'A Feira de Caruaru' completa 60 anos e Onildo afirma: 'minha maior obra'

Letra foi apresentada ao público antes de o compositor ter terminado a obra. 
Música gravada por Luiz Gonzaga em 1957 é o maior sucesso de Onildo.

Joalline Nascimento
Do G1 Caruaru 

A relação de Onildo com a 'Feira de Caruaru' vem desde a infância do compositor -
(Foto: Joalline Nascimento/G1)

"A Feira de Caruaru faz gosto a gente vê". Quem é caruaruense ou mora no município do Agreste pernambucano já ouviu este verso. Escrita por Onildo Almeida, de 89 anos, a canção que destaca que a feira tem "de tudo que há no mundo" completa 60 de gravação na voz de Luiz Gonzaga nesta terça-feira (21). Imortalizada pelo rei do baião, Onildo afirma: "Ainda que eu não queira, ela [A Feira de Caruaru] tem de ser minha maior obra. Foi a música que me puxou".

A ideia de fazer uma música para homenagear a Feira de Caruaru surgiu após o compositor perceber que no local existiam produtos que não eram característicos de uma feira de rua. "Me chamou atenção para algumas coisas. Principalmente o que não é de feira, como barraca de miudezas, anéis, bordados, fita, elástico. Feira é banana, laranja, manga, batata, doce...", detalha Onildo.

Ao G1, o compositor caruaruense revela que após perceber os diversos produtos comercializados na feira, começou a fazer uma lista do que era vendido. Depois, pensou em como fazer os versos. "Tive a sorte de escolher a rima em 'u', mas eu encontrei poucas palavras com a terminação em u. No fim, consegui fazer", ressalta.

A música "A Feira de Caruaru" foi apresentada pela primeira vez ao público na extinta Rádio Difusora, onde Onildo trabalhava. Ele estava operando um programa em um dia de domingo quando aproveitou para melhorar a letra. "Enquanto eu lia a música, Rui Cabral, que animava o programa, chegou. Ele perguntou o que era e eu disse que era uma música. Ele disse: 'Com essas bugingangas todas?' Falei que sim e ele me pediu para cantar", recorda o compositor.

Onildo Almeida relembra que a letra ainda não estava pronta, mas mesmo assim ele subiu no palco da rádio e cantou a música três vezes. "Foi tudo feito no empurrão. Tinha de acontecer. O povo não queria me deixar sair do palco. Mas as cortinas fecharam e eu tive que parar. Foi um sucesso", enfatiza.

Sobre na música ter muitos elementos vendidos na feira, Onildo revela que algumas pessoas perguntavam se no local era comercializado o sapo cururu. Como resposta, ele dizia: "Não, mas quando chove aparece".

Compositor caruaruense ainda guarda disco com a primeira gravação da música (Foto: Joalline Nascimento/G1)

A primeira gravação

Após "A Feira de Caruaru" fazer sucesso na rádio, o compositor caruaruense foi até o Recife tentar conseguir o cantor para gravar a música. Segundo ele, ninguém queria cantar baião na época porque Luiz Gonzaga era quem fazia isso.

Onildo pensou em Jackson do Pandeiro para gravar, mas ele estava no Rio de Janeiro. Então, o diretor da gravadora sugeriu que o próprio compositor da letra gravasse. "Mas eu também não cantava baião. Eu só cantava música romântica. No fim, acabei gravando. Do outro lado do disco colocamos um chorinho. Foi o disco de uma música só", afirma.

Na época, a gravadora mandou 1.200 discos para Caruaru e foram vendidos em uma semana. Conforme o compositor informou ao G1, ninguém havia vendido tanto no município. Durante todo o ano, foram vendidos 11 mil discos.

Onildo Almeida escreveu música para homenagear
Caruaru há 60 anos (Foto: Joalline Nascimento/G1)

Gravação de Luiz Gonzaga

O rei do baião estava em Caruaru no ano de 1957 quando ouviu a música pela primeira vez. Onildo ainda não conhecia Gonzaga. "Eu conheci ele quando perguntou se a música era minha e me pediu para gravar. Claro que eu deixei".


Relação de Onildo com a 'Feira de Caruaru'

"Desde criança eu ia muito para a feira. Todos os dias de feira eu estava lá. Minha mãe ia, e eu ia também. Eu aproveitava para comprar uns cavalinhos de barro feitos pelo Mestre Vitalino. Naquela época, ele estava em ascensão", detalha o compositor.

Na infância, Onildo era um consumidor da obra de Vitalino. Como era criança, ele brincava muito com os cavalos e bois de barro. E, pelo material que era feito, o brinquedo quebrava com facilidade. Por isso, ele sempre estava na feira comprando.

No início da vida adulta, Onildo Almeida começou a trabalhar na rádio, mas continuava a ir à feira. "Era um lazer que eu tinha. E também como pai de família, homem casado, eu já ia fazer feira também", conta.

A Feira de Caruaru
(Onildo Almeida)

A Feira de Caruaru
Faz gosto a gente vê.
De tudo que há no mundo,
Nela tem pra vendê,
Na feira de Caruaru.

Tem massa de mandioca,
Batata assada, tem ovo cru,
Banana, laranja, manga,
Batata, doce, queijo e caju,
Cenoura, jabuticaba,
Guiné, galinha, pato e peru,
Tem bode, carneiro, porco,
Se duvidá... inté cururu.

Tem cesto, balaio, corda,
Tamanco, gréia, tem cuêi-tatu,
Tem fumo, tem tabaqueiro,
Feito de chifre de boi zebu,
Caneco acuvitêro,
Penêra boa e mé de uruçú,
Tem carça de arvorada,
Que é pra matuto não andá nú.

Tem rêde, tem balieira,
Mode minino caçá nambu,
Maxixe, cebola verde,
Tomate, cuento, couve e chuchu,
Armoço feito nas torda,
Pirão mixido que nem angu,
Mubia de tamburête,
Feita do tronco do mulungú.

Tem loiça, tem ferro véio,
Sorvete de raspa que faz jaú,
Gelada, cardo de cana,
Fruta de paima e mandacaru.
Bunecos de Vitalino,
Que são cunhecidos inté no Sul,
De tudo que há no mundo,
Tem na Feira de Caruaru.

'Feira de Caruaru' tem estátua de Onildo Almeida em homenagem ao compositor (Foto: Lafaete Vaz/G1)

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