Eleitores de Roraima esperam compra de votos na madrugada

 
Loide Gomes - Especial para O Estado de S. Paulo

Crime já se tornou uma espécie de "tradição" em Boa Vista, capital roraimense; TRE vai reforçar segurança para inibir prática

Boa Vista - Desde quinta-feira, 2, eleitores da periferia de Boa Vista (RR) passam a noite e parte da madrugada em claro, em frente a suas casas, esperando candidatos endinheirados dispostos a comprar votos. A prática criminosa já se tornou uma espécie de "tradição" na capital roraimense. Na eleição de 2010, o Estado foi o campeão na compra de votos em todo pais. Em 2004, o então governador Flamarion Portela foi cassado por captação ilícita de votos.

Os vizinhos das ruas afastadas se reúnem e levam cadeiras para as esquinas mais movimentadas. Alguns aproveitam para tomar cerveja enquanto esperam. Há muitos jovens que vão votar pela primeira vez neste domingo, crianças e até bebês de colo.

Todos os cargos são negociáveis, mesmo nas casas onde há placas de outros candidatos. O pagamento tem de ser em dinheiro vivo. Cem reais é o valor mínimo. Como prova da "fidelidade", oferecem o título de eleitor para que os aliciadores contabilizem os votos nas urnas.

"O voto é uma troca. A gente tem que ganhar alguma coisa pra poder votar", justifica uma inspetora de alunos de 34 anos, que mora no município de Rorainópolis, a 294 quilômetros de Boa Vista.

Ela e cinco amigos do interior abordaram a reportagem à meia-noite, no bairro Raiar do Sol. O grupo vota na capital "onde os políticos são mais generosos". Queriam dinheiro para a gasolina das três motocicletas e para alimentação durante a estada em Boa Vista.

Na rua CC5, do Conjunto Cidadão, seis rapazes e moças faziam plantão na madrugada deste sábado. A maioria não tem emprego e uma das meninas está grávida. "Preciso de dinheiro para o enxoval", disse.

O procurador eleitoral Igor Miranda garante que o Ministério Público Federal e a Polícia Federal estão empenhados em combater o crime. Há equipes à paisana e em veículos descaracterizados fazendo rondas na madrugada. Na noite de quarta-feira, 2, eles estouraram uma reunião onde se fazia boca de urna com 150 eleitores. Uma pessoa foi presa.

Segundo Miranda, a compra de votos já é um crime organizado. Há os responsáveis pelos saques nos bancos, pelo transporte e os aliciadores que fazem a lista dos eleitores. Nos locais de pagamento, os criminosos monitoram a presença de veículos suspeitos, de pessoas diferentes. O dinheiro chega de forma fracionada. Eles ainda se beneficiam da limitação física e de pessoal dos órgãos fiscalizadores. "Infelizmente, nem todos os casos serão apurados", lamenta o procurador.

"A população precisa entender que R$ 100 podem até fazer diferença no orçamento familiar na hora do voto, mas tem alto custo durante quatro anos, com a ausência de serviços públicos essenciais. Quem compra voto, não tem compromisso com o eleitor", afirma.

O Tribunal Regional Eleitoral de Roraima (TRE-RR) informa que o esquema de segurança recebeu reforço. São 1.150 policiais militares, 850 homens da Polícia Civil, 106 da Polícia Federal e 84 da Polícia Rodoviária Federal. O Estado tem o menor colégio eleitoral do país, com 299.558 eleitores.

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