fontes e autores, ou mesmo que seja uma tradução, precisa explicitar esse fato e você deve ser capaz de encontrar a fonte primária com facilidade. Fontes como agências internacionais de notícias, como a Reuters e a BBC podem ajudar a reconhecer uma notícia verdadeira com mais tranquilidade do que aquelas sem fontes aparentes.

4. Leia além do título e atente-se à data de publicação

Muitos títulos podem parecer ter a resposta para tudo que você sempre quis sobre determinado assunto e você quer rapidez em talvez, sei lá, esfregar isso na cara de algum colega, mas devemos ter calma quanto a isso. Títulos são feitos para atrair mesmo, além de inúmeras matérias terem um título e um conteúdo que não batem. Um título pode dizer “Medicamento contra o Alzheimer está sendo testado com resultados positivos”, fazendo com que muitas pessoas compartilhem essa notícia felizes, achando que também estão compartilhando esperança com as pessoas que sofrem ou possuem parentes que sofrem com essa doença, porém, ao checar a matéria, trata-se apenas de um teste de medicamento contra Alzheimer feito em camundongos. O que era para ser esperança compartilhada, torna-se frustração generalizada.

Não só o título, como também a data da publicação, são elementos chaves para identificar conteúdo falso ou colocado fora de contexto. A notícia sobre uma greve que terminou em pancadaria em 2007 pode ser ressuscitada em debates acalorados em que os participantes podem acreditar ser uma notícia recente, por exemplo.

5. Rastreabilidade, reconhecimento e a pós publicação

Já falamos sobre o que deveria ser feito antes de uma notícia ser publicada, que é ter um autor real, um veículo de publicação comprometido, fontes confiáveis, mas, como nem sempre recebemos o que gostaríamos, também podemos identificar uma notícia falsa pelo que acontece tempos depois dela ser publicada, isto é: a rastreabilidade da matéria, o reconhecimento da mesma por outros veículos de mídia e a reação do público.

Isso significa que ao procurar novamente uma notícia em um sistema de busca para checar sua autenticidade, é bom sinal que ela esteja sendo reproduzida e endossada por agências de notícias, outros autores, portais, etc., considerados sérios. Caso a matéria apareça apenas em outros pequenos sites similares àqueles da origem dela ou, pior, apareça sempre compartilhada e replicada por sites de nomes parecidos, desconfie.

Outra coisa a se atentar na pós publicação é justamente como as pessoas que leram o material podem se manifestar. Sites que não possuem seção de comentários, por exemplo, podem estar querendo esconder algo ou evitar serem desmascarados. Caso eles possuam uma sessão de comentários, veja o que está sendo falado e debatido, pois, quando a notícia é falsa, muito provavelmente os leitores falarão sobre isso nos comentários.

6. Reconheça suas próprias crenças e interesses perante os conteúdos


Tirinha de Benneh.

Em tempos de pós-verdade, é primordial que não se deixe levar pela notícia que mais te agrade ou te revolte logo de cara. Se você preza a sua credibilidade, isso deve ser evitado.

Quem produz notícias falsas deseja que o conteúdo seja compartilhado e viralizado o mais rápido possível. E isso é mais facilmente alcançado quando se provoca uma forte reação nas pessoas por meio de títulos e imagens que são usadas nas chamadas das matérias, portanto, por mais que seu alívio, raiva, felicidade, empolgação te digam para compartilhar determinada matéria, assim que ela aparece na sua timeline ou no seu whatsapp, segure a emoção e leia a matéria antes! E siga os outros passos caso desconfie da sua autenticidade.

7. Click Bait, bom demais para ser verdade

Por trás dos interesses daqueles que produzem notícias falsas, está o nada surpreendente desejo de se ganhar muito dinheiro.

Existem mecanismos que garantem retorno financeiro para sites com milhares de cliques e acessos, por meio da venda de espaço de propaganda. Fazer com que você seja tentado a clicar em uma matéria é uma arte. Conhecidos como click baits (iscas de clique), estes títulos tem como intenção um tráfego de acessos intenso e, com sorte, conseguir que seus visitantes também cliquem nos anúncios espalhados pela página, muitas vezes até de forma velada (já clicou em um link comum e este abriu uma página de propaganda? Pois é…). Desta forma as publicações que usam títulos click baits tendem a ser como cantos de sereia, apesentando uma chamada que parece ser boa demais pra ser verdade, mas contendo uma matéria que provavelmente também não é uma verdade, enquanto o dono do site vai monetizando com as visitas no seu site e as clicadas em seus anúncios.

8. O Senso de Falsa Credibilidade: uso de supostas pesquisas, estatísticas e frases para embasar notícias falsas

Poucas coisas fazem uma notícia parecer verídica como o uso de “ciência” para validá-la.

“Pesquisa aponta que comer chocolate emagrece 1kg por dia” – esta é uma matéria que eu clicaria em um piscar de olhos: é chocolate, emagrece e foram pesquisadores que disseram isso! Nada pode estar errado! “7 entre 10 homens possuem marcas de nascença no pênis, confirma estudo de Harvard” – olhou né? “Presidente Obama poderia morrer em uma vala – afirma Kim Kardashian em entrevista”. E certamente aqueles que escrevem notícias falsas sabem muito bem que temos a tendência a aceitar como verdade os conteúdos que estão supostamente embasados por pesquisas científicas, estatísticas ou por celebridades e especialistas, isso porque tendemos a confiar na palavra de especialistas, em dados e números quando somos leigos em certos assuntos.

Mas, assim como as notícias, estes tipos de fontes podem ser facilmente desmascaradas. Pesquisas e estudos científicos devem estar ligados a instituições de pesquisa ou de ensino, estatísticas também devem partir de institutos de pesquisa, faculdades, órgãos governamentais e ter sua metodologia facilmente consultada, frases de celebridades e especialistas podem ser verificadas ao procurar vídeos ou transcrições de quando foram ditas e para quem foram ditas, para averiguar o contexto das declarações e se realmente foram ditas.

Uma recomendada ferramenta para verificar estudos, pesquisas e estatísticas é o Google Acadêmico, com a qual pode-se consultar o nome da pesquisa, os nomes dos especialistas e seus trabalhos acadêmicos, metodologias e instituições.

9. Pesquisa reversa de imagens

Além dos títulos irresistíveis, outra maneira de garantir cliques fáceis para estes sites é o uso de imagens impactantes, curiosas ou polêmicas. Estamos em 2017 e ainda temos que apontar o óbvio: uma foto não é um fato, é uma versão do fato.

Além disso, uma imagem pode ser usada inúmeras vezes para diferentes chamadas e matérias. Um bebê refugiado pode ser sírio num dia e turco no outro dependendo do que a matéria falsa está “cobrindo”, aquela mulher dando a luz na rua pode ser brasileira hoje e sul africana amanhã, é uma reciclagem toda errada.

Estas imagens usadas em larga escala costumam ser facilmente rastreáveis, levando às agências internacionais de notícias e aos bancos de fotografia jornalística.

Você pode arrastar uma foto para a caixa de busca do Google, fazer a consulta reversa da mesma e descobrir rapidamente quem a tirou, em qual país, data e quais veículos de mídia já a usaram.

Como usar fotos fora do contexto é outra forma enganosa de ganhar o clique do público e manipular informações, vale a pena sempre pesquisar sobre a origem das fotos quando necessário.

10. Pergunte a um especialista ou consulte um site antiboatos

Alguns de vocês podem considerar que este deveria ser o primeiro item, mas é extremamente importante ter sua própria autonomia em descobrir por si mesmo quando não for possível usar estes métodos.

Claro, às vezes, a forma mais fácil de saber se uma informação é real ou não, é perguntar para alguém que saiba mais do que você sobre ela, um professor, um amigo, seus pais ou seu gato (brincadeira).

Existem também sites que se dedicam a desmascarar boatos, correntes e notícias falsas, como o americano Snopes, e os brasileiros Boatos.org e o E-Farsas, mas nem sempre eles possuirão as matérias mais recentes ou menos polêmicas, já que focam em conteúdos de grande alcance e compartilhamentos. Esses sites fazem um trabalho incrível e vem nos últimos anos ajudando a combater as notícias falsas na internet e fora dela.

Conclusão

“Pinocchio liar” de Abubu.

É crescente o número de sites e páginas que se dedicam exclusivamente a ser uma fábrica de cliques e disseminadoras de meias verdades ou notícias falsas.

No Brasil, o problema chamou a atenção da mídia de massa, devido ao tamanho da repercussão e dos malefícios destes sites e seus conteúdos sendo compartilhados nas redes sociais. Um impacto como o observado nas eleições americanas poderia ocorrer em breve no nosso país também, e isso é assustador.[4]

Devemos estar atentos a estas práticas, já que, legalmente, existem bem poucas maneiras de combater a mídia de notícias falsas. Não é possível, por exemplo, proibir a publicação destas, não é legal intervir na produção e compartilhamento destas farsas. A própria velocidade em que os conteúdos virtuais são criados é um desafio quanto ao controle do que é expressado. E a punição posterior, em casos de difamação, calúnia, danos morais, etc., parece não ser dura o bastante para impedir que continuem a fazê-lo. Mesmo a mídia de massa sofre poucas punições quando envolvida em casos de publicação de conteúdo falso ou difamatório (uma pequena nota de desculpas, um editorial emocionante de apologias e está tudo bem).

Por hora, cabe a nós deixarmos de ser meros receptores de informação e passar a ter também a responsabilidade de informar, por mais absurdo que isso possa parecer.

Por outro lado, governos (recentemente Alemanha e República Checa encabeçaram um largo combate contra as notícias falsas) e empresas estão em busca da solução para este problema por meio do uso de tecnologia, apesar da ideia de ter conteúdos bloqueados ser muito delicada (para não ferir a liberdade de expressão ou soar como censura). Redes sociais como o Facebook e Twitter já anunciaram um trabalho de extensões que impeçam a visualização e compartilhamento de conteúdos previamente analisados por fact checkers (verificadores de fatos) tanto humanos quanto os de inteligência artificial. [5]

Enquanto as questões legais e tecnológicas que pairam sobre estas ferramentas de bloqueio de conteúdo são resolvidas, ainda teremos um caminho a percorrer em também educar as pessoas a serem capazes de discernir entre informações reais e aquelas inventadas.

A partir de hoje, quando se deparar com uma notícia suspeita, use estas dicas. Caso se deparar com uma notícia falsa, informe e compartilhe com seus amigos sobre os fatos e aproveite para orientá-los a respeito de como se proteger da era da pós-verdade.

Referências

[1] Oxford Dictionary – Word of the Year 2016 is…




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