Dólar fecha em queda e Bolsa tem forte alta com guerra de tarifas de pano de fundo

Mercado pesou taxação de 125% da China sobre os EUA, mas apetite por risco prevaleceu

Folha de São Paulo
São Paulo

dólar caiu 0,49% nesta sexta-feira (11) e encerrou a semana cotado a R$ 5,868, tendo a guerra de tarifas entre China Estados Unidos de pano de fundo.

O país asiático anunciou taxas de 125% a produtos norte-americanos, em nova retaliação aos encargos do presidente Donald Trump. O governo republicano, no entanto, acenou para a possibilidade de um acordo com os chineses, o que aumentou o apetite por risco entre os investidores.

A proximidade de um final de semana que deve guardar mais desdobramentos da guerra comercial também guiou as decisões, e operadores se aproveitaram para realizar lucros e ajustar posições de investimento. O movimento se traduziu, sobretudo, na performance de índices acionários —mercado duramente baqueado pelo tarifaço desde a última semana.

No Brasil, a Bolsa teve forte alta de 1,05%, a 127.682 pontos. Em Wall Street, o S&P500 subiu 1,86%, e Nasdaq Composite e Dow Jones avançaram 2,06% e 1,56%, respectivamente.

A imagem mostra várias notas de um dólar americano, com o retrato de George Washington visível. As notas estão dispostas de forma a criar um efeito de profundidade, com algumas em foco e outras desfocadas ao fundo. O detalhe das notas é claramente visível, incluindo a inscrição 'ONE DOLLAR'.
Na quinta (10), o dólar fechou em forte alta de 0,91%, cotado a R$ 5,897, e a Bolsa caiu 1,12%, a 126.354 pontos - Dado Ruvic/Reuters

"A represália chinesa impulsiona também ativos vistos como de refúgio. O ouro está com 6% de alta semanal, e o iene japonês acumula valorização de 2,82% até este presente momento", comenta Márcio Riauba, chefe da mesa de operações da Stonex Banco de Câmbio.

O Ministério das Finanças chinês anunciou que vai aumentar as tarifas sobre produtos dos Estados Unidos de 84% para 125%, em uma nova escalada da disputa comercial entre os dois países. A taxa entrará em vigor no sábado (12).

O porta-voz do ministério, em declaração publicada no site do órgão, afirmou: "Diante do fato de que, no atual nível de tarifas, não há possibilidade de aceitação pelo mercado de produtos dos EUA exportados para a China, se o lado americano continuar a impor tarifas sobre produtos da China, o lado chinês vai ignorá-las".

Já o líder chinês, Xi Jinping, disse, na Casa de Hóspedes Diaoyutai, que "não há vencedor numa guerra de tarifas, e ir contra o mundo levará ao isolamento".

A medida responde às tarifas de 145% impostas pela Casa Branca a Pequim. As duas maiores economias do mundo estão em cabo de guerra desde quarta-feira da semana passada, 2 de abril, quando Trump tornou o tarifaço público. Inicialmente, a China seria taxada em 34%, além do piso básico de 10% para todas as importações que chegam aos EUA e de outras tarifas impostas ao país asiático ao longo dos últimos três meses.

A China, em resposta, replicou com tarifas da mesma magnitude. Trump, então, subiu a régua para 50% caso a retaliação não fosse suspensa, levando o montante total a 104%. Pequim não recuou. Pelo contrário: aumentou as taxas sobre os EUA para 84%, o que culminou em encargos de 145% por parte do governo norte-americano.

Em aceno a uma possível trégua, a secretária de imprensa a Casa Branca, Karoline Leavitt, disse nesta sexta que Trump está otimista sobre a possibilidade de chegar a um acordo comercial com os chineses.

"O presidente deixou bem claro que está aberto a um acordo com a China. Se a China continuar retaliando, isso não será bom para ela", disse.

Na visão de Henrique Lenzi, operador de renda variável da Manchester Investimentos, a sinalização trouxe um "certo alívio para o mercado, tendo em vista a dimensão que as tarifas tomaram".

"Por mais que ele não tenha voltado atrás em relação às taxas sobre a China, esse aceno traz um pouco mais de tranquilidade."

Os EUA, além disso, suspenderam na quarta parte da aplicação das tarifas recíprocas a alguns parceiros comerciais por 90 dias, adotando uma taxa básica de 10% a todas as importações durante o período de negociações.

A medida não se estendeu à China, e a escalada de tarifas impôs cautela nas negociações globais ao longo da semana. O temor é que a disputa tarifária afete profundamente o comércio internacional pela diminuição de fluxos e encarecimento de produtos-chave nas cadeias de abastecimento. Segundo a diretora-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), Ngozi Okonjo-Iweala, a guerra de tarifas pode diminuir o comércio entre China e Estados Unidos em até 80%, resultando em uma queda de 7% no PIB global.

A consequência desse movimento também pode ser de uma recessão nos Estados Unidos. O choque tarifário pode aumentar a inflação em meio à desaceleração da atividade, cenário desenhado por especialistas como de uma "estagflação", isto é, quando os preços sobem e a economia fica estagnada.

Segundo análises do banco JPMorgan, o tarifaço elevou os riscos de uma recessão global e dos Estados Unidos de 40% para 60% em apenas uma semana.

A escalada entre chineses e norte-americanos também respinga no Brasil dada a exposição do país a commodities, cujo maior mercado consumidor é a China. Com a visão de uma economia prejudicada pela escalada tarifária, a expectativa é que Pequim consuma menos matérias-primas, especialmente petróleo e minério de ferro, dois grandes componentes da balança comercial brasileira.

Por aqui, divulgações macroeconômicas também pautam as negociações. O IBC-Br, considerado uma "prévia do PIB", mostrou que a atividade cresceu mais do que o esperado em fevereiro com impulso do setor agropecuário, mesmo em meio ao ciclo de aperto de juros e às expectativas de desaceleração da economia.

O índice subiu 0,4% em fevereiro, segundo o BC (Banco Central), e 4,1% na base anual. A expectativa do mercado era de 0,3% e 3,6%, respectivamente.

Já o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) informou que a inflação de março desacelerou em linha com o esperado em relação ao mês anterior.

O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) subiu 0,56% na base mensal. Em fevereiro, o índice havia saltado para 1,31%. Esta é a maior leitura para um mês de março desde 2023, quando índice subiu 0,71%

A inflação agora está no patamar de 5,48% na base anual.

Com informações da Reuters

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