'A Cara da Democracia': pesquisa indica efeito limitado de apoio de Lula e Bolsonaro nas eleições municipais

Atual presidente e seu antecessor transferem mais rejeição do que apoio, embora ainda protagonizem debate político, na comparação com números de outras lideranças

Por Bernardo Mello — Rio de Janeiro
O GLOBO

Pesquisa 'A Cara da Democracia' mediu como os brasileiros reagem a apoios de Lula e de Bolsonaro a candidatos às prefeituras em 2024 
 Foto: Editoria de Arte

Às vésperas das eleições municipais, na primeira vez em que os brasileiros irão às urnas desde a disputa presidencial mais acirrada do pós-redemocratização, os dois protagonistas deste último ciclo — o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) — serão cabos eleitorais com alcance limitado e rejeições significativas. Na média nacional, a cada dez eleitores, de quatro a cinco dizem não votar “de jeito nenhum” em candidatos a prefeituras apoiados ou por um, ou por outro, segundo dados da pesquisa “A Cara da Democracia”. Os índices superam, numericamente, os registrados pelos governadores.


A pesquisa foi feita entre os dias 26 de junho e 3 de julho pelo Instituto da Democracia (IDDC-INCT), que reúne pesquisadores da UFMG, Unicamp, UnB e Uerj. O financiamento é do CNPq, Capes e Fapemig. Houve mais de 2,5 mil entrevistas presenciais em 188 cidades de todo o país. A margem de erro é de dois pontos.

Os dados apontam que o apoio de Lula ajuda mais e atrapalha menos do que o de Bolsonaro. Em relação ao atual presidente, 40% dos entrevistados rechaçaram votar em um aliado do petista, enquanto 53% ao menos consideram esta hipótese — apenas metade desses, porém, dizem que votariam “com certeza” no indicado.

Pesquisa 'A Cara da Democracia', edição de 2024 
Foto: Editoria de Arte

No caso do ex-presidente, 49% rejeitam votar em um candidato que receba seu apoio. Os que ao menos consideram votar em um aliado de Bolsonaro são 46%, mas apenas dois em cada dez eleitores dizem que o apoio garantiria seu voto. Os governadores são rejeitados como “padrinhos” por 36% dos entrevistados, enquanto 21% garantem votar em alguém com seu apoio.

O diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da Unicamp, Oswaldo Amaral, avalia que as rejeições às figuras nacionais contribuem para afastá-las dos pleitos. Ele avalia também que os governadores atraem menor rejeição porque “escapam da polarização”, o que não necessariamente significa “capacidade de influenciar” no pleito.

— Na maioria das disputas, o que dá o tom é a questão local, se a emenda parlamentar chegou aos prefeitos e se os serviços básicos estão bem avaliados. A nacionalização costuma ocorrer em grandes cidades desde que haja uma vinculação muito clara, como a que Lula está tentando fazer com Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo, o que é diferente do movimento do (atual prefeito) Ricardo Nunes (MDB) em relação ao Bolsonaro — diz Amaral.

Pesquisa 'A Cara da Democracia', edição de 2024 
Foto: Editoria de Arte

Apesar dos obstáculos na campanha municipal, Lula e Bolsonaro despontam com maior protagonismo do que outras figuras de alcance nacional. Os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de Minas, Romeu Zema (Novo), e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), têm taxas de desconhecimento beirando um terço dos entrevistados. Os índices dos que dizem não gostar de Tarcísio e de Zema também ficam nesse patamar, superior ao dos que gostam de cada um. No caso de Lira, a rejeição chega a 40%, a mesma de Lula.

O petista, por outro lado, atrai a estima de 35% dos entrevistados. Quem mais se aproxima deste índice é Bolsonaro, com 28%, embora outros 49% digam não gostar do ex-presidente, a maior taxa.

Para o cientista político João Féres, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Uerj, a ascensão de Bolsonaro, trazendo consigo uma rejeição significativa, pode ter contribuído para a imagem de Lula.

— A série histórica mostra que o pico do antipetismo ocorreu em 2018, e que desde então houve um refluxo disto — avaliou Féres.

Para os pesquisadores, os dados captam ainda uma possível transferência de rejeições de Lula e de Bolsonaro para nomes mais atrelados às suas imagens, respectivamente, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, cotada como sucessora do marido.

'Confusão' na segurança pública

Segundo a pesquisa, há uma percepção maior de melhora do que de piora da economia no governo Lula — embora o índice dos que consideram que a situação “piorou muito” tenha avançado em 2024. A sensação de maior corrupção também avançou neste ano.

Pesquisa 'A Cara da Democracia', edição de 2024 
Foto: Editoria de Arte

Os dados também sugerem um avanço da agenda da segurança pública. Questionados sobre o “problema mais grave do país”, um total de 9% dos entrevistados citam temas correlatos. Em 2022, eram 3%.

De olho em maior protagonismo na área, o governo Lula prepara uma Proposta de Emenda à Constituição para ampliar a atuação da Polícia Federal no combate ao crime organizado. Na pesquisa, os entrevistados atribuíram a tarefa de “cuidar da segurança” mais ao governo federal, citado por 27%, do que aos governadores, com 24%. Os prefeitos foram citados por 16%.

Amaral, do Cesop, lembra que a função de policiamento é dos estados, e não das prefeituras, mas avalia que o eleitor tem “dificuldade de entender quem é responsável pelo quê”.

— Essa confusão abre espaço para que o tema da segurança ganhe ressonância nas campanhas municipais.

Pesquisa 'A Cara da Democracia', edição de 2024 
 Foto: Editoria de Arte

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