A era dos descartáveis

Estamos vivendo uma época em que quase tudo é descartável, inclusive a própria vida

Por Dário Gomes*
Lembro-me que há alguns anos, os produtos eram mais duráveis. Os aparelhos domésticos tinham uma durabilidade que passavam de uma geração a outra. 

Na década de 70, auge da Ditadura Militar, meu pai comprou alguns objetos de uso doméstico, dentre eles, lembro-me muito bem, uma radiola da marca “ABC – A Voz de Ouro” e uma geladeira da marca “GELOMATIC”, pois bem, a radiola foi vendida a outra família, nos meados dos anos 80, tendo plena funcionalidade de tudo quanto oferecia. A geladeira funcionou ininterruptamente por mais de 40 anos, sem nunca ter sido sequer trocado o gás que fazia produzir o gelo necessário que, diga-se de passagem, ela fazia tanto gelo que era impossível não ter que fazer retirada do excesso, vez por outra. Pai só trocou de geladeira por luxo ou vaidade, acabando por doá-la, e creio que hoje, perto de seus 50 anos, ela continua fazendo o seu importante trabalho. A maioria dos chassis de rádio ou televisão, bem como dos demais aparelhos de som eram feitos de metal, a durabilidade era tanta que valia o esforço de consertar quando alguns deles sofria alguma avaria.

Qual aparelho ou utensílio da presente década consegue tamanhas proezas?

Chegamos ao tempo em que tudo é mais fácil porque, quase tudo, se tornou descartável. Os aparelhos eletrônicos se tornaram tão “baratos” em razão das suas funcionalidades que já não há motivos para gastarmos com consertos. As sucatas se tornaram tão valiosas, por causa da tecnologia existente, que já não tem valor algum.

Centenas de aparelhos celulares, fontes de alimentação de todos os tipos, mp3, mp4, mp5 e tantos outros que se tornaram obsoletos para uma geração consumista e muitos desses aparelhos eram caríssimos nas vitrines e hoje não passam de lixo.

Mas não foi só os objetos que se tornaram descartáveis, os sentimentos também estão se tornando. É fácil ter um milhão de amigos, como canta Roberto Carlos em uma de suas canções, mas são amigos virtuais, descartáveis, se perdem com o tempo, não fazem faltas. São os amigos das redes sociais e dos interesses, nunca estão conosco quando precisamos. Não há laços de afinidade. É comum se ler a frase: “Vou excluir um bocado de “amigos” do meu Facebook”. Se fossem amigos de verdade não se excluiria, porque amigos não se excluem, amigos se abraçam.

O casamento também tem se tornado descartável, ouvi de uma pessoa que estava prestes a se casar a seguinte frase: “A gente se casa e se não der certo a gente se deixa e pronto”. Talvez seja porque o motivo do casamento é pura paixão e não o amor. A paixão é descartável, o amor não. Se o motivo do casamento é a paixão e sendo essa descartável, o casamento também o será.

As pessoas vivem uma vida descartável. Em muitos corações impera o ódio e, para eles, a vida não tem sentido, assim como não tem sentido a dignidade, o respeito, o amor e o perdão. Conheci casos em que um mísero real é motivo para se tirar vidas. Muitos pensam que a vida é como um jogo de Vídeo Game, perde-se uma e logo tem outras e quantas vezes precisar.

Precisamos entender que a vida é um presente mui precioso que Deus nos concedeu e não pode ser tida como um objeto descartável, assim como o convívio com os nossos familiares, o casamento, os filhos, os amigos que verdadeiramente participam de nossas lutas e vitórias. Nós temos uma perspectiva de vida de, pelo menos, oitenta anos, a bíblia diz que é pouco tempo, pois a vida é como um vapor. (Tiago 4:14) Então temos que valorizá-la, Deus nos deu esse dom maravilhoso para sermos felizes, termos prazer em servi-lo, cuidar de nós e dos nossos e um dia partir em paz ao encontro a uma eternidade com Deus. Porque nossa vida não é descartável, mas é um presente eterno de Deus. 

Um abraço e até a próxima, se Deus permitir.

*Dário Gomes de Araujo é Evangelista da Igreja Assembleia de Deus e atualmente é gestor na cidade de São José do Egito

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