A IMPRENSA GOLPISTA

Dr. Paulo Lima*

Um dos valores indispensáveis a qualquer criatura é a sua liberdade. Este valor ganha suprema relevância quando se trata da pessoa humana, cujo supremo bem está alçado a direito fundamental, consagrado constitucionalmente em vários dispositivos constantes do artigo 5º da atual Constituição Federal. Como exemplo, temos a liberdade de ir e vir (inciso II), de livre manifestação do pensamento (inciso IV), de crença e manifestação religiosa (inciso VI) e, claro, a liberdade de imprensa ( inciso IX), tão necessária à existência de um estado democrático de direito com a água em nossas vidas. Portanto, nada mais repugnante do que uma imprensa tendenciosa, porque se tenta tirar da pessoa outro bem fundamental, que é justamente o direito à verdade, mediante uma informação séria. Dito isto, vamos aos fatos.

Pois bem, faz algum tempo que deixei de ler a revista “Veja”, em razão de ter se transformado num lixo ideológico da direita. Não apenas por isso, uma vez que uma revista que deixa de lado a sua vocação, que é de trazer aos leitores a informação com total e absoluta isenção, seja de linha política de direita ou de esquerda, não merece outro termo para designá-la. E muito embora não tivéssemos mais assinatura dessa revista, a mesma passou alguns meses após o encerramento do contrato, sendo encaminhada como “cortesia” e todas as vezes que chegava tinha destino certo: o lixo. O mesmo está acontecendo com outra revista do mesmo gênero: a “Istoé”.

Já não temos assinatura desta revista há algum tempo, mas mesmo assim insiste-se em nos enviar a mesma, semanalmente, como se assinantes fôssemos. Acontece, que, por conta a censura imposta pela Justiça do Ceará, semana que passou, proibindo a circulação da “Istoé” em razão de reportagem publicada na semana atrasada, relacionando o governador daquele Estado ao famigerado Paulo Roberto Costa, envolvido até o pescoço juntamente com um punhado de políticos e empresários no escândalo da PETROBRAS, e diante da reprise da reportagem pela revista, resolvi dar uma lida. Entretanto, logo que li as primeiras páginas não tive dúvidas do destino que a mesma deveria tomar, ou seja, a lata do lixo! Revista mais tendenciosa e descompromissada com a verdade dos fatos, acredito que somente a “Veja”! É uma pena, diriam vocês, minha meia dúzia de fieis e pacientes leitores, que, assim como eu gostam de uma boa leitura. E concordo inteiramente, já que não deveria ser assim, em razão deste bem tão precioso, que é a informação, aliado ao prazer de uma boa leitura.

O que me deixa mais injuriado, no entanto, é o fato de continuar recebendo publicações desta natureza, mesmo contra a minha vontade, o que finda por se tornar uma violação ao meu direito de escolha, posto que não sou mais assinante dessa revista. Talvez esteja sendo um pouco radical e reconheço que sim, mas, convenhamos, a informação distorcida dos fatos, além de ser uma violência ao direito natural à informação constitui uma séria ameaça à democracia. 

Querem ver um exemplo? Em 1989, véspera das eleições presidenciais, a “Rede Globo” apresentou duas matérias acerca do segundo debate ocorrido entre os candidatos Fernando Collor e Lula, no dia anterior, absolutamente tendenciosa, pinçando trechos, findando o apresentador “Cid Moreira”, com a maior “cara de pau” do mundo, por insinuar que o candidato Collor teria vencido o debate e seria um candidato bem mais preparado do que Lula, para governar o Brasil. Lula perdeu essa eleição e o resto da estória vocês conhecem: o Brasil conheceu o governo Collor, de triste memória e o político sequer terminou o seu mandato, em razão da sua contaminação por uma corrupção jamais vista. Somente muitos nos após Lula conseguiu ser eleito, apesar da “Rede Globo” e da grande imprensa golpista e se tornou o melhor presidente após a redemocratização do nosso País, isto no meu entendimento.

É por essas e outras que entendo que nós, como cidadãos, até temos o direito de emitir a nossa opinião e dar publicidade à mesma da maneira que melhor nos aprouver; entretanto, quando se trata de informação, penso que a primazia pela verdade é um imperativo inafastável, e é tão ou mais importante do que a própria liberdade de imprensa, como pressuposto essencial num regime democrático.

Um abraço a todos.

*PAULO ROBERTO DE LIMA é graduado em Filosofia pela Universidade Católica, bacharel em Direito pela Faculdade de Direito do Recife e atualmente exerce o cargo de Procurador Federal.

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