Brasil Soberano recebe elogios e sugestões de entidades industriais

Associações pedem agilidade na tramitação do plano no Congresso

Pedro Peduzzi - repórter da Agência Brasil*
Brasília
Ipojuca (PE) 01/11/2024 – As unidades de hidrotratametno de nafta e de geração de hidrogênio da Refinaria Abreu e Lima (RNEST), da Petrobras, trabalham para reduzir os teores de enxofre e componentes instáveis no combustível. O Trem 1 da RNEST vai passar por
© Fernando Frazão/Agência Brasil

Plano Brasil Soberano, conjunto de medidas anunciado na quarta-feira (13) em apoio às empresas brasileiras prejudicadas pelo tarifaço norte-americano, teve repercussão entre as entidades representativas dos setores afetados, com elogios e sugestões de aperfeiçoamentos. As entidades têm manifestado interesse em colaborar para os próximos passos, no desafio de ajudar o governo brasileiro a tentar reverter as tarifas de até 50% anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) avaliou como positivas as medidas anunciadas pelo governo brasileiro, em especial a criação de linha de crédito especial com taxas de juros mais acessíveis, que pode chegar a R$ 30 bilhões; o adiamento por dois meses do pagamento de tributos federais; e a reativação do Reintegra.

“Recebemos positivamente pelo fato de contemplar muitas das demandas feitas pelas indústrias, federações e associações setoriais, e também porque englobou dois conceitos básicos: continuar negociando como prioridade e, o segundo, se novas medidas forem necessárias elas serão tomadas”, disse, em nota, o presidente da entidade, Ricardo Alban.

>> Fiesp manifesta apoio a socorro do governo a exportadores

Segundo ele, as medidas darão “um respiro” à indústria nacional. “Não queremos só respirar, mas caminhar e, neste primeiro momento, o Plano Brasil Soberano representa abertura de mercado e reflete o esforço contínuo de manter o diálogo e buscar soluções”, destacou

Alban propõe ao governo atuação no sentido de buscar novos mercados, em especial com a União Europeia, e acordos bilaterais. 

“A CNI seguirá trabalhando próxima ao governo para negociar e mitigar os impactos das tarifas, preservando a competitividade da indústria nacional”, informou a entidade ao avaliar que as medidas apresentadas “trarão alívio financeiro em momento crítico para o fluxo de caixa das empresas afetadas, permitindo que elas possam suportar esse momento”.

Ricardo Alban também discursou durante o anúncio das medidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na ocasião, ele informou que a CNI já contratou escritórios de advocacia para ajudar na defesa de interesses em território norte-americano. Além disso, o presidente da CNI disse ter convicção de que o Congresso Nacional tratará “com a devida prioridade e presteza” a medida provisória durante sua tramitação na Casa.

Indústria Química

Na avaliação da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), o governo deu “um passo importante” com o Plano Brasil Soberano. O setor exporta diretamente para os EUA cerca de US$ 2,5 bilhões por ano.

“A Abiquim considera o pacote positivo na preservação da competitividade e do emprego e reforça urgência de negociações com os EUA por mais exclusões setoriais do tarifaço”, informou, em nota, a associação.

Segundo a associação, o plano anunciado representa um passo importante para mitigar os impactos do tarifaço imposto pelos EUA. A entidade, no entanto, manifestou preocupação com os impactos indiretos em setores demandantes de química — como plásticos, calçados, alimentos e vestuário.

Na avaliação da Abiquim, o plano “dialoga com demandas históricas” do setor e de seus principais clientes. No caso, indústrias que transformam insumos químicos em produtos de maior valor agregado destinados ao mercado norte-americano, como plásticos, calçados, alimentos, vestuário, cosméticos e higiene pessoal.

A associação ressaltou que a relação econômica entre Brasil e EUA é “historicamente complementar”, com cadeias produtivas integradas, e que há mais de 20 empresas químicas de capital norte-americano operando no Brasil.

Por esse motivo, o presidente da associação, André Passos Cordeiro, considera ser fundamental que as negociações bilaterais avancem “com base em critérios técnicos e econômicos, longe de motivações geopolíticas, preservando a integração produtiva e a resiliência das cadeias de suprimento”.

“A Abiquim seguirá colaborando ativamente para que os recursos e instrumentos previstos no Plano Brasil Soberano alcancem, de forma ágil e eficaz, as empresas mais impactadas”, complementou.

Têxtil e confecção

Outra entidade que manifestou apoio público às medidas do governo foi a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

“As ações apresentadas representam passos relevantes para preservar a competitividade das empresas, proteger empregos e fortalecer o setor produtivo”, disse a Abit, referindo-se às linhas de crédito com juros acessíveis; à prorrogação de prazos do regime de drawback [suspensão de tributos incidentes sobre insumos importados para utilização em produto exportado]; ao adiamento de tributos federais; ao reforço dos fundos garantidores; às compras governamentais, à modernização do sistema de exportação; e aos ajustes no Reintegra [Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários].

A Abit acrescentou que seguirá contribuindo com novas proposições e aperfeiçoamentos que ampliem a efetividade das medidas, por meio dos canais de diálogo que tem com as autoridades públicas.

A associação pede celeridade na tramitação das propostas em tramitação no Congresso Nacional e pede que a implementação das medidas pelo Executivo seja ágil e eficaz, garantindo que os benefícios cheguem rapidamente às empresas e aos trabalhadores diretamente impactados.

 

Indústria Têxtil ,SENAI CETIQT - Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil. Planta piloto de tecelagem.
Indústria Textil
Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (Senai/Cetiqt). CNI/José Paulo Lacerda

Conaje

Também em tom elogioso, a Confederação Nacional de Jovens Empresários (Conaje) reconheceu a importância do pacote em termos de linhas de crédito com prioridade para pequenos e médios exportadores, compras governamentais e ampliação do Reintegra.

“São instrumentos relevantes para preservar empregos, dar fôlego ao setor produtivo e manter a competitividade internacional”, avaliou.

A Conaje ressalta, no entanto, que a efetividade das ações depende de agilidade na implementação e de condições reais para que micro, pequenas e médias empresas tenham acesso aos recursos e benefícios anunciados.

“As medidas anunciadas são importantes, mas é fundamental garantir clareza nos critérios, agilidade na implementação e condições que realmente atendam às micro e pequenas empresas. Ainda há dúvidas sobre os parâmetros de acesso, definição de setores prioritários e as condições de crédito, como juros e prazos”, disse à Agência Brasil o presidente da Conaje, Fabio Saraiva.

Ele manifestou preocupação também com eventual demora entre o anúncio e a liberação efetiva dos recursos. “Isso pode ser decisivo para muitos empreendedores. O foco agora deve ser em dar previsibilidade, segurança e capilaridade à execução do pacote”, acrescentou.

Crítica da Fiep

Já a Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) adotou um tom mais crítico à forma como o governo federal vem conduzindo a situação.

Na opinião do presidente da Fiep, Edson Vasconcelos, o governo federal tem colocado questões ideológicas e políticas acima dos interesses da economia e do setor produtivo brasileiro.

Com relação às medidas emergenciais, a Fiep as classifica como “paliativas”, e cobra “negociação efetiva” com os EUA.

“Apesar das medidas emergenciais anunciadas em socorro a empresas exportadoras, o governo federal brasileiro precisa cumprir seu papel como principal negociador para a busca de uma solução definitiva em relação à taxação imposta pelos EUA”, informou por meio de nota a Fiep.

* Colaborou Eduardo Luiz Correia, da Agência Brasil em São Paulo

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Multinacional portuguesa Politejo vai instalar nova fábrica em Pernambuco

Estudante de Salgueiro retira vidro do rosto após 7 meses: “Consegui me ver de novo no espelho”

Foragido que fez cirurgia e mudou de identidade é preso comprando casa na praia