Um presente de Bolsonaro a Lula

Representação acrescentou à cerimônia a mensagem de união nacional que presidente quis marcar nos seus discursos

Por Merval Pereira
O GLOBO

Lula sobe a rampa do Palácio do Planalto 
Hermes de Paula/Infoglobo

Bolsonaro acabou proporcionando a Lula uma entrega de faixa com grande simbolismo, muito além da simples transmissão de cargo. A representação da diversidade brasileira acrescentou à cerimônia a mensagem de união nacional que Lula quis marcar nos seus discursos.

Apesar da referência permanente à unidade, tendo ressaltado várias vezes que a disputa eleitoral acabou, e que não existem dois países, Lula não contemporizou com Bolsonaro, embora não o tenha citado nenhuma vez pelo nome. Chamou de “genocídio” a morte de quase 700 mil brasileiros durante a pandemia de Covid-19 e prometeu punição severa para o responsável, leia-se Bolsonaro. Diante de tal prognóstico sombrio, e também depois do pronunciamento do ex-vice-presidente Hamilton Mourão, que o acusou, também sem citar, de, com seu silêncio, ter levado o país ao caos e as Forças Armadas a levarem a culpa, Bolsonaro deve ampliar sua permanência na Disney. O povo na praça gritando “sem anistia” completa o quadro sombrio.

O Lula de 2023 está mais preocupado com o combate à desigualdade do que com questões ideológicas, se bem que exista quem considere esse um discurso esquerdista. De fato, no entanto, esse é talvez nosso principal problema para termos uma sociedade menos esgarçada. Quando o presidente, no entanto, joga os ricos contra os pobres, num discurso emocionado, mas meramente populista, não aborda o tema de maneira a superá-lo.

O empenho de Lula em alcançar uma sociedade menos desigual, que deveria ser de todos, não pode prescindir do apoio dos mais ricos, que têm a obrigação de colaborar. O presidente não citou entre os ministérios mais importantes o da Fazenda e outros da área, mas os ministérios sociais. Reflete sua preocupação com uma sociedade mais representada nos diversos segmentos. Mas, para isso, ele não poupa os dividendos das estatais, especialmente da Petrobras, e retoma, em largas pinceladas, a política de estímulo à indústria naval, indústria de tecnologia, através do BNDES.

Na sua versão, o país começou a declinar com o que chama de golpe em Dilma Rousseff, quando, na verdade, declinou por causa dos erros do governo Dilma. Lula, em seus vários discursos, procurou dar mais recados para os seus, por isso às vezes subiu o tom contra “as elites”. Mas não deu a necessária ênfase ao combate à desigualdade através da criação de empregos, não apenas colocando os pobres no orçamento.

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