Candidato de Lira consegue apoio do PL de Bolsonaro após adesão do PT de Lula

Líder da bancada do Republicanos na Câmara, Deputado Hugo Motta (centro) foi formalizado como candidato à presidência da Câmara. - Pedro Ladeira - 28.out.2024/Folhapress

Hugo Motta consegue aval do Planalto e une bancada petista, sigla de ex-presidente e MDB

Folha de São Paulo
Brasília

O deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), indicado de Arthur Lira (PP-AL) para sucedê-lo na presidência da Câmara, ampliou apoios na disputa e conseguiu unir o PT de Lula e o PL de Bolsonaro em torno de sua candidatura, assim como o MDB.

"O PL vai apoiar o deputado Hugo Motta. Formou uma comissão de alguns deputados, que vai levar algumas reivindicações de pautas importantes", disse à Folha na noite desta quarta-feira (30) o líder do partido, Altineu Côrtes (RJ). "Mas já temos a maioria e o apoio a Hugo Motta está decidido."

A bancada do PT na Câmara se reuniu com Hugo nesta quarta e, após a bênção de Lula, também havia fechado o apoio, apesar do incômodo de uma ala do partido com a decisão de Lira de criar uma comissão especial para debater o projeto de lei que concede anistia aos condenados pelos ataques golpistas do 8 de janeiro de 2023.

Após falar com a Folha, o líder do PL oficializou a adesão ao lado de Hugo, na porta do PT, e disse que não havia anunciado antes porque não tinha reunido as assinaturas. Sobre o PL da Anistia pelo 8/1, ressaltou que o tema não está em pauta na sucessão.

O projeto seria votado na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e, com a comissão especial criada por Lira, teve sua tramitação interrompida. A continuidade depende agora de o presidente da Casa instalá-la.

Integrantes do PT queriam o compromisso de que Hugo não pautaria a anistia se eleito, o que não deve ocorrer. O parlamentar defendeu a criação da comissão especial para debater o tema. O PL, por sua vez, procura o oposto.

Do lado do PT, há expectativa de que o debate não avance mesmo com a criação da comissão. Além disso, Lira teria se comprometido, segundo relatos, a buscar uma solução antes da posse de Hugo. Avalista do acordo, Lira deverá articular a redação de um projeto alternativo ainda durante seu mandato.

Outros temas também entraram no acordo entre Hugo e a bancada do PT. Os pontos levados ao candidato são regulamentação das redes, governabilidade e respeito à proporcionalidade do tamanho das bancadas na distribuição de cargos e comissões. O rito para tramitação de medidas provisórias e reforma progressiva da renda estão em pauta.

A eleição para o comando da Câmara ocorre em fevereiro. Também são candidatos os deputados Elmar Nascimento (União Brasil-BA) e Antonio Brito (PSD-BA), líderes de partidos com ministros no governo Lula.

Lira oficializou o apoio a Hugo na manhã de terça. Horas depois, o PP, partido do atual presidente da Casa, anunciou o mesmo. O candidato também recebeu a chancela do Podemos na tarde desta quarta.

A definição do PT e do governo Lula tem sido vista como essencial para o objetivo de Lira de garantir um nome de maior consenso. O nome de Hugo foi aprovado pela bancada do PT por aclamação.

Lula recebeu nesta quarta a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), o líder do governo José Guimarães (PT-CE), e o líder da bancada na Câmara, Odair Cunha (MG), para traçar estratégias sobre o anúncio do apoio e evitar ruídos com a base aliada.

O nome de Hugo não sofre objeções de Lula e, segundo relatos feitos à reportagem, o presidente afirmou que a decisão era da bancada do partido e que ele não iria se envolver. Nesse sentido, delegou a decisão aos próprios deputados.

Desde o começo das negociações, o presidente da República tem ressaltado que não quer enfrentar Lira no processo e que é preciso evitar disputas na base do governo no Congresso.

Segundo integrantes do partido, a opção por Hugo já contava com maioria na bancada petista antes da conversa com Lula. Um deputado projetava que o candidato tinha dois terços da bancada (formada por 68 deputados).

Além da questão da anistia, há parlamentares petistas insatisfeitos com Hugo por causa da sua relação com o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e o presidente do PP, Ciro Nogueira.

O movimento do PT ocorreu num momento em que outras siglas se uniram à candidatura do indicado de Lira. O MDB também seguiu o mesmo caminho e anunciou apoio nesta quarta. No União Brasil, de Elmar Nascimento, há um forte movimento a favor de Hugo.

Um petista diz que, diante do avanço dessas conversas, o partido não poderia ficar excluído do processo sob pena de perder espaço na composição da Mesa Diretora e nas comissões temáticas. É esperada a adesão de PV e PC do B, partidos que compõem uma federação com o PT.

Em 2025, a Câmara dos Deputados vai escolher seu novo presidente 
Geraldo Magela - 19.dez.23/Agência Senado

Um dirigente do PT afirma que a comissão sobre a anistia vai para as calendas, a exemplo do que aconteceu com a comissão que discutiria uma nova proposta do projeto das Fake News. Outro integrante do PT lembra que o projeto de anistia não inclui a elegibilidade de Bolsonaro —o ex-presidente elogiou atitude de Lira de levar o tema para comissão especial.

Apesar da resistência de uma ala do PT à decisão de Lira sobre a anistia, integrantes da cúpula do partido viram na criação de uma comissão para debater a proposta um acordo possível e uma janela para negociação com Hugo.

Na mesma negociação entrou a votação da reforma tributária, que teve um segundo projeto de regulamentação pautado por Lira e aprovado no plenário da Câmara nesta quarta. Hugo se reuniu com integrantes do PT enquanto Lira conduzia a votação.

Em conversas com articuladores do governo, Lula pede esforço para que a sucessão não afete propostas de interesse do Executivo, em especial a conclusão da regulamentação da reforma tributária.

Em busca de apoio sobretudo de Lula e do PT, Elmar fez duras críticas após Lira anunciar a indicação de Hugo. Ele disse que Lira agora prega que a Câmara deve ser a Casa do consenso mas atuou como "líder do governo Bolsonaro" em seu primeiro mandato.

"Vocês assistiram o primeiro mandato do presidente Arthur Lira. Ele diz que é tão a favor da convergência, que ele foi presidente da Câmara e líder do governo Bolsonaro ao mesmo tempo, modificando inclusive o regimento para tirar a capacidade de obstruir da Câmara. Não pode agora dizer que essa Casa tem que ser a Casa do consenso. Não o consenso artificial. A gente quer trazer o consenso verdadeiro", afirmou na quarta.

O deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB) ao lado do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL); ele recebeu o apoio de L Gabriela Biló - 29.out.24/Folhapress

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Em novo caso de nudez, corredora sai pelada em Porto Alegre

Multinacional portuguesa Politejo vai instalar nova fábrica em Pernambuco

Foragido que fez cirurgia e mudou de identidade é preso comprando casa na praia