Gigantes globais estendem ao Brasil boicote a anúncios no Facebook

Protesto contra veiculação de conteúdos racistas e notícias falsas pela rede social já angariou mais de 400 empresas nos EUA; Coca-Cola, Heineken, Volkswagen e Microsoft ampliaram retirada de publicidade da plataforma a outras nações

Por Fernando Scheller - O Estado de S. Paulo

Conteúdo. Facebook, de Zuckerberg: eliminar discurso de ódio é achar ‘agulha no palheiro’

Leia mais
O boicote de anunciantes às plataformas do Facebook começou ontem nos Estados Unidos, mas não se restringe à maior economia do mundo. Gigantes globais estenderam a suspensão da veiculação de anúncios no Facebook e no Instagram em outros países, incluindo o Brasil – entre elas Coca-Cola, Heineken, Microsoft, Beiersdorf e Volkswagen. Marcas brasileiras, por enquanto, monitoram a situação e começam a se movimentar para entender se vale ou não a pena fazer parte desse movimento.

Incentivado pela organização não governamental Stop Hate for Profit, o protesto se concentra principalmente nas mensagens de ódio racial propagadas na rede social, mas também abrange questionamentos sobre como a empresa lida com informações de origem duvidosa ou notícias falsas. O boicote começou a se desenhar nas últimas semanas e conseguiu angariar mais de 400 marcas, entre negócios de diversos portes. A suspensão começou ontem e deve se estender por julho.

Apesar de o movimento ter se originado nos Estados Unidos, boa parte das multinacionais que se juntaram ao boicote ao Facebook decidiram estender a decisão para outros mercados, incluindo o Brasil. 

A reportagem do Estadão entrou em contato com diferentes marcas globais ontem. Entre as que responderam à reportagem, cinco também bloquearam anúncios no Brasil – Microsoft, Volkswagen, Coca-Cola, Beiersdorf (dona da Nivea) e Heineken –, enquanto a Unilever restringiu a decisão ao território americano.

Entre as marcas brasileiras, a posição ainda é de “esperar para ver”. Algumas empresas consultadas disseram que o boicote se restringe a problemas concentrados nos Estados Unidos, ainda que a disseminação de discurso de ódio associado a notícias falsas em redes sociais no Brasil seja até alvo de uma investigação pelo Supremo Tribunal Federal (STF). 

Entre as empresas que estão acompanhando a situação estão o Magazine Luiza e a Natura. A Natura, apurou o Estadão, vai realizar nos próximos dias reunião envolvendo a alta diretoria para tomar uma decisão relacionada à veiculação de anúncios no Facebook. A Vivo e a Via Varejo não comentaram o caso. As demais empresas procuradas – Itaú, Bradesco, Grupo Boticário e Renner – não responderam aos contatos.

Segundo fontes do mercado publicitário, ainda que o movimento dos grandes anunciantes seja importante para chamar a atenção para a falta de curadoria de conteúdo do Facebook, a maior parte da arrecadação das plataformas está concentrada em pequenos negócios. A estimativa é que cerca de 75% dos anúncios online sejam feitos por empresas de pequeno e médio porte. 

Embora o Facebook tenha ferramentas para evitar que anúncios sejam direcionados para certos temas, o modelo atual não consegue garantir de que o cliente vá ficar 100% livre de se associar a conteúdos indesejáveis. De acordo com Márcio Jorge, sócio e diretor de inteligência da Zahg, empresa especializada em publicidade digital, os algoritmos estão treinados para eliminar conteúdos de cunho sexual ou violento, por exemplo, mas não para analisar o detalhe dos posts para detectar fake news. “As plataformas não têm uma solução construída para enfrentar esse problema”, explica Jorge.

Eliminar discurso de ódio é como 'eliminar agulha no palheiro', diz rede

Ontem, o Facebook se pronunciou por meio de um artigo escrito por Nick Clegg, vice-presidente de assuntos globais e comunicações da companhia, na revista AdAge. No texto, o executivo afirmou que eliminar completamente discursos de ódio na plataforma é como “encontrar uma agulha em um palheiro” devido ao volume de conteúdo postado. “Tolerância zero não significa zero incidência.” 

Ele defendeu práticas do Facebook, como a contratação de profissionais dedicados à segurança dos serviços – seriam 35 mil pessoas. Disse também que a empresa investe bilhões na área, incluindo o desenvolvimento de ferramentas de inteligência artificial.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Em novo caso de nudez, corredora sai pelada em Porto Alegre

Multinacional portuguesa Politejo vai instalar nova fábrica em Pernambuco

Foragido que fez cirurgia e mudou de identidade é preso comprando casa na praia