INTOLERÂNCIA E PRECONCEITO!

Dr. Paulo Lima*
Acordei meio melancólico, porém sereno, hoje de manhã. É que à noite havia assistido um documentário sobre a bossa nova, na TV Brasil, e pensava em escrever um artigo sobre este movimento musical que marcou os anos sessenta e que levou a nossa música a ser conhecida mundialmente desde então. É que há tempos não vejo os canais abertos de televisão, principalmente a Rede Globo, que nada tem a nos informar. No entanto, ao abrir os jornais me deparei com uma manchete que me fez mudar de idéia. Nela estava estampada na primeira página uma foto do presbítero Adauto Santos, que, não por coincidência, também é Deputado Estadual. A manchete estampava a seguinte frase: "Se eu fosse muçulmano pegaria uma espingarda e resolveria"!

Ainda bem que ele não é muçulmano; é apenas um pastor evangélico, que também exerce o cargo de representante do povo na Assembléia Legislativa de nosso Estado, e que, ao invés de pregar o amor - o primeiro ensinamento de Cristo - prega o preconceito e a intolerância contra uma classe que defende determinada opção sexual. Toda esta celeuma decorre das imagens que estão correndo o mundo virtual, onde, na chamada "Parada do Orgulho LGBT", em São Paulo, neste domingo, alguns ativistas estavam com trajes supostamente usados por Jesus Cristo, se beijando!

É certo, reconheçamos, que aquelas pessoas agrediram o sentimento religioso da maioria dos brasileiros, ao misturarem a imagem de Jesus Cristo, símbolo maior da religiosidade cristã, com o movimento por eles representados e merece a devida censura. Tentando chamar a atenção para uma questão social - a intolerância e o preconceito de que são vítimas - findaram por atrair a ira dos ditos representantes das seitas evangélicas e renegaram aquela que poderia ser uma grande aliada de sua causa, a Igreja Católica, vilipendiando, talvez involuntariamente, o símbolo maior da fé cristã, Jesus Cristo. Mas, será que realmente merecem ser fuziladas por tal ato, conforme fez insinuar o citado pastor evangélico? Penso que não.

O mais interessante é que o referido Deputado Estadual, numa de suas frases de efeito, certamente jogando para a platéia como costuma ocorrer e querendo ser manchete nos jornais, intuito que findou por alcançar, disse que iria se queixar ao Papa Francisco, mediante o encaminhamento das citadas fotos, vejam vocês! E desde quando o Papa Francisco é o representante dessas "seitas evangélicas"? Pelo que sei ele é o Chefe Supremo da Igreja Católica, a qual esses pastores evangélicos e os seus seguidores não devem nenhuma obediência. De mais a mais, creio que o nosso Papa Francisco já demonstrou com palavras e atos, que a maior mensagem a ser pregada pela Igreja Católica é justamente a tolerância, a compreensão e o amor; e não o ódio, o preconceito, ou a intolerância em qualquer de suas formas.

Cenas como essas, protagonizadas pelo referido Deputado Estadual é que devem, sim, ser repudiadas, talvez até em maior intensidade que aquelas protagonizadas pelo referido movimento LGBT, pois, além de partirem de um pretenso representante de uma camada religiosa, foram praticadas no seio da Casa do Povo de Pernambuco, por um seu representante. Lembremo-nos que a nossa Constituição Federal prega que o Estado Brasileiro não tem religião, justamente para que todas as pessoas, aqui nascidas ou residentes, sejam de que crença ou religião forem, possam conviver de forma pacífica e harmoniosamente. Do mesmo modo, a nossa Constituição garante a liberdade de expressão e de crença religiosa e, por isso mesmo, não se mostra razoável que um dito representante do povo pernambucano suba à Tribuna da Casa de Joaquim Nabuco para gritar o ódio ou o preconceito religioso, ou de caráter sexual, seja em qualquer de suas formas. Na verdade, cabe lembrar que nem mesmo a religião muçulmana prega o ódio; o Presbítero Adauto, sim.

Finalizo estas mal traçadas linhas, lembrando dos ensinamentos de Jesus Cristo, deixados para a humanidade, os quais por certo foram esquecidos por esse Deputado Estadual, que também se intitula presbítero: Cristo pregava, acima de tudo, o amor, a compreensão, e o perdão.

Um abraço a todos.

*PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife e advogado.

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