Lula: contribuição dos países ricos com meio ambiente não é favor, mas dívida com o planeta

Presidente enfatiza sucesso da Cúpula da Amazônia e destaca posição unificada de países da região para garantir recursos para preservação e redução das desigualdades

Para o presidente, o encontro foi excepcional. "Nunca se discutiu a Amazônia com a força da sociedade como dessa vez". Foto: Ricardo Stuckert / PR

Na décima edição do programa semanal Conversa com o Presidente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma avaliação positiva da Cúpula da Amazônia, destacou a importância da participação social para definição das políticas públicas e disse que os países amazônicos continuarão conversando para afinar as propostas que levarão aos países ricos na COP-28, nos Emirados Árabes, em dezembro.

A gente não quer que cada presidente abra mão daquilo que é sua convicção. A gente vai construindo aquilo que é possível, o que dá para cada um fazer. Foi um encontro histórico. Quando chegar nos Emirados Árabes, no fim do ano, a gente vai ter, pela primeira vez, todos os países com florestas pensando a mesma coisa e exigindo a mesma coisa”. (Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República).

"O encontro foi uma coisa excepcional. Nunca se discutiu a Amazônia com a força da sociedade como se discutiu dessa vez", disse, lembrando que o encontro resultou em um documento comum, com voz dos países e de 30 mil pessoas que participaram dos Diálogos Amazônicos, evento que antecedeu a Cúpula.

O encontro cumpriu o objetivo de preparar o documento comum dos países amazônicos - Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Guiana, Suriname e Venezuela e teve também entendimento com outros países detentores de florestas tropicais - República do Congo e República Democrática do Congo e Indonésia - sobre o papel do mundo no esforço de preservação e manutenção das florestas em pé.

“A gente não quer que cada presidente abra mão daquilo que é sua convicção, daquilo que acredita. Coloca na mesa e vamos debater e dentre as divergências a gente vai construindo aquilo que é possível, aquilo que dá para cada um fazer. Foi um encontro histórico. Vai render daqui para frente, porque quando chegar nos Emirados Árabes, no fim do ano, a gente vai ter, pela primeira vez, todos os países com florestas pensando a mesma coisa e exigindo a mesma coisa. Vai ser muito forte o encontro”.

Segundo Lula, todo mundo fala e dá palpite sobre a Amazônia, mas é a primeira vez que a Amazônia e seu povo falam para o mundo. "Por isso vamos levar esse documento. Vamos ter algumas reuniões até chegar aos Emirados Árabes e vamos, pela primeira vez, discutir com mais seriedade a contribuição de países ricos para a preservação da floresta".

RESPONSABILIDADE - Mais uma vez, o presidente brasileiro disse que os países ricos precisam assumir a responsabilidade que tiveram no processo de destruição do planeta, em seus modelos de desenvolvimento, e contribuir financeiramente para que outros países possam se desenvolver preservando suas florestas.

“Nós temos condições de chegar ao mundo, lá nos Emirados Árabes, e dizer o seguinte: ‘Olha, a situação é essa, queremos essa contribuição de vocês e isso não é favor. Isso é o pagamento de uma dívida que vocês têm com o planeta Terra, porque vocês derrubaram as florestas de vocês 100 anos antes de nós, ou 150 anos. Então, vocês paguem para que a gente possa preservar a nossa floresta, gerando emprego, gerando oportunidade de trabalho, e gerando condições de melhorar a vida das pessoas”, ponderou o presidente brasileiro.

“É isso que o Congo quer, que o Brasil quer, que a Bolívia quer, que o Equador quer, que a Guiana quer, é isso que quer a Colômbia, que quer o Peru, a Venezuela. É simples: façam as contas e vamos ver quanto é que vocês têm que colocar na mesa para a gente poder continuar preservando as nossas florestas”.

ALÉM DA COPA - Segundo o presidente, não basta enxergar a floresta e ver apenas a copa das árvores pelas imagens de satélite, mas é preciso olhar para as 50 milhões de pessoas que vivem nos países amazônicos, sendo 30 milhões apenas no Brasil. Se o povo não estiver na linha de frente das preocupações, não vai ter o resultado que a gente espera.

"Pessoas que moram e precisam viver com dignidade, ter emprego, ter educação, ter saúde. As pessoas querem viver bem. Então, temos que cuidar da Amazônia como um todo, preservar nossas águas e ao mesmo tempo cuidar do povo que mora lá".

Lula reafirmou o compromisso brasileiro de zerar o desmatamento na Amazônia até 2030 e disse que contará com apoio dos prefeitos da região para atingir a meta. Desmatamento zero na Amazônia não é obra de ficção, mas uma perseguição a se fazer.

AGENDAS - Na conversa semanal com Marcos Uchôa, que normalmente ocorre às terças, mas foi antecipada por causa de sua viagem ao Paraguai para a posse do presidente Santiago Peña, Lula contou de suas próximas agendas internacionais.

Na próxima semana, ele participará do encontro dos Brics na África do Sul e visitará outros países do continente. Na sequência, terá Assembleia da ONU em Nova Iorque e encontro do G-20 na Índia.

Segundo ele, os Brics discutirão a questão climática à qual todos no mundo estão sensíveis por ver suas consequências com eventos extremos da natureza. "Se temos chance agora de parar e melhorar, retroceder e recuperar a temperatura normal do planeta, vamos fazer".

O presidente falou que  encontro com os demais países servirá também para discutir os problemas econômicos, as desigualdades sociais e a paz. Segundo ele, os mais de dois trilhões de dólares gastos na guerra no ano poderiam ser destinados para gerar emprego, plantar produtos agrícolas e matar a fome de 700 milhões de pessoas no mundo. "O mundo não suporta guerra. É uma coisa insensata, desumana. O Brasil tem que manter sua posição de não ter contencioso com ninguém", disse.

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