Paulo Guedes lamenta que, diferente dos ricos, "pobre não poupa dinheiro no Brasil"

Pragmatismo Político

Pobre não poupa, diz ministro do país onde trabalhador não ganha nem um salário mínimo. Paulo Guedes lamenta que só ricos saibam capitalizar recursos e pobres "consumam tudo". Apesar disso, ele garante que as "coisas estão andando"

Paulo Guedes (Wilson Dias/Agência Brasil)

“Um menino, desde cedo, sabe que ele é um ser de responsabilidade quando tem de poupar. Os ricos capitalizam seus recursos. Os pobres consomem tudo”, disse o ministro da Economia, Paulo Guedes, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo publicada na edição de domingo (3).

Guedes é ministro em um país onde 16 milhões de famílias ganham em média R$ 1.232,17 (R$ 411 por pessoa) e 13 milhões, R$ 2.332,98 (R$ 778), segundo dados do IBGE. Para metade da população brasileira, é preciso sobreviver com o equivalente a menos da metade de um salário mínimo.

A repórter que entrevistava Guedes até tentou argumentar, perguntando se uma pessoa pobre consegue guardar dinheiro. “Ele já guarda e não sabe. O FGTS é um dinheiro que tiram dele e fica depositado”, respondeu o ministro, para então ser lembrado que a maioria dessas pessoas não tem emprego formal. Nem assim ele se deu por vencido: “Mas terão com mudanças que teremos pela frente. O que precisa ficar claro é que as coisas estão andando”.

Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE, em 2018 o rendimento total das famílias foi, em média, de R$ 5.088,70, incluindo rendimento do trabalho, transferências de renda e outras fontes de renda, ou algo em torno de quase R$ 1.700 por pessoa. Mas a diferença vai dos R$ 411 já citados a R$ 11.423 na última faixa.

Além disso, quase um quarto das despesas das famílias mais pobres (23,8%) se destina ao básico: alimentação. No caso da faixa de renda mais abonada, esse gasto cai para 11%. De acordo com o instituto, famílias que ganham o equivalente a dois mínimos gastam 61% com alimentação e transporte.

O ministro entusiasta do modelo chileno de capitalização também não pode usar o mercado de trabalho como argumentação: a informalidade está em nível recorde.

O número de empregados sem carteira assinada cresceu em 384 mil em 12 meses e chegou a 11,8 milhões em setembro, recorde na série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, também do IBGE. E os trabalhadores por conta própria somam 24,4 milhões, outro recorde – são 1 milhão a mais em 12 meses.

Mais um dado do instituto vai contra a crença de Guedes na capacidade de poupança do brasileiro. Em 2018, o rendimento médio mensal do trabalho da população 1% mais rica correspondeu a quase 34 vezes o recebido pela metade mais pobre. Enquanto no primeiro caso a renda foi de R$ 27.744, no segundo o valor era de R$ 820. Novamente, menos de um salário mínimo.

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