Visão do Correio: Os desafios do Brasil

EDITORIAL
CB Correio Braziliense

(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Com tantas incertezas rondando o mundo, o Brasil terá o grande desafio de reconstruir sua credibilidade nos próximos anos. Ninguém contesta o potencial econômico do país, mas foram tantas as frustrações na última década, em que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu, em média, 0,3% ao ano, que a desconfiança passou a imperar entre empresários e investidores. Dada à falta de previsibilidade do que se tem no horizonte, não serão palavras jogadas ao vento que trarão o conforto necessário para que, enfim, a população volte a desfrutar dos benefícios trazidos pelo crescimento da produção e do consumo.

Há questionamentos legítimos sobre os rumos das contas públicas, que estão no vermelho desde 2014. Não há como se pensar em estabilidade econômica com gastança desenfreada de recursos oriundos de impostos pesadíssimos. Descontrole nas despesas resulta sempre em inflação mais alta, prejudicando, sobretudo, a parcela mais vulnerável da sociedade. Nesse ambiente de descontrole de preços, não há programa social que tente amenizar o sofrimento daqueles que mal conseguem levar comida à mesa. O Brasil tem a obrigação de conciliar responsabilidade fiscal com responsabilidade social. Qualquer caminho diferente disso resultará em mais decepção e desesperança.

Finanças em dia também são preponderantes para que o país resgate a sua capacidade de investimentos. Foi justamente o descompromisso com a boa gestão dos recursos públicos que inviabilizou os desembolsos para as necessárias obras de infraestrutura. A capacidade de investimentos do governo federal hoje é inferior a 0,5% do PIB, insuficiente sequer para manter o que já está aí. Não por acaso estradas estão se desmanchando, elevando o risco à população e ampliando os custos de transportes num país que optou por se mover sobre quatro rodas. A teoria econômica mostra que uma rede de infraestrutura adequada e diversa eleva a competitividade da economia, com forte impacto no crescimento econômico.

Países responsáveis fiscalmente ampliam, ainda, o potencial de investimento na saúde e na educação, duas prioridades para a sociedade. O Brasil, num misto de descaso com despreparo de gestores, infelizmente se descuidou desses setores primordiais para o desenvolvimento em seu significado mais amplo. Na educação, jovens estão perdendo a chance de se prepararem para um futuro cada vez mais concorrido, em que uma boa formação é regra para se colocar no mercado de trabalho. É inadmissível que dos mais de 62 milhões de brasileiros que vivem na pobreza, 33% sejam jovens entre 15 e 29 anos. Sem estudo, vão perpetuando a miséria.

Na saúde, faltam verbas para medicamentos de uso contínuo nas redes públicas, não há mais planejamento para um amplo programa de vacinação, doenças que se imaginavam erradicadas voltaram, as filas de espera por consultas e cirurgias são longas e demoradas — muitos morrem antes de serem atendidos. É o quadro inverso do que se espera de uma nação em que a Carta Magna prega um Estado voltado para o bem-estar social. O Brasil não tem mais o direito de fechar os olhos para os anseios da sociedade.

Com tantos desafios pela frente, o Correio se propôs a reunir alguns dos maiores especialistas em contas públicas, infraestrutura, educação e saúde para um debate, em 15 de dezembro próximo. Certamente, as contribuições dadas pelos participantes serão de grande valia para o governo que tomará posse em 2023. O Brasil que queremos é um país de oportunidades para todos, com serviços públicos de qualidade independentemente da cor, do sexo e da opção política. Há uma longa caminhada a ser percorrida, e a direção está clara. Não se pode permitir que, mais uma vez, a opção seja por atalhos. Já se pagou um preço alto demais por escolhas erradas.

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