Bolsas abrem em alta; estradas do Brasil, em baixa

Se persistirem, protestos de caminhoneiros bolsonaristas podem causar crises de abastecimento. Na Europa e na Ásia, bolsas sobem e dólar cai com expectativa por Fed mais brando.

Por Júlia Moura e Camila Barros
Você S/A


A eleição deste domingo parece longe de acabar. Protestos de apoiadores do candidato derrotado Jair Bolsonaro contra o resultado das urnas ocupam desde ontem importantes vias do país, como a Rodovia Hélio Smidt, que dá acesso ao aeroporto de Guarulhos. Foram cancelados 12 voos na segunda e 13 nesta terça.

Segundo a Polícia Rodoviária Federal ainda restam 271 bloqueios em estradas federais, após 192 bloqueios serem desfeitos. O problema é que, apesar da ordem judicial, ainda ontem, para que a PRF acabe com todos os bloqueios, parte da polícia apoia os protestos.

Quanto mais tempo durarem os protestos, mais prejuízos eles terão para a economia. Não chega a ser algo comparável com a greve dos caminhoneiros de 2018, que parou o Brasil por 10 dias, mas é algo que já causa estragos. Além dos voos cancelados e atrasados, pode haver falhas no abastecimento, especialmente de produtos mais perecíveis. Segundo a PRF, porém, todas as vias serão liberadas ainda hoje.

Mesmo assim, outro problema segue: Bolsonaro ainda não reconheceu derrota. Segundo Malu Gaspar, colunista do O Globo, Bolsonaro pediu ao seu partido um compilado com todos os incidentes que aconteceram nas eleições, para questionar o processo eleitoral e sua derrota. O presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, e o advogado do partido, Tarcísio Vieira de Carvalho (que já foi ministro do TSE), porém, estariam resistentes a esta nova ofensiva. Mais tumultos em torno da eleição presidencial mais apertada da jovem democracia brasileira geram desconfiança nos próprios brasileiros e nos estrangeiros, prejudicando o olhar de investidores sobre o Brasil.

Fora que uma transição entre governos parece uma miragem no momento. Sem reconhecer a derrota, dificilmente a presidência irá colaborar com a troca de informações importantes para o planejamento inicial do governo Lula. Por mais que alguns membros do governo, como o vice Hamilton Mourão, tenham se colocado à disposição, o processo de transição requer uma boa vontade do governo como um todo.

EXTERIOR

Lá fora, uma onda de bonança. O dólar cai, enquanto os índices futuros americanos operam em alta nesta manhã, acompanhados de desempenhos positivos na Europa e na Ásia. A bolsa de Hong Kong, inclusive, teve a maior alta diária (5,23%) desde 2009, graças a rumores de que o governo chinês prepara uma política anti-Covid menos rígida no ano que vem. Veja mais lá em baixo.

A grande esperança do mercado é a de que o Fed sinalizará um ritmo mais brando nas altas do juros do país. Amanhã, o BC americano deve subir a taxa em mais 0,75 pp – a 4%. A expectativa pessimista era de que houvesse mais uma puxada de 0,75 pp em dezembro. Agora, começa a se formar um consenso de que a próxima virá mais leve, em 0,50 pp. Ou seja: seria o primeiro sinal de arrefecimento da curva. A ver se a inflação americana, ainda em gordos 8,2%, vai deixar.

No momento, a confiança em um aperto “menos apertado” é tanta que o dólar perde força mundo afora, desvalorizando-se 0,6% em relação a uma cesta de moedas fortes.

Boa terça e bons negócios – se os caminhoneiros deixarem.


• Futuros S&P 500: 0,92%
• Futuros Nasdaq: 1,15%
• Futuros Dow: 0,61%
*às 8h19


• Índice europeu (EuroStoxx 50): 1,58%
• Bolsa de Londres (FTSE 100): 1,59%
• Bolsa de Frankfurt (Dax): 1,23%
• Bolsa de Paris (CAC): -1,74%*às 8h21


• Índice chinês CSI 300 (Xangai e Shenzhen): 3,58%
• Bolsa de Tóquio (Nikkei): 0,33%
• Hong Kong (Hang Seng): 5,23%


• Brent: 1,58%, a US$ 94,28
• Minério de ferro: 1,84%, a US$ 80,10 por tonelada em Singapura
*às 8h23


Brasil, 9h: produção industrial de setembro
EUA, 10h45: PMI industrial de outubro (S&P Global)
EUA, 11h: PMI industrial de outubro (ISM)
EUA,11h: relatório sobre empregos em setembro (Jolts)


Conselho de administração do Twitter dissolvido

Elon Musk dissolveu o conselho de administração do Twitter e se nomeou o único diretor da companhia. A equipe, formada por 9 pessoas, foi a responsável pelas decisões da empresa durante a agitada negociação com o empresário. Na semana passada, Musk fez uma limpa no alto escalão da companhia, demitindo o presidente-executivo, o diretor financeiro, o diretor jurídico e o conselheiro geral.

Segundo o Washington Post, a companhia ainda pretende demitir 25% do quadro de 7.000 funcionários em uma primeira fase de cortes.


Os desafios do próximo governo

Em 2023, Lula assumirá o comando de um Brasil que voltou para o Mapa da Fome, tem 11% de suas crianças e adolescentes fora da escola e rankeia em oitavo na lista de países mais violentos do mundo. Na economia, as projeções de crescimento são menores que as de outros países latinoamericanos. E tem a inflação, que, apesar de seguir uma trajetória de queda desde julho, ainda está acima da meta estabelecida pelo Banco Central. Em 7 gráficos, a BBC Brasil elenca os desafios econômicos e sociais do próximo governo.

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